Finalmente e aparentemente as expectativas quanto ao fechamento do Caso Isabella foram encerradas. Depois de um julgamento longo e excessivamente televisionado, os réus foram condenados sumariamente. A fragilidade do conceito da defesa já virou piada entre os programas humorísticos e a tal "terceira pessoa" não conseguiu salvar os dois do xadrez.
No entanto, o mistério em torno do que aconteceu no edifício London ainda permanecem no imaginário. Sobretudo no meu, que volta e meia me pergunto se não seria irônico se Alexandre Nardoni estivesse sendo vítima de um daqueles casos fantásticos de inocência impossível de ser provada que acabam virando filme depois de décadas. É bem verdade que não há muitos indícios disso, mas tanta insistência em manter uma tese tão absurda parece intrigante. A tal "terceira pessoa" existe tão intensamente na versão do casal que chega a lembrar a determinação do Dr. Kimble da série O Fugitivo, que dizia que a mulher tinha sido morta por um "homem sem braço" e penou pra provar que tal peculiaridade não era um devaneio.
Não torço pra que um inocente tenha sido condenado. Prefiro acreditar que os instintos de todos estão certos e que a justiça foi feita. Isabella descansa em paz e espero que sua família agora também encontre conforto.
Patricia Poeta não resiste à própria emoção diante do choro de Ana Carolina Oliveira e dá um discreto e encantador toque em sua perna.
Ontem foi ao ar a entrevista com a mãe da Isabella no "Fantástico". De cortar o coração.
O curioso é que no dia anterior, eu tinha saído pra caminhar na praia com a minha amiga Mariana. Acabamos encontrando com outro amigo (Tiago Maviero) e terminamos a noite no portão da casa dela falando sobre a morte da menina e a super exposição da mídia ao crime.
Os dois estavam juntos num argumento plenamente justificado a respeito dessa exposição. Já tinham decidido não ter acesso a mais informações e construíram uma correlação com uma série de outras discrepâncias sociais que a grande mídia ignora.
Eu, do meu lado, dizia que se a mídia ajudasse a fazer o caso ser resolvido, não me importava em ver o assunto nos jornais todos os dias. Que embora houvesse uma exploração direta a respeito, o efeito disso poderia ser positivo. E que não adiantavam conceitualizações de como a sociedade seria afetada por essa insistência com o caso, já que o brasileiro tende a se refugiar em tragédias públicas e pessoais.
Eu me sinto muito tocado por tudo isso, e já falei a respeito aqui o blog. Ontem, chorei muito no final da entrevista e passei horas pensando em como a violência se tornaria obtusa se seus condutores tentassem o exercício de se colocar no lugar do outro. Imaginar o sofrimento daquela moça fazia a vida parecer absurda.
A classe média, vivendo um momento de reconfiguração de valores (vide Suzane Von Richttofen), dá mais um sorriso sinistro pra nossos rostos chocados. Alguns pontos da entrevista de Ana são no mínimo curiosos sob esse aspecto. Quando ela diz que não tratava nada sobre a filha com Alexandre e sim com o pai dele, fica claro o papel desse homem na formação do filho. Mesma profissão. Apartamento dado à ele pelo pai. O pai ser o primeiro pra quem ele liga na hora da tragédia.
Hoje, a Globo.com nos presenteia com uma entrevista com o homem. O pai de Alexandre acusa Ana Carolina de mentirosa e afirma que vai tentar impedí-la de depôr no julgamento. Precisa proteger o filho. E que engraçado... um dos momentos mais terríveis da entrevista foi quando Ana Carolina fala da impotência de não poder ter defendido a filha.
É difícil aceitar que com um pai advogado, ciente dos parâmetros, Alexandre provavelmente não vai pagar por esse crime como deveria. Trazendo à tona um dos argumentos de minha amiga Mariana, que dizia que o crime tinha um aspecto sobretudo pessoal e não de ordem social (o que injustificava a exposição), eu acho que nada me soa tão amplamente notório quanto os monstros sociais escondidos debaixo desse engodo.
O quanto de responsabilidade tem um pai sobre as noções de responsabilidade que um homem pode ter? E o quanto a sociedade enquanto expectativa está contribuindo com isso? O que leva alguém a cometer um crime de modo impensado e pra escondê-lo, torna-se disposta a cometer outros? Com as noções de responsabilidade inexistentes será que se vão também as noções de consciência e ombridade? E é isso que gera a completa incapacidade de admitir erros? E pode um pai curvar-se a tudo isso em detrimento da vida da própria filha?
Ana Carolina descrevia com grande pesar os últimos momentos com a filha e demonstrava uma força e uma sabedoria sem dúvida, comoventes.
Não tenho grandes expectativas quanto ao final de tudo isso. Tenho um desejo imenso de que algo aconteça pra impossibilitar a defesa do casal. Se não, que pelo menos Ana Carolina conserve aquele gigantismo emocional e que a vida retorne com juros a inconsequência do casal Nardoni.
O motivo do título desse post é um só: a entrevista de Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá sobre o crime contra Isabella.
Dava pra acreditar naquilo??
Teatro de quinta! Nenhuma família é tão feliz e utópica assim.
"passávamos o dia cantando... dançando... brincando..."
