Sábado, 10 de Março de 2012

Sala de Projeção

Helter Skelter

O demônio pula o portão em 09 de Agosto de 1969.

 


 

O ano de 1969 começou intenso para dois homens que residiam na cidade de Los Angeles até então. Charles Manson, depois de suas andanças em busca de uma oportunidade na indústria fonográfica, vislumbrava uma chance, ao mesmo tempo em que tinha conseguido também, reunir uma gama de seguidores cada vez mais apaixonados por suas idéias de paz e sabedoria. Do outro lado da cidade, o diretor Roman Polanski também vivia um bom momento em sua vida. Os americanos o receberam com desconfiança, mas já começavam a respeitar seu trabalho no cinema. Ele era reconhecido como um profissional importante e um homem interessante. Estava casado com uma das mulheres mais lindas do mundo e ela, Sharon Tate, estava grávida e feliz. 

 

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Dobrado Por Henrique Haddefinir às 22:38
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Sexta-feira, 17 de Junho de 2011

A Escuridão da Curiosidade

Na manhã de ontem, Ana Maria Braga recebeu no seu programa a última vítima do massacre de Realengo que ainda estava no hospital. A menina Tayane, ainda visivelmente afetada pelos eventos do dia do massacre, estava de cadeira de rodas e ainda tinha muita dificuldade de ser expressar contundentemente diante das perguntas de Ana Maria. No entanto, o pouco que ela falou sobre o assunto já provocou em mim aquela sensação de suspensão do bom-senso, gerando um desconforto ambíguo, cheio de indignação e pesar, mas também cheio de uma enegrecida curiosidade.

 

 

Eu não acordo cedo, todo mundo que me conhece sabe. Pego no trabalho só às 14 horas e foi meu namorado quem viu a entrevista e comentou comigo, enquanto eu tomava banho. Assim que o relato dele começou, aquela fagulha de morbidez, que tanto demorou a ser suprimida nos dias após o crime, começou a queimar novamente e a buscar alívio. O dia ia permanecer o mesmo pra mim, mas ao sair de casa eu já sabia que a primeira coisa que faria ao chegar no trabalho era procurar o vídeo da entrevista no You Tube. E dessa maneira, o prazer e a dor, cozidos numa mesma fogueira midiática, voltariam a consumir o meu tempo produtivo.

 

Começou com a entrevista no programa de Ana Maria, mas logo, automaticamente, eu já estava revendo os vídeos do dia do massacre, tentando vislumbrar novos ângulos, querendo e ao mesmo tempo repelindo a possibilidade de momentos cada vez mais reais sendo capturados pelas pessoas presentes no local. O que aliás, é outro souvenir da modernidade: a morte nunca foi tão célebre. Com cada vez mais pixels, está estampada em revistas, jornais e flutua soberana por câmeras de circuito interno e celular. E essa facilidade de acesso ao trágico, para pessoas como eu, que sentem intimamente o calor de um momento como esse, torna tudo ainda mais próximo. Faz com que seja palpável. Provoca uma sensação testemunhal que aumenta o "prazer" de assistir e o sabor do terror.

 

Logo os médicos criarão uma patologia pra isso, estou certo. Por enquanto eu prefiro ser suave e dar ao impulso o carimbo da super-sensibilidade. Misturada, claro, a uma mórbida e excruciante necessidade de ver, de estar, de participar. Não sei de onde ela vem, não me perguntem. E nem sei se tenho companhia nessa disfunção comportamental que nada de bom pode trazer ao meu espírito. Esse hábito de observação trágica é uma profunda incoerência diante da minha óbvia inclinação para a alienação. Eu percebo, mas não controlo. Tem vezes que eu prefiro acreditar que é meu dramaturgo tomando a frente e enxergando nos dramas alheios a possibilidade de literatura. O que você vive é experiência, e o que não vive é história escrita. E tenho um prazer tão imenso em contemplar palavras que pode se comparar ao de viver os fatos. E então eu fantasio minha presença naqueles outros mundos de experiências que não são minhas, e confundo a minha curiosidade com a minha dor.

