Os Estados Unidos acordaram hoje em festa por conta do anúncio da morte de Osama Bin Laden. Morbidamente, o povo foi às ruas como na final de uma Copa do Mundo, festejar o assassinato permitido da figura alegórica por trás dos ataques do 11 de Setembro.
Levianamente, alguns jornais chegam a se referir a esse momento como o dia em que o declínio do terrorismo poderia ter começado, esquecendo-se que um só homem não conseguiria arquitetar sozinho tamanha catástrofe e que sua morte não representará jamais o fim de um movimento que tem sua força na simpatia de outrem.
Emblemática, mas apenas do ponto de vista superficial, a morte de Bin Laden, sobretudo ocorrendo no ano do décimo aniversário dos ataques ao WTC, representa apenas o fim de uma caça a um homem que já não parecia ter o poder de continuar a organizar células terroristas. Algo me diz que os que estão no poder agora devem estar adorando que o rosto onde se projetam os desejos de vingança dos americanos já esteja lançado ao mar (aliás, estranho que o corpo dele não tivesse sido fotografado e mostrado ao mundo... e sim lançado ao mar...). Agora, é como se voltassem ao marco zero. A caçada terminou. Sem Saddhan, sem Osama. Sem mais alegorias. A engrenagem do terror que não possui "heróis", pode continuar tranquila a funcionar.
Estou aqui em casa, nesse sábado a tarde, me recusando a levantar do sofá pra fazer coisas mais importantes e assistindo a série Glee em DVD. O box da série, adquirido numa promoção boa do Submarino, foi promovido pela Fox, o que infelizmente significa falta de qualidade e confusão. Glee até que sofre menos com isso, o box não é o digipack dos nossos sonhos, mas pelo menos não é aquela coisa ridícula que fizeram com os boxes de Family Guy. Aliás, como bem disse um blogueiro aí dessas minhas andanças pelo google, vai chegar o dia em que a Fox vai começar a vender seus dvds dentro de um saquinho plástico.
Enfim, o box é simples, em formato amaray e apesar de ter um show de extras incríveis, nenhum deles é legendado. Aí eu fico pensando... Porque uma emissora que dubla suas séries e comete a redundância de legenda-las ao mesmo tempo, acha que não precisa legendar os extras do DVD? É absurdo! Cheios de documentários, entrevistas e spots, os discos seriam um prato cheio se você não precisasse ficar treinando seu entendimento de inglês o tempo todo. Mas deixe estar... a Fox anda perdendo um filão e eu nem queria perder essas linhas falando dela.
A razão desse post matinesco é um dos extras chamado Video Diaries, em que os atores registraram sua primeira viagem à Nova York para os eventos de estréia de Glee. Todos parecem muito deslumbrados, mas no vídeo de Chris Colfer, que interpreta o Kurt, há um momento singular que representa o verdadeiro sonho que ele e seus colegas estão vivendo. No seu quarto de hotel, olhando para a vista, ele repete como pra sí mesmo:
Eu não acredito que eu estou aqui
Eu não acredito que eu estou num programa de TV
Eu não acredito que isso está acontecendo
Parece que eu vou acordar a qualquer segundo... Tomara que não.
Logo depois, Chris sai com outros colegas de elenco pela cidade, em busca de pôsteres da série para fotografar e confirmar inconscientemente aquela realidade tão improvável para eles.
Após a exibição do último vídeo, eu, e acredito que tantos iguais a mim, atores, autores, cantores, pessoas movidas pela paixão artística, movidas pelo desejo de viver um sonho onde essa paixão fosse exercida como profissão, pessoas tomadas por uma certeza tão absoluta de que é no palco, na tela, entre as cortinas, que estão as certezas de realização plena, tive a compreensão total dos sentimentos de Chris naquele momento. Seu deslumbre teve toda a minha simpatia. Era como se eu estivesse lá, sentindo a emoção de ver meu rosto pela cidade de Nova York, sabendo que atuando e cantando, eu estava vivendo o momento mais importante da minha vida.
