Que a terceira temporada de GLEE está linda de se ver, eu nem vou comentar. O que quero dizer é que o que fizeram Shake it Out da Florence, foi de enlouquecer de tão lindo e bem colocado.
Fran Drescher alegrou muito meus dias com sua voz anasalada e eis que bem na linha não tenho vida pessoal porque virei um personagem de mim mesma, lança sua nova série, chamada Happily Divorced.
Nela, Fran conta a história dela mesma (Fran) que acaba de descobrir que o marido é gay. A diferença é que na série o marido continua morando na mesma casa por conta de problemas financeiros.
Acho muito difícil que o humor meio quadrado da atriz permita alguma renovação ao gênero, mas vale a pena conferir, sobretudo porque o marido será feito pelo sempre hilário e charmoso John Michael Higgins.
E o marido de verdade? Alguém perguntou o que ele está achando disso?
Sarah Sheeva estava agora há pouco na Gabi dando uma entrevista. E é aquela coisa, não tem criatura mais Fake. Qualquer fala, qualquer gesto, foi milimetricamente pensado para fazer parte da oratória eloquente típica dos que lidam com as emoções do grande público. Em toda a entrevista, só vi uma Gabi exausta, farta de tantas respostas prontas, até desistir de arrancar qualquer declaração realmente pessoal da criatura. Sarah não se saiu bem nas perguntas sobre dinheiro e continuou com o péssimo hábito de não ouvir e não interagir, só falar.
Curioso sobre os tempos de SNZ e da época em que ela cantava a música "secular", fui ver no You Tube e olha quem era a figurinista das bocudas:
A interação entre o Vale a Pena Ver de Novo e o Canal Viva lembra muito aquela dinâmica muito discutida entre obras literárias que foram transportadas para o cinema. O Canal Viva seria a obra sendo transmitida em sua totalidade – como a obra literária – cheia de descrições e detalhes. Já o Vale a Pena Ver de Novo é o resumo. A adaptação forçada, que impõe o corte em nome da condensação.
Mulheres de Areia , em reprise no Vale a Pena Ver de Novo, está mil anos à frente do que deveria estar se exibida corretamente. A audiência do reprisário vespertino não andava bem há muito tempo, o que levou a cúpula da emissora a ceder aos apelos populares que pediam reprises mais antigas e resolveu sacrificar a obra de Ivani Ribeiro, que se exibida no Viva, nos daria o prazer de sua totalidade.
No entanto, mesmo assim, recortada, a novela é uma delícia de assistir. O trabalho de Glória Pires é tão cheio de camadas que dá gosto de ver. A trama é tão arrumada, pensada, avaliada, de um jeito que as novelas hoje em dia não são mais. As duas irmãs iguais, opostas, refletindo a personalidade dos pais, e um show de boas reviravoltas pra ninguém botar defeito. Até Guilherme Fontes, que vivia um herói que chegava aos cúmulos da inocência, se destaca defendendo com tanta honestidade o grande babaca da época. Seu personagem, Marcos, cedia ao apelo sexual da irmã má, num jogo de dominação física velado que era impressionante para o horário das seis.
O trabalho de Marcos Frota como Tonho DaLua também merece muito destaque. Apesar dos eventuais exageros – principalmente nas cenas de emoção – o personagem foi um acerto absoluto. Frota, que nunca teve fama de ótimo ator, deve ter tido que brigar muito pela oportunidade e por isso mesmo, defende o papel com comovente paixão. É um trabalho de interpretação de encher os olhos. Sobretudo porque Ivani Ribeiro, esperta e inteligente, não caiu na tentação de criar um personagem com problemas comportamentais, aparentemente infantil, que fosse chapado por essa condição. Tonho é um pouco malvado. Pensa em matar, finge sentimentos quando lhe convém e sente certo prazer em manipular segredos. Ou seja, como todos nós.
E ainda tem Laura Cardoso e Antônio Vasconcellos imperdíveis. Suzana Vieira nos tempos em que não via problemas em viver mães de família sem fama de gostosonas. Viviane Pasmanter botando pra quebrar , Humberto Martins em início de carreira demonstrando muito talento, Andréa Beltrão roubando todas as suas cenas e o saudoso Raul Cortez vivendo um Virgílio odioso e ao mesmo tempo engraçadíssimo. Os rompantes dele são hilários.
Grande momento da televisão brasileira, e que reforça o sentimento de nostalgia dramatúrgica que agora nos toma perante equívocos totais como por exemplo, Fina Estampa.