 

Pela minha vontade, não existiria jamais o naufrágio do Titanic, o terror do 11 de Setembro, o incêndio no edifício Joelma ou o massacre na escola em Realengo. Eu sinto tanta compaixão por aquelas pessoas... E sinto tão intensamente o medo. O ódio pelas vidas perdidas de maneira tão estúpida, por motivos tão torpes. E ao mesmo tempo, a cada dia que começa comum em algum lugar do mundo, e que muda de rotação em apenas dois segundos, meus olhos páram num instante ínfimo da fita, quando crianças esperam a hora de entrar na sala de aula e minha mente às vezes azêda, estaciona no pensamento nocivo e repetitivo que fica martelando essas mesmas frases: Não havia nada nesse dia que anunciasse o fim. Não havia sombra, nem silêncio e nevoeiro. Não havia o medo suspenso de atravessar a floresta. Era Sol e suor entre as conversas de corredor. Como saberei quando esse dia comum chegar pra mim? E o que eles pensaram quando o homem atravessou a porta? Qual é o primeiro pensamento antes do fim? Qual o último pensamento antes da escuridão?

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 20:42
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Segunda-feira, 2 de Maio de 2011

O Garoto do Calendário

 

Os Estados Unidos acordaram hoje em festa por conta do anúncio da morte de Osama Bin Laden. Morbidamente, o povo foi às ruas como na final de uma Copa do Mundo, festejar o assassinato permitido da figura alegórica por trás dos ataques do 11 de Setembro.

 

Levianamente, alguns jornais chegam a se referir a esse momento como o dia em que o declínio do terrorismo poderia ter começado, esquecendo-se que um só homem não conseguiria arquitetar sozinho tamanha catástrofe e que sua morte não representará jamais o fim de um movimento que tem sua força na simpatia de outrem.

 

Emblemática, mas apenas do ponto de vista superficial, a morte de Bin Laden, sobretudo ocorrendo no ano do décimo aniversário dos ataques ao WTC, representa apenas o fim de uma caça a um homem que já não parecia ter o poder de continuar a organizar células terroristas. Algo me diz que os que estão no poder agora devem estar adorando que o rosto onde se projetam os desejos de vingança dos americanos já esteja lançado ao mar (aliás, estranho que o corpo dele não tivesse sido fotografado e mostrado ao mundo... e sim lançado ao mar...). Agora, é como se voltassem ao marco zero. A caçada terminou. Sem Saddhan, sem Osama. Sem mais alegorias. A engrenagem do terror que não possui "heróis", pode continuar tranquila a funcionar.

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 18:24
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Segunda-feira, 11 de Abril de 2011

Era uma vez em 7 de Abril...

 

Já faz quase uma semana desde que o agora reconhecido como esquizofrênico, Wellington Menezes, entrou dentro de uma escola em Realengo, no Rio de Janeiro, e matou 12 crianças à queima roupa.

 

Como é de praxe dentro do cenário nacional, desde então não se fala de outra coisa nos telejornais. Nos tempos em que vivemos, as tragédias estão cada vez mais próximas de nós, através de imagens que circulam por toda a web, o que torna os eventos de 7 de Abril um pesadelo que nos toma da sensação de normalidade dos nossos dias. A cada minuto uma nova imagem, uma nova perspectiva ou ângulo, e uma perscrutação incansável da vida do infeliz do assassino. Em contrapartida, as mesmas perscrutações e imagens nos revelam um cenário de pânico, terror e absurdo. Ninguém está preparado nunca para acordar e dar de cara com crianças ensanguentadas jogadas em corredores e saindo aos gritos pelos portões de uma escola. E embora os diagnósticos de doença mental estejam pipocando por todos os canais, não há como desligar a mente da raiva e da frustração provocada por esse indivíduo.

 

Começaram as discussões sobre os efeitos do bullying, sobre a segurança nas escolas, sobre tudo que diz respeito a educação e sociabilidade. Ou seja, o Brasil parou para avaliar a tragédia e os efeitos dela e de quebra, o que Wellington conseguiu foi provocar um sentimento de medo generalizado, já que sabemos que do mesmo jeito que os ataques de 11 de Setembro "inspiraram" as loucuras do assassino, esse triste 7 de Abril pode influenciar outros extremistas ou esquizofrênicos ou seja lá qual for a mistura necessária para criar tamanha monstruosidade, a realizar o mesmo desatino. Sem os eventos de Columbine talvez não tivessem acontecido outros ataques semelhantes. E o que a gente faz diante desse ciclo incontrolável? Ficamos a mercê da piedade humana... Contando com a sorte de não estarmos no lugar errado, na hora errada.