Gostei mais de todos eles depois daqueles vídeos... É aquela fórmula imbatível do plebeu que se identifica mais com outros plebeus que alcançam o castelo. Pois bem... Nesse meu sábado à tarde eu fiquei fugindo da realidade junto com o elenco de Glee. Sonhando com Nova York novamente... Com meu rosto em pôsteres colados em muros sujos... Ou simplesmente com Nova York... O castelo longínquo da minha existência plebeia.
Dust in the wind
Mais uma vez eu acordava entre folhas secas meio amareladas.
Eu não tinha dormido ali. Não. Mas eu acordara ali. De novo. Essa consciência não era dele (o eu do sonho), mas minha. E logo que eu acordava, era como se reconhecesse o cheiro doce do lar. A aparência familiar de tudo que me cercava. Os prédios. As árvores. As pessoas passando apressadas. Aquela cidade romântica dos meus filmes de adolescência. Respirando ali. Viva. Na minha frente.
Eu sempre estive lá. Era minha morada. Não era novidade, mas me maravilhava todos os dias. O jeito como o Sol refletia nas vidraças. O barulho das ferraduras dos cavalos que puxavam as charretes do parque. O som dos motores. As línguas que se cruzavam babélicas nas avenidas. O amarelo dos veículos de aluguel. Era a minha casa sem ser em casa. O meu lar alheio. No meio das ruas. Mas ainda assim tão meu. Tão próximo de mim.
Eu caminhava sentindo o frio. Era dia claro, mas fazia frio. E eu me lembrava que todos os meus dias perfeitos eram assim. Eu era feliz sempre nos dias frios. Eu era sempre feliz ali naquele lugar. E eu caminhava pensando em tudo. No que tinha que fazer, nas pessoas pra visitar. Eu tinha uma vida. Amigos esperando no café. Amores marcados no cinema da esquina. Eu era um dos que andavam com pressa. Eu era dali. E tinha ciúmes dos forasteiros como um bom nativo. Apoiava planos de melhorias e levantava bandeiras do quanto morar ali era especial. Porque ali era a terra dos sonhos. Era real e sangrava como todas as cidades, mas era envolta numa magia que nenhuma outra era.
Mais uma vez eu acordava entre folhas secas meio amareladas. Eu sabia que era um sonho dentro do meu sonho. Sabia que sonhava de novo com Nova York.
O 11 de Setembro passou. Geralmente falo sobre ele aqui no blog quando vem um aniversário. É uma data e um evento que me comovem constantemente. Talvez por ter visto tudo pela televisão numa época tão política da minha vida, mas sobretudo porque as grandes catástrofes, que dizimam populações em eventos trágicos, tem estranho poder de atração sobre mim. Não de maneira curiosa. Como os que visitam os assassinados numa esquina para verem o que seus rostos imprimiram no momento da morte. Mas com uma compaixão esquisita. Com uma insistência em avaliar a agonia alheia. Pensando no quanto sofreram os que viveram aquilo de perto, sem esperança de vida. O 11 de Setembro me faz pensar no sofrimento. Na morte estúpida, que interrompe um belo dia de sol, numa terça-feira cheia de compromissos, que acaba terminando antes do meio dia, com uma queda mortal para o chão de asfalto.
Sempre falo aqui também sobre minha paixão por Nova York. É difícil falar sobre isso. Todo mundo fica me olhando como se minha paixão pelo cinema e pela tv americana já tivesse tomado suas proporções até indevidas dentro do meu inconsciente. Mas o fato é que desde antes do atentado, essa cidade já exercia estranho poder sobre mim. Ela me chama. E já desisti de tentar entender porquê. Ou mesmo de me criticar se a razão for simplesmente visitar os cenários de minhas histórias preferidas. Nova York me comove. Sua tristeza me alcança. Sua agonia me transpassa. E mesmo sem ter pisado numa só folha seca dos cantos do Central Park, é como se ela tivesse sido projetada pra mim.
E hoje, quando sem querer me deparei com gravações da época do 11 de Setembro, e senti novamente toda aquela profusão de sensibilidades incomuns, foi como se todo o amor se confirmasse. É isso... Eu amo Nova York. Sinceramente. Desavergonhadamente. Por todos os motivos mais infantis. E que são os melhores motivos para se amar alguém ou alguma coisa.
Me ame também Nova York. E me chame pra você... algum dia.
