Enquanto a segunda temporada fez nascer a mitologia, a terceira foi uma temporada de ajustes. Carter revela em uma entrevista anos depois, que foi intimidado pelos executivos da Fox a realizar uma série nos moldes dos episódios de Além da Imaginação, com histórias fechadas e sem absolutamente nenhuma conexão entre si. Como em muitas coisas que fez durante seus anos à frente do programa, Carter resistiu e não cedeu. Encheu a primeira temporada de conexões indiretas e assumiu as conexões a longo prazo com Anasazi¸no final da segunda. O que apavorou os executivos: nenhum deles achava que fazer um fã esperar seis meses pra ver uma continuação ou obter uma resposta, seria uma boa estratégia. Os showrunners de hoje devem muitos agradecimentos ao que Chris Carter fez pela indústria das séries naqueles anos 90. Sem ele, talvez fosse impossível para Damon Lindelof e Carlton Cuse, convencerem a ABC a levar adiante uma idéia que só ficaria clara depois de seis anos de show.
Certo de suas decisões, Carter aproveitou os prêmios e a audiência crescente para incorporar as bases definitivas da mitologia. O Globo de Ouro vindo pela segunda vez ajudou a tornar essa perspectiva possível. A terceira temporada é uma temporada fraca de episódios soltos e muito forte de episódios mitológicos. Foi provavelmente aqui que o projeto (nome dado ao conjunto de decisões conspiratórias que escondiam os segredos perseguidos por Mulder) ganhou vida. Foi provavelmente aqui que as temporadas seguintes foram planejadas do ponto de vista mitológico. E esse planejamento provou, pelo menos até a sexta temporada, estar muito coeso e objetivo.
A abdução de Scully foi ganhando mais capítulos, a aparição do óleo negro ampliou as teorias científicas e os homens comandados pelo Canceroso revelaram parte de seus objetivos globais. De súbito, a série começou a ser tratada pela mídia e por intelectuais como um produto genuinamente desafiador, épico. As teorias passaram a circular pela net e pelo boca-boca como rastilhos de pólvora e o culto começou a ganhar força. Já tínhamos revistas especializadas na série, livros, colunas, convenções... A terceira temporada é marcada pela quebra de uma barreira: a de que séries de ficção científica, de fenômenos sobrenaturais, podem sim ser levadas a sério e servir de referência para sagacidade e inteligência.
Vamos então aos dez melhores episódios da terceira temporada:
“Operação Clipe de Papel” - 3X02
A primeira parte da primeira grande trilogia da série iniciou-se em Anasazi, na temporada 2. A terceira temporada começa com O Caminho da Cura, que mostra como Mulder conseguiu escapar da armadilha do Canceroso e como Scully descobriu que um chip foi parar em sua nuca sem maiores explicações. Mas é só em Operação Clipe de Papel, que a trilogia mostra todo seu poder e nos presenteia com sequências de tirar o fôlego. O título do episódio diz respeito a um programa secreto que catalogava abduzidos em todo mundo. Ao chegar ao “depósito” de arquivos, Mulder encontra o nome de Scully e o de sua irmã entre os abduzidos. Acaba descobrindo que deveria ter sido levado no lugar da irmã. A cena é uma das mais preciosas da série e tem o momento antológico que mostra uma nave chegando e no escuro dos corredores, Scully sente, apavorada, pequenos seres passarem correndo por ela. O episódio ainda tem outra dezena de momentos importantes como a morte da irmã de Scully, o embate entre O Canceroso e Skinner, a revelação da mãe de Mulder de que havia uma razão para sua irmã ter sido levada ao invés dele, a morte de seu pai funcionando como um catalisador de sua relação com Scully, os novos rumos de Krycek e por aí vai. É um desbunde de criatividade e inteligência.
“O Repouso final de Clyde Bruckman” – 3X04
Darin Morgan é conhecido dos fãs da série por seus episódios de narrativa desconstruída e incrível senso de humor. O Repouso final de Clyde Bruckman foi premiado no Emmy e é sem dúvida, um grande momento do programa. Mulder e Scully investigam mortes de videntes que parecem todas executadas por um curioso serial-killer. No processo, acabam encontrando com Clyde, um vidente de verdade que consegue ver o momento em que qualquer um morrerá, no futuro.