Há algumas semanas a novela Fina Estampa, de Aquinaldo Silva, teve um de seus maiores picos de audiência. A razão foi mais um embate entre a descaracterizada Teresa Cristina e a ótima Griselda, além de um jogo de vôlei entre um grupo de “fortões” (como os próprios personagens nomearam) e um grupo de gays. Se cada capítulo da novela pudesse ser nomeado, esse poderia se chamar facilmente “A coroação da ignorância”.
O jogo de vôlei era uma estratégia esperta perante a audiência. Gays afetados, vestidos de rosa e dando saltinhos sempre funcionaram melhor do que aqueles que fazem o discurso social adequado. Não que a afetação não exista, ela existe. Mas não é só ela que existe. Aguinaldo tem um longo histórico de abordagens afetadas, talvez provenientes de uma concepção homossexual retrógrada, oriunda de uma época em que os gays ostentavam o orgulho de relacionarem-se apenas com “héteros”, enrustidos, tudo para que pudessem desfilar o status de terem “casos” com militares, médicos, mecânicos, motoristas... Aguinaldo não representa o homossexual dos anos 2000, ele parou no tempo em que a afetação era o único caminho possível para o gay na televisão. E infelizmente, depois de Gilberto Braga ter feito um trabalho exemplar em Insensato Coração, vem Fina Estampa e anula toda essa referência com um infeliz tratamento ao tema.
Tudo no tal jogo era equívoco. A caricatura não atingia só os gays não, porque os “fortões” também não tinham uma gota de profundidade. Tinham todos um pé no timbre da vilania. O time dos gays vestia rosa e saltitava pela areia. A plateia era dividida e segregada como manda o figurino e se já não bastasse tudo isso, o time dos gays perde o jogo porque não conseguiu se concentrar em outra coisa senão o volume do pênis de um dos jogadores. Qualquer palavra que não seja uma variante do ridículo, não se aplicaria na hora de julgar ideia tão esdrúxula. Pra coroar a ignorância toda, um dos fortões faz uma piada e os gays reagem com... violência. Isso mesmo. Os gays é que respondem primeiro com violência. O pesadelo se encerra com o personagem de Marcelo Serrado dizendo: Perdemos o jogo, mas ganhamos no pau. Saímos dessa experiência com uma representação triste de homossexuais rasos, fúteis, que não sabem perder e reagem com violência. Aguinaldo então pode dormir tranquilo, já que a audiência da novela permanece alta e ele tem o hábito de usar o ibope como parâmetro de qualidade. Criticado pela novela, reage como os gays de sua história: com agressividade. Invalida a competência dos críticos. Ataca-os com suas frases de efeito totalmente vazias de embasamento.
A novela em si, capenga num circo de incoerências. Aguinaldo declara que depois da Flora de A Favorita nenhuma vilã mais tem humanidade, motivos. Na cabeça de todo mundo que viu A Favorita, Flora era uma das vilãs que mais tinha razões para agir na trama, ao passo em que Teresa Cristina parece saída de um filme da Disney e não tem um só momento em que não fale com voz de Bruxa Malvada. Até agora já bateu, gritou, maltratou um empregado que a põe nos céus (o que jamais entenderei), discriminou e até matou, e os motivos não aparecem.
As tramas se costuram com a linha da obviedade, repetem padrões mil vezes já vistos. O egocentrismo de Aguinaldo vai tão longe que ele começou a incutir na história, bordões e influências de suas outras tramas. Coisa que ele fazia com bom humor no passado, mas que agora soa pretensioso, como se suas outras novelas estivessem blindadas pelo engano da super audiência. O artifício só depõe contra ele, já que Nazaré (por exemplo), uma personagem cheia de camadas, dá de mil a zero no vazio dramatúrgico de Teresa Cristina.
O Twitter do autor é um show a parte e confirma a noção que ele tem de que é imbatível com os números e com a qualidade. Mal sabe ele que sua antecessora, Insensato Coração, era infinitamente superior em texto, ousadia, planejamento... e filosofia.
Grey's Anatomy vai fazer um episódio onde Meredith vislumbra como seria sua vida se sua relação com a mãe tivesse sido diferente e ela ainda estivesse viva. A matéria, do site huffpostTV, mostra uma série de fotos com o elenco com um visual novo, além de participações especiais e o retorno até mesmo de alguns personagem que já estavam mortos.
Depois do desconfortável e humilhante episódio musical, fico desconfiado com essas liberdades criativas de Shonda. Sempre que ela desvia para o fantástico, esbarra num sentimentalismo perigoso. Espero que esse universo paralelo seja retratado com muito mais humor do que responsabilidade afetiva. Algo como fizeram com The OC.
O episódio vai ao ar em Fevereiro e eu já estou me coçando todo pra ver.