 

E o vídeo que circula na web mostra que aquelas crianças, naquela manhã aparentemente normal do dia 7 de Abril, nunca poderiam imaginar que estivessem no lugar errado, na hora errada, o que torna tudo ainda mais insuportável. Em dois minutos, tudo desaba. Em dois minutos, tudo é finito. E somos lembrados que não controlamos nada, que somos frágeis como papel e estamos vulneráveis ao julgo e à condenação pelas mãos dos nossos próprios semelhantes.

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 15:31
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Sexta-feira, 10 de Dezembro de 2010

Fugindo para as bordas

 

Essa foi uma das imagens que coroaram a nossa televisão na última semana. A onda de ataques dos traficantes em arrastões pelos congestionamentos da cidade gerou uma resposta incisiva da polícia, que tomou duas das favelas mais perigosas do estado. A imagem acima é a da fuga dos traficantes, pela mata, que buscavam refúgio no Morro do Alemão.

 

Uma a uma, os canais de televisão aberta do país passaram os dias inteiros cobrindo a ação da polícia. O Rio de Janeiro, tomado constantemente pela ação dos traficantes, parece estar passando, finalmente, por alguma espécie de transformação. A dúvida incutida aqui deve-se a sensação de estranheza causada pela possibilidade real de que estejamos mesmo a caminho de uma erradicação ao menos notável da criminalidade. O pensamento por sí só já é bizarro. Após assistir o Tropa de Elite 2, a sensação é de que qualquer ação vai levar a uma reação em cadeia que sempre vai nos levar na direção de algum buraco.

 

No domingo, o clima nos programas jornalísticos era de redenção. Parecia que tínhamos acabado de ganhar uma copa do mundo. Agora, no meio de toda essa euforia de ver traficantes sendo expulsos de seu reino, a gente fica se perguntando... Pra onde eles vão? E pra onde vão todos os que estão em outros morros que serão iminentemente tomados? Sem tráfico, aumentam os roubos. E com mais roubos, mais homicídios... Não sei... Sinceramente, acho que toda essa alegria pode estar ofuscando um perigo maior que nos ronda. O do caos. Não há nada mais perigoso que bandido desesperado. Nada.

 

 

 

Update: Alguns dias depois de escrever esse post, a polícia aqui de Rio das Ostras fez uma operação para capturar um bandido do morro da Vila Cruzeiro que tinha vindo buscar refúgio em minha cidade. Fomos trancados aqui dentro do Teatro Popular e ouvimos tiros. A sensação é de desproteção e pânico total. Temo muito pelo que nos aguarda.

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 21:45
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Sábado, 27 de Março de 2010

A queda da Terceira Pessoa

 

Finalmente e aparentemente as expectativas quanto ao fechamento do Caso Isabella foram encerradas. Depois de um julgamento longo e excessivamente televisionado, os réus foram condenados sumariamente. A fragilidade do conceito da defesa já virou piada entre os programas humorísticos e a tal "terceira pessoa" não conseguiu salvar os dois do xadrez.

 

No entanto, o mistério em torno do que aconteceu no edifício London ainda permanecem no imaginário. Sobretudo no meu, que volta e meia me pergunto se não seria irônico se Alexandre Nardoni estivesse sendo vítima de um daqueles casos fantásticos de inocência impossível de ser provada que acabam virando filme depois de décadas. É bem verdade que não há muitos indícios disso, mas tanta insistência em manter uma tese tão absurda parece intrigante. A tal "terceira pessoa" existe tão intensamente na versão do casal que chega a lembrar a determinação do Dr. Kimble da série O Fugitivo, que dizia que a mulher tinha sido morta por um "homem sem braço" e penou pra provar que tal peculiaridade não era um devaneio.

 

Não torço pra que um inocente tenha sido condenado. Prefiro acreditar que os instintos de todos estão certos e que a justiça foi feita. Isabella descansa em paz e espero que sua família agora também encontre conforto.

 

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 18:31
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Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2009

O Tapete Vermelho de 2009

O terror que os moradores da capital do Rio de Janeiro sentem, foi sentido em uma escala tenebrosa pelos moradores daqui de Rio das Ostras no último dia 2. Numa aparentemente comum briga de trânsito, os policiais Leandro Teixeira e Rogério Barberino cruzaram o caminho do desequilibrado engenheiro de som Ricardo Carneiro e tiveram suas vidas executadas sem absolutamente nenhum motivo aparente.