“Os Japoneses” – 3X09
Como disse na introdução do post, essa é uma temporada mitológica e entendendo como esses episódios interessavam os fãs, Carter jogou outro episódio duplo antes mesmo da metade dela. Nessa maravilhosa trama, Mulder recebe uma fita com uma provável autópsia alienígena (numa referência à famosa fita que foi veiculada até mesmo aqui no Brasil, no nosso Fantástico) que ao contrário de sua homônima fraudulenta, mostra-se quase verídica. A investigação leva Mulder a crer que uma entidade alien estaria sendo transportada de trem pelo país e ele segue em seu encalço. Como já de costume nos bons episódios mitológicos, Scully segue em outra vertente da investigação, descobrindo que há várias mulheres abduzidas que também tinham um chip na nuca, que estão morrendo de câncer.
“O Falso Alienígena” – 3X10
A continuação de Os Japoneses eleva o nível dos roteiros um grau a mais. Scully descobre, numa sequência impressionante, que uma base é mantida para experiências com células híbridas. O Sindicato, vendo onde ela está chegando, não tem outra escolha e manda um membro do clã para convencê-la de que o que Mulder persegue naquele trem é um desses seres híbridos mal sucedidos, que são eliminados aos montes, em covas coletivas, na base. O episódio termina com o informante X salvando Mulder de uma grande explosão para eliminar a criatura.
“Revelações” – 3X11
Antes do filme com Patricia Arquette, pouco se sabia sobre as estigmas (feridas iguais as de Cristo que aparecem em pessoas muito religiosas sem que tenham sido infringidas) e Kim Newton as aborda nesse sinistro episódio em que as tais estigmas começam a aparecer em um garoto problemático. O episódio tem seu ponto alto quando Mulder explica a ocorrência do fenômeno daquela maneira tão desesperada com a seguinte frase: tenho medo de que Deus esteja falando... e ninguém esteja ouvindo.
“A Morte vem do Espaço” – 3X13
Carter é bom de episódios mitológicos, mas costumava dar seus vacilos em histórias soltas. Aqui, no entanto, temos uma excessão. A morte vem do espaço é uma história deliciosa sobre um raro alinhamento astral que tem uma pequena cidade americana como catalisador. Duas amigas, que nasceram no mesmo dia e hora, acabam captando toda essa energia devastadora e usando-a para o mal. O problema é que o alinhamento acaba mexendo com todo mundo e com isso quem ganha é o espectador, que vê um Mulder todo sexual e uma Scully descontrolada de ciúmes. O episódio tem um grande momento, quando as energias das duas garotas estão tão intensas que provocam uma chuva de pássaros mortos no meio da madrugada. A cena, com canto gregoriano ao fundo, é um desbunde. Temos um elenco de nomes futuramente famosos como o de Lisa Robin Kelly (That’s 70 Show) e Ryan ... (...). A canção All Over You, do Live, toca na cena da festa. A banda acabou se tornando pra mim, mais tarde, uma referência de qualidade e poesia.
“O Mistério do Piper Maru” – 3X15
A dupla Carter e Spotnitz começa a se consolidar como uma dupla de roteiristas mitológicos, e eles decidem inserir outro elemento na mitologia. O oléo negro faz sua primeira aparição e a ideia é tão simples quanto genial. A entidade alienígena, presa no fundo do mar, dentro de um submarino, aproveita uma expedição de exploração e pula de hospedeiro. Isso mesmo. A massa gosmenta de óleo salta de uma pessoa pra outra, controla sua mente, e só é perceptível por conta de uma sombra escura que desliza pelos olhos da vítima. Seria tão absurdo se estivesse em outra série, mas aqui em Arquivo X se torna um símbolo da capacidade do programa de dominar a narrativa (algo muito parecido com o que aconteceu com o monstro de fumaça em Lost). Mulder descobre, em sua investigação, que Krycek tem vendido segredos para outros governos desde que o Sindicato tentou se livrar dele numa queima de arquivo. Mulder o captura em Hong Kong e no caminho de volta, Krycek acaba se tornando a próxima vítima do óleo.