Me engana que eu gosto.
E dizer agora que a menina chamava a madrasta de mãe e queria morar com eles e tudo, é o fim da picada!!
Acabo de ler mais alguns detalhes da investigação sobre a morte da menina Isabella no site da Uol. Todo o crime já é por sí só devastador. Ler as conclusões da perícia, de que a menina foi espancada e estrangulada antes de ser atirada do prédio, só faz passar pela cabeça um pensamento: Que gente é essa?
Até ontem, eu ainda achava (mesmo que com muito esforço) que o pai pudesse estar falando a verdade e alguém ter realmente entrado no apartamento pra matar a menina. Embora parecesse totalmente sem sentido que um ladrão entrasse, não roubasse nada e ainda cometesse o crime antes de sair. No entanto, o desejo de que esse pai não fosse tão monstruoso era tão grande, que eu me esforcei.
Até que chega a notícia de que a perícia guardava em sigilo as provas de que a menina tinha sido ferida ainda dentro do carro, que sua ferida tinha sido estancada com uma fralda do irmão e que pingos de sangue iam do hall do apartamento até o quarto em que ela foi atirada. Isso, desmontava a versão do pai, de que a menina chegou ilesa até o apartamento. A madrasta, que não chegou nem perto do corpo da menina depois que ela foi jogada, tinha sangue nas solas dos chinelos e na roupa. Se Isabella chegou ilesa ao apartamento, e nem o pai e nem a madrasta tiveram contato com ela no momento da queda, como explicar o sangue no carro, nas roupas e sandálias? Simples. Não há explicação.
A cena do crime se montou na minha cabeça. E era surpreendentemente parecida com a descrita pelo uol como possível circunstância da morte.
Dentro do carro, uma já irritada madrasta estapeia Isabella por alguma razão. A menina bate com a testa na lateral do carrinho de bebê (onde foi encontrado sangue também) e começa a sangrar. O pai usa uma fralda do filho mais novo pra estancar o sangue, mas nada adianta, a menina sangra muito. Eles chegam à garagem. Isabella é levada enrolada nessa fralda até o apartamento. No caminho, algumas gotas de sangue ficam pelo hall de entrada. Já no apartamento, o pai tenta usar uma toalha pra limpar o sangue no rosto da menina. A madrasta, ainda muito descontrolada começa a ter uma briga com Alexandre por ciúmes. Os motivos são os mesmos: Isabella é uma estranha no ninho familiar construído por ela. Por alguma outra razão desconhecida, a madrasta começa a estrangular Isabella e sacudí-la. A menina perde os sentidos e seus sinais vitais ficam fracos. O pai pensa que ela está morta e entra em desespero. No entanto, sua atitude é a de encobrir a violência. Ou por medo de ser envolvido ou por respeito à mãe de seus outros dois filhos (por mais que essa mulher tenha cometido tão horrível violência). Alexandre decide montar uma cena. Revira o apartamento, manda a mulher lavar a fralda e a toalha (encontradas depois) e decide jogar a menina do prédio num intuito provável de com a queda, suplantar os outros ferimentos e confundir a perícia. Alexandre é estagiário de direito, é importante lembrar. Há um problema no caminho de seu plano: a rede de proteção da janela. Mesmo sabendo que isso fragilizaria seus argumentos (que espécie de invasor casual se daria ao trabalho de cortar a rede de proteção pra jogar a menina podendo simplesmente matá-la ali mesmo e rapidamente?) ele decide fazer mesmo assim. Corta a rede e joga Isabella, providenciando uma reação à altura logo depois.
Alexandre Nardoni não contava com: a perícia minuciosa, que captou vestígios em roupas até mesmo já lavadas. A estratégia da polícia em esconder evidências pra que a versão dele fosse cada vez mais reforçada e ele não tivesse condições de fugir dela quando as provas viessem à tona. As testemunhas do prédio da frente, que ouviram a discussão dele e da mulher. E principalmente, Alexandre não contava que sua versão fosse ser tão invalidada pela completa ausência de vestígios de uma terceira pessoa e de motivos pra que qualquer estranho fizesse tal coisa com a menina.
Mas estranho ainda, é ver os advogados e a família do acusado insistindo em ignorar todas essas evidências. Óbviamente, que negar será sempre a melhor solução. Enquanto não houver uma prova cabal, eles terão algum benefício de dúvida. E assumir que feriram e assassinaram uma menininha de cinco anos vai provocar uma onda de repúdio do qual eles jamais conseguirão se livrar. Mesmo que sejam condenados e paguem pelo crime, negarão sempre. Dessa forma, criam até uma certa mitologia em torno de uma verdade oculta que ninguém nunca conhecerá. São espertos. Frios.
Agora, pelo amor de Deus, quem teria coragem de jogar uma criança, mesmo que morta, de uma altura tão grande? Ainda mais, sendo a própria filha? E que amor é esse que faz com que esse homem permita que essa mulher fique impune por ter matado sua filha? Que valores são esses? Infringir tanto sofrimento a uma criança inocente. Fazê-la sofrer.
Vamos esperar pra ver até onde vai essa história. Eu torço por uma retomada de consciência desse casal. E que eles falem a verdade. Só a verdade.