 

Eu estava na rua nessa hora. Eu e Gustavo estávamos recebendo em casa a filha dele e algumas amigas. Saímos por volta de 16 horas para comprar a passagem de volta à Cordeiro que uma delas usaria no dia seguinte. A fila para a rodoviária estava imensa. Vinha de dentro do prédio e fazia uma curva em direção ao centro de comércio informal que a gente chama aqui de "rua da feirinha". Estávamos no final da fila quando a confusão começou. Ouvimos primeiro uma série de cinco tiros. Após uma breve pausa, mais dois. A correria era tão grande que as pessoas saíram da fila e começaram a abarrotar o saguão da rodoviária.

 

Essa é a foto do sujeito, que eu peguei do blog da Roberta Trindade, que inclusive fala do assunto de maneira bem completa. Quem quiser conferir a matéria o link está aí:

http://robertatrindade.wordpress.com/2009/01/03/assassino-de-pms-de-rio-das-ostras-e-preso-no-grajau/

O curioso é notar que nos comentários, há quem ainda acredite que os policias cometeram algum erro. Por mais que o sujeito aí da foto tenha admitido que não sabe nem mesmo o que o levou a cometer tamanho delito. Eu estava lá. Não vi a coisa de perto, mas ouvi dezenas de testemunhas que garantem que os policiais só foram mortos porque não contavam de maneira nenhuma com a atitude do criminoso. Algumas pessoas muito próximas garantiram que os policiais foram inclusive educados com ele.

Os tiros vieram frios e certeiros de um homem que tinha em casa mais de oito armas de fogo de diferentes tipos. Um alucinado pela sensação de poder que um revólver causa. Alucinado o suficiente para matar dois homens na frente do filho de 10 anos.

 

Embora a maioria presente ali fosse de visitantes, as caras de pavor e surpresa eram as mesmas de quem é habitante da cidade. Conhecida por sua calmaria, não é de hoje que Rio das Ostras flerta com a violência caótica da capital. Seja na forma de homicídios como esse, ou na forma de motoqueiros noturnos que circulam pela cidade e já assaltaram muitos amigos meus.

Não vou encerrar esse texto com o bom e velho sentimento de indignação impulsionado pelos pedidos de socorro direcionados às autoridades. Eles já sabem o que precisa ser feito. No entanto, esse crime em especial, foi cometido por um cidadão comum. Uma pessoa que transfigurou os próprios valores apoiado num conceito absurdo de força. O curioso é que duas horas depois eu fui ao super-mercado fazer umas compras e um homem fazia um verdadeiro escândalo, batendo nas mesas e xingando palavrões, porque a atendente de caixa não queria deixá-lo passar pelo terminal destinado aos idosos e gestantes. Uma das senhoras que estava na fila teve que trocar de caixa e eu e Gustavo a deixamos passar na nossa frente. O maluco ficava gritando que queria o gerente porque estava certo. A moça do caixa dizia que se a fila era pra idosos, eles é que tinham prioridade. Ela não poderia atendê-lo se houvesse algum idoso ou gestante atrás dele. Mas ele não estava nem aí. Gritava e berrava. Uma total demonstração de falta de respeito e imperativismo. Me fez lembrar do cara que quis me bater aqui na bilheteria do teatro porque eu me recusava a vender dez ingressos promocionais pra ele já ele só tinha um panfleto correspondente à promoção.  O discurso era o mesmo: ameaças de processo que tencionavam demonstrar civismo e elegância, mas no final da conversa ele já queria bater como um bom primitivo das cavernas.

 

Uma fluente correnteza de desvio de valores. Um engano constante entre o que é direito adquirido e arrogância. Uma vergonha. E quanto mais o tempo passa, esse tipo de comportamento vai se proliferando disfarçado de "personalidade forte" e contaminando em sua maioria, a classe média, que não tem a humildade dos mais pobres e nem a superioridade financeira dos mais ricos. Então ela fica ali, no meio termo, mascarando de uma humildade demagógica, a arrogância absoluta que os norteia desde o berço.

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 17:00
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Quarta-feira, 22 de Outubro de 2008

A próxima Pseudo-vítima

Parece que não é só o fascínio pela ação do destino na vida dos outros, mas também o destino em sí, que fica em repouso no consciente coletivo, a espera apenas de uma nova oportunidade de ser casual.