“O Mistério do Piper Maru II” – 3X16
Na continuação, Krycek, tomado pelo óleo, procura O Sindicato para trocar a fita com os arquivos MJ que ele possuía, por algo que o grupo de conspiradores possui dentro de um silo de mísseis. Mulder e Scully descobrem que o submarino naufragado tinha tido contato com um OVNI que mais tarde teria sido resgatado. É exatamente essa nave que a entidade possuidora de Krycek procura. Em troca da fita, O Canceroso leva Krycek ao silo e numa cena impressionante, o russo “vomita” o óleo pelos olhos, pela boca, pelo nariz, pelas orelhas... na superfície da nave. Mulder e Scully descobrem o silo, mas são pegos pelo Canceroso e impedidos de alcançar o OVNI. O episódio termina grandioso, com o óleo de volta ao seu “lar”, e Krycek preso dentro do silo. Aqui fica claro que o membro do sindicato vivido por John Neville tem personalidade ambígua. O episódio também tem a clássica frase de Scully sobre a consciência ser uma voz vinda dos túmulos dos mortos.
“Do Espaço Sideral” – 3X20
A série perde mais um grande roteirista. A saída de Glen Morgan e James Wong foi sentida nessa temporada, fraca de bons episódios avulsos, e com a despedida de Darin Morgan, a produção executiva tem o pepino de manter a qualidade dessas histórias. Aqui nesse absolutamente fantástico episódio, ficamos conhecendo um pobre soldado do governo que tem a ingrata função de forjar abduções alienígenas e que um dia acaba sendo verdadeiramente abduzido. Com mais uma narrativa descontruída, cheia de fragmentações, vamos conhecendo o roteiro enquanto ele vai sendo contado por diversos pontos de vista. São tantos os momentos antológicos que eu precisaria de muitos tópicos para descrevê-los.:
“O Milagre” – 3X24
A Season Finale da terceira temporada é, em minha opinião, a mais fraca de todas! Mais do que até mesmo das últimas temporadas. Embora a ideia fosse boa – um homem misterioso chama a atenção da polícia após curar milagrosamente as vítimas de um assalto – e estivesse claramente conectada aos eventos científicos da segunda temporada, o episódio tem um final frouxo e não melhora na sua segunda parte. Outros ícones da série aparecem pela primeira vez aqui, como Jeremiah Smith (ícone da resistência alien) e a arma parecida com um picador de gelo que é a única coisa capaz de matar os alienígenas. No entanto, Carter exagera um pouco nos detalhes e vemos os primeiros perigos provocados pelo excesso de criatividade. De uma só vez, sabemos que os alienígenas curam outras pessoas, só morrem com um furo na nuca, têm lados opostos na questão colonizadora e podem se transmorfar até em pessoas mortas. Aqui também temos a primeira menção ao caso entre O Canceroso e a mãe de Mulder e o paradeiro de Samantha volta ao cerne da questão. Embora cheio de problemas de ritmo, o episódio é importante demais para a mitologia para não fulgurar nessa lista.
Agora vamos dar atenção aos erros. Como já dito, houve muitos enganos nos episódios soltos, que continuaram apostando em mutações e criaturas que não serviam ao propósito intelectual da série.
“O Raio da Morte” – 3X03
Howard Gordon continua sua carreira de ideias esdrúxulas e vem com esse episódio sobre um garoto que sobrevive a um raio e começa a controla-los. O episódio seria indigno até de menção, se não fosse Jack Black começando sua carreira fazendo uma ponta nele.
“A Guerra das Baratas” – 3X12
Darin Morgan não vai embora sem cometer seu erro. Embora esforçado e bem humorado, esse episódio sobre baratas é chato como a anatomia de suas protagonistas. Tem Mulder arrastando asa pra tal da Bambi e Scully falando com ele pelo telefone o tempo todo, já que Gillian Anderson não podia estar à frente do episódio por conta de outros compromissos. As mortes são fracas, as baratas não convencem como assassinas e as teorias que fundamentam os roteiros são confusas e forçadas. Enfim, ruim. Bem ruim.
“A Maldição da Múmia” – 3X18
Pior ainda, só esse A Maldição da Múmia. Não sei onde aquele povo estava com a cabeça quando resolveu colocar a culpa de uma série de crimes misteriosos num bando de gatos possuídos. As sequências que envolvem Scully sendo atacada pelos gatos é tão ruim que chega a dar vergonha. O episódio todo é chato, feio, não se resolve teoricamente e ainda nos premia com esse desfecho totalmente indigno da série.