Limk da máteria: http://www.huffingtonpost.com/2012/01/14/greys-anatomy-if-then-episode-alternative-universe-meredith-alex_n_1206513.html#s612737
(Nunca decoro o código html para links e tô com preguiça de procurar)
Ryan Murphy ficou muitos anos a frente de uma série médica chamada Nip/Tuck, mas só conheceu mesmo o estrelato mundial quando criou uma comédia musical chamada Glee, que devastou o mundo pop com sua força carismática e embora oscile sempre entre o prestígio e a chacota, está em evidência até hoje.
Glee é uma das minhas maiores paixões no momento, exatamente porque dentro de todo aquele universo adolescente, reside a maldade de Ryan, que sempre foi adepto de caminhos bizarros pra seus projetos.
Sua nova investida é a audaciosa e intrigante American Horror Story. Como o próprio título sugere, trata-se de uma série de terror, que trás e brinca com muita competência, com todos os clichês do gênero. Seu diferencial está no texto coerente, na completa insanidade das histórias e num elenco espetacular encabeçado por Connie Britton, Jessica Lange, Frances Conroy e Dylan McDermott.
O piloto é um pouco confuso, mas a série cresce tanto a partir do segundo episódio que chega a impressionar. O episódio de Halloween, dividido em duas partes foi um desbunde de criatividade. A série é tão louca que te deixa hipnotizado em frente a TV.
Com o histórico de enganos de Murphy pode ser que tenhamos problemas adiante, mas até agora o saldo é muito positivo. E ainda temos James Wong, roteirista consagrado de Arquivo X, dando o ar da graça.
Todo mundo que acompanha esse blog já sabe que eu sou um grande fã do Big Brother Brasil. O programa, desde a quinta edição, vem acertando em cheio (tirando a sexta, claro) no quesito surpresa, psicologia e bom humor. Já falei exaustivamente sobre as qualidades analíticas do programa e do que ele reflete no panorama da sociedade. O BBB é engraçado, tenso, debochado e catártico. A corrente anti-reality show que categoriza a inferioridade intelectual do programa é na maioria das vezes carente de critério. Não assistir ou assistir apenas os minutos iniciais não torna ninguém apto a destilar críticas sobre coisa alguma. Mas enfim, de todos os programas do gênero, o BBB é soberano em forma e estilo.
Cortando por fora, a Record decide produzir a mistura de Simple Life, BBB e Casa dos Artistas, passada toda numa fazenda onde celebridades se engalfinham enquanto limpam cocô de cavalo e tomam leite tirado na hora. A primeira edição foi bem pela novidade. A segunda ninguém viu. A terceira todo mundo viu até a metade, mas ninguém se lembra quem ganhou. No ar em sua quarta edição, o programa parece finalmente ter encontrado seu eixo e nos proporciona entretenimento forte e revelador.
É bem verdade que para encontrar esse eixo o programa teve que ceder à reprodução de formatos. Insistente em ter uma identidade, A Fazenda começou sua existência criando uma maneira quase totalmente diferente de lidar com o confinamento dos famosos. De parecido com o BBB, apenas o conceito de “líder da semana” e “paredão de eliminação”. A direção do programa resolveu subverter tudo. A votação entre os jogadores era aberta, a escolha do líder era, a cada edição, feita de um jeito diferente, e não havia uma interferência psicológica da organização junto aos participantes. Aos poucos, assim como aconteceu com o BBB, eles foram descobrindo que algumas regras criadas por eles eram fortes mesmo (o pessoal da sede não saber qual participante voltará para dentro da casa no dia da eliminação, sendo obrigados a ficar trancados na sala esperando o retorno do sortudo, é uma idéia ótima), já outras precisavam ser recicladas e aproveitadas para o bem do jogo. Estabelecer um modo único de escolher o “fazendeiro” era uma das mais importantes. Tornaria o jogo mais legível para os jogadores e provocaria mais tensão. A direção encontrou finalmente uma maneira inteligente de fazer isso e acabou contribuindo para o conceito real de manipulação psicológica. Apelar para brincadeiras que coloquem uns contra os outros também acabou sendo necessário. O BBB faz isso com excelência e se nada na TV é original, vamos copiar mesmo o que faz bem ao produto final.
A edição da Fazenda ainda se leva a sério demais, mas já começou a melhorar. O “perfil” dos participantes que estão no “paredão” também acabou aparecendo nas últimas eliminações vistas nessa edição. É um clássico do BBB. Assim como o discurso de Pedro Bial, que um sempre apático Britto Jr. começou a tentar reproduzir.