Gente, eu não curto axé, mas acho a Ivete Sangalo uma das artistas mais bacanas desse país. Ela tem um humor e uma sabedoria para lidar com a mídia que é invejável. Mas admiro a baiana ainda mais depois que ela se tornou a primeira artista brasileira a cantar no Madison Square Garden em Nova York. Imagina o que é isso pra uma mulher que já chegou a vender quentinhas e trabalhar como vendedora de roupas? Não é a toa que ao se emocionar e dizer eu sou uma vencedora, ela acabou comovendo muita gente naquela platéia.
Vai lá, Ivetão! O mundo é seu! E no próximo aí na Big Apple, eu vou!
A prefeitura de Nova York tirou o tráfego da Times Square e espalhou um monte de cadeiras pelo lugar. Fiquei logo imaginando como ia ser bom sentar numa delas ouvindo Live no MP4 e vendo os americanos passarem.
Gente, eu reitero: preciso conhecer New York!
Nova York continua a sua saga de acontecimentos bizarros e imprevisíveis. Agora foi um avião que fez um pouso de emergência no Rio Hudson. A foto já dá uma idéia de como tudo foi estranho. Imagina as pessoas que viram o avião caindo? Deve dar logo um pânico. O 11 de Setembro deve estalar na mente. Estalou na minha.
Enquanto isso, minha conexão com essa cidade só vai crescendo. Preciso conhecer Nova York. Preciso.
Eu ando numa coisa cada vez maior com Nova York.
Hoje sonhei de novo que eu estava caminhando pelas ruas de lá. Assim mesmo. Como na foto. Eu via as pessoas passando, os táxis amarelos, as luzes da Times Square... Não era a Nova Iorque romântica de "Sex and the City", era uma Nova York acizentada mesmo, mas nem por isso, menos atraente.
Ultimamente tenho pensando muito sobre essa atração por essa cidade. Eu não pensava muito em viajar quando mais novo. Essa necessidade de ver o mundo de perto começou agora e Nova York é sempre o primeiro destino que passa pela minha cabeça. Tenho considerado realmente as possibilidades concretas de que o cinema e a TV tenham plantado esse desejo em mim. É certo que mais da metade dessa vontade vem daí, mas sobretudo sei que alguma parte disso vem de algum inconsciente que eu ainda não desvendei, mas que sei que está aqui.
Nunca saí do Brasil. Só recentemente foi que fiz a minha primeira viagem pra fora do Rio de Janeiro de avião. Fui para Porto Alegre. E o tempo todo brinquei de estar em Nova Iorque. Passeando pelo Parque Redenção como se estivesse no Central Park. Não tenho vislumbres financeiros de que um dia farei essa viagem. Ganho pouco e com o pouco que ganho não dá pra me qualificar melhor, e sem qualificação fica difícil ganhar melhor. E sem grana, nada de viagem. Isso é certo. Talvez eu conseguisse juntar algum dinheiro se parasse de comprar as séries americanas que enchem a minha estante, mas o fato é que elas são o único alento para o meu orçamento sempre tão comprometido. E juntar dinheiro pra mim é missão difícil de executar. E sendo bem realista, uma viagem desses ia custar muito mais do que alguns meses sem aproveitar as promoções de 49,90 do Submarino. Que por sinal, eu não consigo aproveitar todos os meses.
O mais estranho desse sonho que tive hoje, era a incrível sensação de estar em casa. Eu lembro que no sonho, era como se eu tivesse sido levado até lá pra saber o que realmente eu sentia estando lá. E eu caminhava e pensava: "Meu Deus... eu pertenço a esse lugar... eu sou desse lugar... eu preciso estar aqui".
Acordei mal. Com um nó na garganta. Com uma emoção bizarra presa dentro de mim. Com uma sensação louca de que talvez a atração por Nova York seja mais do que excesso de "Will & Grace". Que aquela angústia durante o 11 de Setembro era mais apego do que simples curiosidade ou horror. Que aquele olhar fascinado e desejoso no Henrique do meu sonho, era mais do que um reprojeção deslocada de um mídia incisiva.
Eu gostaria mesmo de um dia ir... Gostaria mesmo. Nova York me toca e emociona mais do que eu podia imaginar. E eu gostaria de poder dizer isso a ela.