“O Monstro do Lago” – 3X22
Mais um episódio monstro da semana que podia ter ficado na gaveta. Claramente inspirados pelo monstro do Lago Ness, o pessoal resolve contar a história de um tal monstro que aparece num lago e está matando gente. Mulder vai pra cidadezinha cheio de vontade de encontrar a criatura e Scully segue-o entediada. A história não é boa, mas o episódio tem um monte de bons momentos, principalmente nos diálogos. O roteiro tem bom humor, caçoa dos agentes, mata a cadelinha feia de Scully e faz boas comparações entre Mulder e o herói de Moby Dick. Mas ao passo em que a série sempre preferiu teorizar muito mais do que conceitualizar, obviamente que a existência da criatura de fato não era importante. Quando os agentes encontram um crocodilo gigante, tudo se encaixa dentro dos propósitos nada megalomaníacos do programa, mas eis que nos segundos finais, Kim Newton, roteirista do episódio, resolve achar que Arquivo X podia se permitir um toque disneylândico e coloca uma criatura meio pré-histórica nadando no horizonte do lago, inofensiva e poética. Quase dá pra esperar a vinheta da Sessão da Tarde vindo logo depois dos créditos. Pois é, Newton, você achou que Arquivo X permitia esse tipo de coisa, mas olha aí! Não permite.
See you in the fourth season...
A surpresa da audiência diante da Inteligência dos roteiros de The X-Files resultou para série, depois de uma primeira temporada de ajustes, em uma bem-vinda renovação de contrato. A Fox deu sinal verde para a segunda temporada, meio ainda sem acreditar que aquela história sobre ciência e teoria chegaria a algum lugar além desse segundo ano.
A verdade veio com os primeiros prêmios Emmy e Globo de Ouro. Uma pesquisa rápida em forúns de discussão já deixava claro que a série já era um fenômeno de apreciação intelectual, com uma mitologia em definição que merecia toda a atenção. A segunda temporada estreiava em 16 de Setembro de 1994 e nem imaginava que seria o rito de passagem para o estrelado mundial.
Gillian Anderson, que dependeu da teimosia de Carter para permanecer na série, acabou engravidando no final da primeira temporada. O choque foi total. A atriz, que sabia que nunca tinha sido a primeira escolha do canal, entrou em pânico e prometeu fidelidade eterna ao criador da série se ele a mantivesse no programa (o que acabou se confirmando nos anos em que Duchovny começou a se desligar do programa). Carter então começou a tentar encontrar alternativas para solucionar a ausência iminente de Scully de alguns episódios. As decisões criativas tomadas na ocasião resultaram numa maturidade mitológica que elevou Arquivo X ao status de genialidade.
Vamos então aos dez melhores episódios da segunda temporada:
“Homenzinhos Verdes” - 2X01
A primeira temporada terminou sem certeza de retorno e por isso a história fechava com o encerramento do departamento chamado “Arquivo X”. Esse primeiro episódio mantinha essa atmosfera de incerteza, com Mulder e Scully separados e mantendo contato clandestinamente. O episódio tem um dos epílogos mais bonitos da série, com um texto ótimo sobre a sonda de contato alienígena lançada pela Nasa em busca de vida em outros planetas. Mulder tem mais contatos estranhos com essas forças e também é nesse episódio que a mitologia sobre sua irmã desaparecida se torna um dos carros-chefe da trama. O segundo informante de Mulder, o Mr.X, também aparece pela primeira vez aqui. Vale lembrar que o prestígio de Glen Morgan & James Wong como roteiristas crescia tanto que eles tiveram a responsabilidade de iniciar a temporada.
“Duane Barry” – 2X05
Um dos maiores clássicos da série, o episódio sobre o repetente (abduzido várias vezes) Duane Barry foi a solução que a equipe de Carter encontrou para garantir a ausência de Scully. Com medo de ser levado novamente, Duane sequestra a agente e ela é abduzida em seu lugar. O choque dos fãs na época foi imenso. Nenhum programa até então tinha colocado seus protagonistas sob tensão tão original, garantindo que essas mudanças afetassem a vida deles permanentemente. A abdução de Scully virou o divisor de águas da série e transformou a personagem num ídolo. O sucesso de Gillian estava garantido. A partir dali, a cética Dr. Scully se tornou indispensável.
“A Ascensão” – 2X06
Segunda parte do episódio duplo que mostrava a abdução de Scully, “A Ascensão” demarcou as coisas, mostrando a Mulder que a conspiração envolvia muito mais do que ele esperava. Aqui, seu parceiro Krycek, enviado para substituir Scully, se revela também uma peça das mentiras que flutuavam no FBI. Krycek também acabou virando um elemento importante para a mitologia, um dos muitos personagens periódicos da série que quando apareciam, significavam momentos de muita tensão. Junto com ele, O Canceroso parou de ser um figurante silencioso no fundo da cena e ganhou voz. Já ficara claro que ele era o maior rival de Mulder.