Bastaram alguns meses para que o caso de Isabela Nardoni caísse no esquecimento comum da mídia.

Sai Isabela, entram Eloá Pimentel e sua amiga Nayara, que por causa da sede de "lugar ao Sol" do jovem Lindemberg Alves, foram parar nos noticiários policiais como as mais novas vítimas de uma sociedade notoriamente tensa, agressiva, distorcida e desconceitualizada.

 

É só sobre o que se fala nos jornais. Na TV, qualquer um pode ver, de graça, todo o espetáculo da desastrada ação da polícia, que após ficar cinco dias adotando a tática do "vamos cansá-lo", sob o pretexto de ter ouvido um tiro que ninguém mais ouviu, invade o apartamento por estar ela mesma já cansada há muito tempo. O rapaz, até então um fantoche de sua própria necessidade de atenção, precipita uma resposta à altura e atira nas meninas, quase matando uma e ceifando sem chances a vida da outra. Era a mesma sucessão de equívocos que culminou na morte da professora Geísa, pelas mãos de Sandro Nascimento, dentro do ônibus 174, num episódio inacreditável de incompentência policial que resultou na aterrorizante cena da morte de Geísa ao vivo, em cadeia nacional.

 

Até essa fatídica sexta-feira, a impressão que todo mundo tinha era de que aquele era um grande capricho de um adolescente machista, mal-criado e egocêntrico. A constante valorização da mídia em nossas vidas tinha feito outro soldado. O rapaz queria ser visto. Queria que todos soubessem de sua dor.

Lindemberg fez questão de provar à polícia que "não estava pra brincadeira". Fez a linha "bandido de filme americano" o quanto pôde. Sem o menor senso de proteção, apareceu na janela várias vezes, deu tiros desengonçados para o nada, fez o número "estou apaixonado e ninguém me entende", filosofou com o negociador e não perdeu a chance de maximizar a própria importância, usando frases do tipo "avisa pra população que isso está perto de acabar". O que todos nós não contávamos, era que a polícia também estava meio "desajustada" àquela situação. E essa foi a sorte dele. E o azar delas.

Eloá apareceu algumas vezes na janela. Não chorava, não parecia desesperada, pedia calma e uma vez até sorriu. Parecia entender que apesar de estar nas mãos de algúem que sabia que não tinha nada a perder, aquele também era o namorado com quem esteve durante mais de dois anos. Ela não podia ser tão tola. Não podia acreditar que ele lhe faria mal tão desnecessariamente.

Nayara saiu do cativeiro na terça. Inexplicavelmente, a polícia a deixa ir sozinha até a porta do apartamento para negociar com o rapaz. Ciente do drama que a amiga Eloá está passando e culpada por tê-la deixado sozinha, Nayara entra no apartamento novamente e se torna refém pela segunda vez.

 

Apenas a partir de quinta-feira, foi ficando claro que mais do que numa tentativa de impressionar, Lindemberg era alguém que temia a morte e a cadeia. E que sabia da iminência de uma dessas duas coisas. Sua resistência em ser algemado e levado do apartamento chegava a ser infantil. Cercado de policiais e armas, ele não exitava em bradar "não encosta a mão em mim". E lutava para se libertar.

Segundos antes, havia atirado nas meninas em resposta a invasão. Nayara levou um tiro no rosto e talvez por isso a bala tenha parado por causa dos ossos da boca. Eloá levou um tiro acima da testa e a bala atravessou todo seu cérebro. Lindemberg atirou pra matar. As duas levaram tiros na cabeça. Ele havia feito a escolha de levá-las junto dele ao inferno em que tinha se metido. A mesma escolha que Sandro Nascimento fez quando percebeu que a polícia iria atacar e que provocou a morte de Geísa.

Se Sandro estava descendo do ônibus e iria se entregar, porquê atirar nele? Pra ser considerado um herói? E se Lindemberg estava sob muito cansaço durante todos aqueles dias, porque não esperar mais? Ou porque não aproveitar uma outra oportunidade em que ele se descuidasse? Porque inventar um tiro pra justificar uma invasão? E o pior, uma tosca invasão, provocada por um grupo de elite da polícia que não conseguiu nem perceber que talvez houvesse um móvel bloqueando a porta.