No entanto, a melhor mudança para a Fazenda é a escolha dos participantes. Acertaram na primeira edição, mas competência mesmo tiveram agora. Praticamente TODOS os escolhidos renderam alguma coisa de boa para o programa. Os que ainda estão lá também representam sucesso, assim como os que já saíram. O reflexo desse cuidado com os escolhidos foi um show de desequilíbrio emocional entre eles. A sociopatia de Dado Dolabela na primeira edição era só uma preparação para a quase psicopatia de Gui Pádua nesse ano. Outra vantagem do programa sobre o BBB. Os vilões da versão global eram insuportáveis às vezes, mas nunca ultrapassaram a barreira da humanidade, como fez Gui. Talvez o homofóbico Rogério, do BBB5 tenha sido o que mais se aproximou dessa investida cruel sobre outro participante, mas de fato Gui Pádua tem tantos traços de um desvio social grave que chega dá medo. Um machismo enraizado absurdo e um total descaso pelos sentimentos alheios. Tudo mascarado numa postura pseudo-esportiva de quem “joga as regras do jogo”. Num jogo que lida com a vida, as regras só se aplicam se isso não atinge ninguém e nem o que o público aqui espera de você. Os talentos persuasivos de Gui Pádua iam tão longe que mesmo antes de sair, deu sua última cartada, envenenando Joana e garantindo que ela não teria chances de chegar ao final.
Se Monique Evans ganhar o programa, também terá algo em comum com o BBB, que deu uma maldita segunda chance a Marcelo Dourado e o fez vencedor de uma infeliz edição de homenagem à intolerância. Espero que ela ganhe. Será uma vitória da segunda chance muito melhor que a do BBB.
Torço para novas edições de sucesso. Serão dois ótimos reality shows no ano e muitas garantias de loucura, pressão, analogia psicológica e uma deliciosa frivolidade.
Lá se foi mais de um mês da estreia de Fina Estampa e já dá pra saber que a megalomania de Aguinaldo Silva não corresponde à atualidade de sua obra.
O conceito da novela é o de que todo mundo tem uma faceta escondida pela membrana da sociedade, e que isso provoca a concretização daquele velho ditado de que as aparências enganam. O problema é que a novela está longe de expressar a sutileza dessa definição e entrega uma história absolutamente previsível, ou seja, é exatamente aquilo que parece.
O rosário de enganos é extenso, desde a escolha de Torloni para viver a segunda versão de Melissa Cadore, até a relação grosseira e desagradável que ela tem com o “mordomo gay” vivido por Marcelo Serrado. Gays adorando divas é até comum, mas gays suportando ofensas e humilhações por causa disso não é algo que deveria ser festejado. Isso sem falar da velha mania de Aguinaldo de trabalhar a homossexualidade dentro da marginalização do relacionamento. Os gays dele são sempre afetados e mantém encontros secretos com enrustidos pseudo-heterossexuais. Não que isso não exista – de fato é o que a gente mais vê nos subúrbios – mas o tratamento televisivo dado a questão sempre me soa muito mais um desserviço à comunidade GLBT do que um passo positivo na direção da aceitação social.
O número absurdo de personagens incluem um núcleo hippie/espiritual de dar ojeriza. Além de termos que aturar o namorado da Suzana Vieira fazendo mágicas, temos que aturar um comportamento e linguajar hippesco que ficaria muito melhor numa novela lá dos anos 70. Os diálogos são tão fakes que dá pena. E dá-lhe as mesmas linhas de tensão que já vimos outras vezes com autores diferentes e até com o mesmo autor (Dira Paes vive também uma versão 2.0 do que vimos com Adriana Lessa em Senhora do Destino). Temos que aturar o maniqueísmo com que ele retrata a “imprensa marrom” na personagem de Suzana Pires (jornalista Marcela Coutinho é pior do que uma vilã da Disney) e aceitar que isso faz parte da justiça interpretativa.
Lilia Cabral – a única que não me agride quando surge na tela – compõe o que se espera como a representação conceitual da trama: aquela que é muito mais do que parece. No entanto, todas as investidas do autor na exemplificação dessa ideia caem por água abaixo. Que mulher linda hoje em dia, que procura um homem na internet, aceita encontros sem ver o dito cujo pela webcam? Que taxista que recebe como passageiro um grandalhão mal educado e grosseiro, não vai achar que aquilo ali é uma roubada? Se é pra passar a ideia de “as aparências enganam”, que sejam aparências dentro de uma unidade de realismo, e não uma situação forçada para transmitir a demagogia da questão.
Parece providencial que depois de ter acordado o monstro envaidecido com a repercussão do seu blog, Aguinaldo Silva nos entregue uma história com a profundidade de uma banheira, que pretende ser muito mais do que realmente é, e que ironicamente, é o melhor exemplo de si mesma. A estampa é fina e pretensiosa, mas o miolo é fosco e pobre.