“Irresistível” – 2X13
O mau, sob o ponto de vista da psicologia, se mescla aos submundos mais desconhecidos da mente humana. Ele é variável de acordo com o nível de consciência que se tem a respeito dos efeitos de determinada ação sobre o oponente. O episódio ” irresistível” fala do mau. O mau em sua forma bruta. E Scully é que acaba ficando frente a frente com essa manifestação. Na história, o coveiro Donnie Brasco se revela um serial killer com um fetiche incontrolável por cabelos femininos.
“Os Adoradores das Trevas” – 2X14
A dupla Morgan & Wong volta á cena com um roteiro que é uma verdadeira pérola de terror e inteligência. Imagine que na sua cidadezinha, no seu colégio, o diretor, o coordenador, a associação de pais, todos com um propósito moral de prestar serviços de apoio ao aluno, escondessem um grande segredo? O teaser do episódio é impressionante, Kim Manners dá uma aula de direção. A história passeia pelos conceitos de magia negra e Mulder e Scully têm uma ajuda na investigação que só pode ser considerada no mínimo, intrigante. Há uma piada interna nos créditos do episódio, com os nomes dos roteiristas incluindo alcunhas sem sentido comum. O episódio também tem a famosa cena dos sapos caindo do céu.
“A Colônia” – 2X16
A primeira parte do episódio duplo que vai fundo nos mistérios que envolvem o desaparecimento da irmã de Mulder, tem uma discussão genética interessantíssima, que se apóia nos eventos iniciados no final da primeira temporada. Começa a manipulação emocional com Mulder, em que o Sindicato (como ficou conhecido o grupo de homens que parecia dominar os segredos conspiratórios) traz à tona várias versões falsas de Samantha Mulder afim de com isso, distrair ou remanejar as atenções da investigação do agente. Primeiro episódio em que David Duchovny se envolve em mais além do que a atuação.
“A Fraude” – 2X20
Conhecida como uma das temporadas mais sombrias da série, essa segunda jornada poderia mesmo levar esse título. Darin Morgan resolveu escrever uma história sobre aberrações de circo. O resultado é um dos episódios mais surpreendentes e nojentos da série. Entre os momentos de loucura estão mulheres barbadas, comedores de coisas vivas, auto-mutilações, gêmeos siameses e Scully comendo insetos. Imperdível!
“Os Calusari” – 2X21
Sarah B. Charno escreveu dois episódios nessa temporada: um muito ruim e outro muito bom. Os dois serão mencionados nesse post, mas aqui Os Calusari ganha destaque como um roteiro sombrio, sagaz e assustador. O “calusari” do título diz respeito a uma categoria de sábios da cultura judaica que são responsáveis pela manutenção espiritual de seu povo. Na história, um bebê morre misteriosamente num parque temático e Mulder começa a desconfiar do irmão de oito anos da criança. A trama gira em torno de fé e possessão demoníaca e tem um desfecho impressionante que deixa qualquer um de cabelo em pé. Destaque para a suástica, que aqui aparece como um símbolo de proteção espiritual.
“Nossa Cidade” – 2X24
Aquele se tornaria o maior parceiro de mitologia do criador da série, chega à equipe do programa com esse Nossa Cidade. Frank Spotnitz começa com um episódio solto, mas já mostra a que veio, com uma história embasbacante sobre canibalismo. Se você acha impossível que galinhas e decapitações humanas sejam impossíveis num mesmo roteiro, assista esse episódio. Nele temos o já conhecido por papéis cômicos Gary Grubbs, vivendo um policial sério.
“Anasazi” – 2X25
Cadáveres de possíveis alienígenas são encontrados numa reserva indígena e isso é o suficiente pra deixar Mulder completamente transtornado. Aqui, começa a lenda das trilogias perfeitas que permearam a série, com Mulder e Scully agindo juntos, mas separadamente. Cada um destrinchando uma pista, numa fórmula que consagrou o programa. Tudo nesse episódio é especial, desde a dinâmica dos protagonistas até a frase de abertura que escreve The Truth is Out There em língua navajo. O episódio é muito marcante para os grupos de defesa UFO, já que os arquivos MJ entregues à Mulder são velhos conhecidos das teorias ufológicas que circulam até hoje nos sites e revistas especializadas. Não houve um só especialista ou simpatizante das teorias UFO’s que não saiu da primeira parte dessa trilogia, satisfeitíssimo.