 

Escuto um monte de gente a minha volta reclamando da super exposição do caso na TV. É perturbador perceber que a mesma violência que amedronta e causa pânico nas pessoas, também é um dos maiores objetos de fascínio da sociedade. Quando se trata de terceiros, a violência, a morte, o sofrimento e o martírio são sempre sentidos, mas nem por isso imunes ao exercício mórbido da observação. Ninguém desliga a TV. E fotos de Geísa morta, de Eloá sendo socorrida, pipocam na internet.

Um filme sobre a tragédia de Eloá não será difícil de ser visto nos cinemas em breve. Os cineastas brasileiros parecem ter estudado todos na mesma escola da "crítica à exclusão social". Transformando todos os criminosos em homens incapazes da capacidade de escolha e decisão. Enfiando todos num mesmo saco de psicologia barata, a qual eles entendem ser a responsável pela dificuldade de discernimento  de um sofredor, que opta pelo crime e encontra na própria mídia o consolo e a justificativa para todos os seus atos.

A mesma mídia que ofereceu à Sandro as desculpas que ele precisava:

 

 

"minha mãe foi esfaqueada, meu pai levou bala e minha irmã foi degolada... eu não tenho nada a perder"

 

Que ofereceu à Lindemberg as razões que ele pretendia usar:

"tudo que eu tenho não é nada, então eu não preciso temer o que vou perder"

 

O discurso do "não tenho nada a perder" é sempre acompanhado do monstro da desigualdade social, que sufoca e limita as oportunidades dos menos favorecidos, condenando-os a uma vida de ameaça constante e forçando-os a ceder ao desespero como válvula de escape. Até aí tudo bem... Mas e como fica a Dona Maria que perdeu os filhos, o marido, venceu um derrame cerebral, dependeu da ajuda de estranhos e mesmo assim, depois de tudo isso, levantou a cabeça e começou a vender salgadinhos pra sobreviver? E como fica o seu João? Que tinha um negócio próspero, mas teve que gastar tudo no tratamento da doença de um filho que ele acabou perdendo. E sem condições pra criar os que restaram, acabou caindo na miséria, de onde só saiu tempos depois, com a ajuda de projetos sociais.

Todos os dias, a TV e o cinema transformam personagens como Sandro e Lindemberg em anti-heróis da sociedade. Justificando suas ações hediondas com um pano de fundo social que não é infalível. Que não é tão sólido. Que não é tão chapado. E quando a mídia faz isso, ela presenteia esses personagens com mais material pseudo-lúdico, e incute na cabeça do povo a obrigação de agredir as classes altas, de entender tragédias como essas e de amenizar monstros como esses.

Como isso vai parar? Não vai parar. Porque a mesma mídia que através de um cineasta qualquer, vai transformar Lindemberg num ícone de incompreensão, também é a mídia loucamente superficial que é absorvida sem ponderações por alguns e provoca o pedido absurdo da refém Nayara Silva pra que o jogador Alexandre Patto fosse visitá-la no hospital.

Quem, numa hora dessas, decide tirar um proveitozinho de uma fama instantânea para conhecer um ídolo?

Ah, bobagem.... Essa pergunta não faz nenhum sentido. Afinal de contas, esse é um blog, eu estou escrevendo nele tudo que eu penso, na esperança de que alguém leia, reconheça minha genialidade e me jogue com tudo no núcleo dessa mídia fria, oportunista, deliciosa e desvastadora.

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 00:03
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Terça-feira, 6 de Maio de 2008

O Beiço Assassino

A filha da Whitney Houston tentou matar a mãe. A notícia nem me interessa, e sim a foto que o Papel Pop (o único que parece ter encontrado um registro da menina) postou da homicida:

Gente, que beiço é esse????

Whitney foi um burra. Eu jamais confiaria em alguém com um beiço assim.

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 18:54
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Terça-feira, 29 de Abril de 2008

Ronaldão de Tromba

Gente, e o Ronaldo Fenônemo que foi pego num motel com duas travas e uma puta? Ele nega que tenha feito as trombudas, mas admite ter catado a piranha no calçadão de Copa. E o jogador tem namorada. Pobre coitada, deve estar rasgando o koo com as unhas.

Ronaldão disse que a piranha foi buscar duas amigas pra festinha e voltou com as travas. E que ele não quis mais. Ah, tá... sei.

O pior de tudo é a cara das desgraças:

 

Se bem que são até bonitas pra ele:

 

Desconjuro!!!

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 19:59
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