No entanto, os erros cometidos na primeira temporada não foram totalmente corrigidos e a segunda temporada também têm suas pérolas de desvio criativo. Nada que afete a qualidade da série como um conjunto, mas que valem a pena serem lembrados.
“O Hospedeiro” – 2X02
Não sei porque raios Carter achou que valia a pena escrever um episódio sobre um verme gigante escondido nos esgotos. Cometeu o mesmo erro que em O Demônio de Jersey. Houve algum festejo com o episódio por conta da ousadia da equipe de efeitos especiais, mas enquanto roteiro, o episódio é fraco e arrastado.
“Sangue” – 2X03
Quem diria que a dupla Glen Morgan & James Wong tropeçaria na qualidade segmentada de suas histórias, mas em Sangue os dois erram a mão muito feio e escrevem um episódio chatíssimo sobre mensagens subliminares. O orçamento adorou, quase nenhum gasto com ação e efeitos, mas quem saiu perdendo foi o espectador.
“Aubrey” – 2X12
Sarah B. Charno fez bonito com Os Calusari, mas antes peidou na caneca com um episódio que até tinha uma idéia boa, mas que por conta de uma atriz ruim e um roteiro frouxo acabou sendo penoso. A história falava sobre os impulsos assassinos que podem ser transmitidos através das gerações, mas o que fica bom aqui na sinopse não funcionou na tela. Pobrezinho do Terry O’Quinn, que pedia pelo amor de Deus por uma oportunidade na TV e acabou fazendo um episódio péssimo na temporada. Sua sorte foi que Carter ia muito com sua cara e usou-o outras vezes na série, dando-lhe mais tarde um personagem fixo na fantasmagórica Millennium. No entanto, só no ano de 2004 – anos depois do fim de Millennium – que ele redescobriu a fama quando entrou numa sériezinha de mistério chamada LOST.
“O Navio Fantasma” – 2X19
Howard Gordon & Alex Gansa são os campeões de equívocos e aqui escrevem mais um. A trama sobre um navio perdido na fronteira com uma fenda temporal parecida com a do Triângulo das Bermudas, poderia ser perfeita se os roteiristas não tivessem achado que Mulder e Scully precisavam VIVER os efeitos de envelhecimento precoce provocados pela fenda. A verossimilhança do episódio vai por água abaixo quando vemos os agentes com uma maquiagem exagerada, passando dias no navio sem um pingo de ação ou surpresa. Salvos no último minuto – mais uma vez – saem de uma experiência quase fatal de dias como se nada tivesse acontecido. Esse aliás, é um dos problemas desse tipo de formato narrativo: por mais que pelo bem da ação os protagonistas precisem passar por situações limítrofes, há de se ter um equilíbrio, ou tudo para de ter relação com a vida e vira mitologia de HQ, o que aqui, não se aplica.
“Luz Suave” – 2X23
Vince Gilligan, hoje responsável pelo grande sucesso Breaking Bad, escreveu esse episódio que fala de um homem com uma sombra assassina. Isso mesmo. Um Peter Pan mortal. A sombra do cara era assassina. Você pisava na sombra e Bam!! Morria. Virava carvão. Isso mesmo. Sombra assassina. Pisou, morreu. Sombra Assassina. Precisa dizer mais alguma coisa? O intérprete do famoso Monk é que estrelava o episódio.
See you in the thrid season...
Seguindo o compromisso de revisitar as temporadas da série de ficção científica mais importante da história da TV mundial, passemos para uma breve avaliação dos melhores e piores episódios de cada temporada. Mas lembrando que essa lista não terá qualquer serventia se não for pra instigar a curiosidade do leitor. Então se esses comentários lhe parecerem mesmo que ligeiramente interessantes, baixe o episódio em questão e assista. A saga de Mulder e Scully pode ser tudo, menos irrelevante.
Os dez melhores episódios - Season 1
Piloto - 1X00
Considerado como um dos melhores pilotos da história, o episódio já começa com uma mensagem que nos diz que tudo que veremos foi baseado em documentos reais. Daí então conhecemos a agente Scully, uma cientista designada para invalidar o trabalho do agente Mulder, um apaixonado defensor de teorias fantásticas que teve a irmã pequena abduzida por alienígenas. O choque entre os dois é imediato e em seu primeiro caso juntos investigam uma série de abduções ocorridas numa cidadezinha. Aqui vemos o Canceroso pela primeira vez, parado, quietinho, fumando, na sala do diretor do FBI. E vemos também o famoso corredor de evidências do pentágono.
A verdade está lá fora - 1X01
O segundo episódio manteve o plot do piloto e mostrou Mulder buscando informações sobre testes feitos com soldados usando tecnologia alienígena. A famosa frase de abertura "The truth is out There" aparece pela primeira vez, assim como a famosa cena das luzes sendo vistas por uma Scully estupefata. A personalidade de Mulder é muito bem delineada nesse episódio. Daqui por diante ele acaba ganhando a fama de caçador de encrencas que o imortalizou. Seu primeiro informante, apelidado de Garganta Profunda, surge aqui pela primeira vez.
Sombras - 1X05
A dupla Glen Morgam & James Wong foi responsável por bons episódios da série. As idéias dos dois rendiam sempre ótimos momentos e esse Sombras é um bom exemplo disso. Os fantasmas ganham sua estréia nessa assustadora teoria de que uma vez presentes na sua vida, as pessoas podem não te abandonar nem na morte. O título em português do episódio casa bem com o estilo dos roteiristas, que adoram engendrar seus enredos no oculto e invisível. A dupla acabou criando uma inteligente e bem sucedida franquia no cinema chamada Premonição, onde o vilão é o mais invisível de todos: a morte.
Terror no Gelo - 1X07
Morgan & Wong novamente. Mulder e Scully viajam para o Alaska para investigar as estranhas mortes de uma equipe de expedição. Lá, descobrem um nojento parasita que se disfarça no sistema nervoso central e muda o humor dos hospedeiros. Uma vez que duas pessoas estejam infectadas, elas lutarão até que uma delas morra. O clima do episódio é incrível. Tenso. Nunca se sabe quem está infectado e como o infectado vai agir. Aqui temos uma participação da futura desperate housewive, Felicity Huffman e a famosa cena de Mulder tirando a roupa para uma vistoria e dizendo: não façam julgamentos, estamos abaixo de zero.
Caçada Sangrenta - 1X09
Somos apresentados, nesse que é um dos poucos bons episódios escritos por Howard Gordon & Alex Gansa, a um personagem inesquecível dentro da mitologia da série: Max. O nerd afirma ser um repetente (constantemente abduzido) e é encontrado por Mulder nas redondezas de uma operação de resgate de uma possível nave. O personagem só apareceu duas vezes na série e inaugurou a galeria de coadjuvantes inesquecíveis do programa.
O Vidente - 1X12
Mesmo sendo uma cética cientista, durante os primeiros anos da série, os roteiristas adoravam colocar Scully diante de situações sobrenaturais. Aqui, nesse espetacular episódio da dupla Morgan & Wong, o impressionante teaser (cena antes da abertura) mostra Scully se despedindo da mãe e depois cochilando no sofá. Ao abrir os olhos momentaneamente, ela vê o pai sentado na poltrona logo à frente. Ele parece falar, mas ela não ouve nada (as aparições de espíritos na série mantém todas esse padrão), ele some e ela segundos depois recebe uma ligação avisando que o pai morrera. Esse evento se une ao caso que Mulder e ela investigam sobre um condenado à morte que depois de escapar da sua primeira execução, afirma ter passado a ver os espiritos dos que matou e a fazer previsões. É o primeiro episódio que inverte os papéis e mostra Scully crente e Mulder cético.
Assassino ou Assassina? - 1X13
Um misterioso assassino que parece ter a capacidade de mudar de sexo une Scully e Mulder num caso que os leva até uma estranha comunidade isolada no interior dos EUA. O episódio tem um ritmo lento e pode parecer irrelevante. Mas se o espectador souber esperar até os minutos finais, terá uma bombástica revelação que inclui uma teória interessante para os famosos círculos ingleses.
O ser do Espaço - 1X16
A dupla Morgan & Wong entrega mais uma pequena obra prima. Mulder fica sabendo que os militares abateram uma nave e que pode haver um possível sobrevivente sendo transportado. A busca insana dele para ver a criatura começa e como em todos os episódios que envolvem sua crença, David Duchovny vive um Mulder perturbado e tenso. O episódio é cheio de reviravoltas que são coroadas com uma cena final que é um desbunde de inteligência e lógica. Garganta Profunda conta a um esfarrapado Mulder, que o destino dessas criaturas já está traçado há muito tempo e some nas sombras num momento que mostra porque essa série foi tudo que foi.
A Besta Humana - 1X18
The X-Files mexeu muitas vezes com mitologias clássicas. Mexeu menos com as mais conhecidas como vampiros, bruxas e lobisomens, mas essa última ganhou um representante á altura nesse assustador episódio de Marilyn Osborn. Sabiamente, a roteirista abordou os lobisomens pelo ponto de vista da cultura indígena, que dá á criatura o nome de Manitou. Esse espírito retorna em ciclos de oito anos para amaldiçoar os membros de uma linhagem outrora contaminada pela maldição. Mulder e Scully começam a investigar os assassinatos provocados pelo retorno da criatura e se deparam com o monstro. Mesmo com pouco orçamento, as soluções criativas do episódio foram sábias e renderam uma das cenas de transformação mais bacanas da série. Aqui, mais uma vez, quem testemunha a transformação é Scully e sua fama de explicações científicas impróprias começou a ganhar referências.
Jogo de Gato e Rato - 1X23
Carter encerra a primeira temporada de sua série em grande estilo. O Season Finale reúne Mulder e Scully dentro da trama de manipulação genética que irá permear a série por toda sua vida. O interessante aqui é que é Scully quem conduz a narrativa final e que tem contato com o material genético alienígena que servirá de moeda de troca pela vida de Mulder. A cena na ponte, com a morte do Garganta Profunda é um clássico, assim como sua frase final "Trust no One", que vira frase de abertura nesse episódio, inaugurando as mudanças de frases que se tornaram marca registrada do programa.
Como nem tudo são flores, vamos ser justos e listar também os equívocos. E olha que não foram poucos...
Os piores episódios - Season 1
O Demõnio de Jersey - 1X04
Carter, o criador da série, apesar de genial acabou também sendo o responsável por alguns dos primeiros piores episódios da série. Com o orçamento baixo e um ritmo frenético de episódios, algumas bobagens acabaram sendo feitas, sobretudo nesse início. Nessa versão moderna do tal do Pé Grande (que talvez por trauma nunca mais tenha sido abordado na série), Mulder e Scully enfrentam uma lenda de Nova Jersey que dizia respeito a um monstro escondido na floresta. O episódio tem ótimos momentos de diálogos sobre a evolução humana (o que é uma qualidade da série: o desenvolvimento dos roteiros, mesmo quando o episódio é ruim, salva-o do lugar comum), mas as aparições equivocadas das criaturas deu à ele um tom jocoso que não cabia na história.
Nesse episódio um pouco da vida pessoal de Scully ganha a cena, mas Carter depois demonstrou arrependimento em ter abordado essa questão tão cedo, o que agrupou certa superficialidade à personagem. Mesmo assim, o episódio é conhecido como aquele que marcou o momento em que Scully decide abrir mão de sua vida pessoal para seguir Mulder em sua busca, ainda que inconscientemente.
O Fantasma da Máquina - 1X06
Escrito por Howard Gordon e Alex Gansa, falava sobre um programa de computador que voltou-se contra seus criadores. Carter uma vez disse que alguns episódios ruins surgiam da necessidade de resguardar valores financeiros a roteiros muito bons que precisariam de muita produção. Esse talvez seja um caso desses. O tal programa poderia ser criado com zero custo de maquiagem e efeitos e suas ações se limitariam a manipular a rede eletrônica do prédio onde estava hospedado. Resultado: um episódio fraco, que apesar de falar um pouco sobre o passado profissional de Mulder, em nada apetece a qualquer fã.
Missão em Perigo - 1X08
Outro roteiro promissor vítima do baixo orçamento e falta de soluções. O episódio falava de algo que teria acontecido a um astronauta que acabar de voltar de uma missão e que está diretamente ligado ao rosto que teria aparecido naquelas famosas fotos de Marte.
Ao tratar o rosto como uma força possessiva, Carter perde a linha e cria uma bobagem sem tamanho que ele mesmo reconhece como um fracasso. A história, sem clímax e sem sentido proporcional, passeia mais uma vez pelo jocoso ao estampar nas crises de possessão do astronauta, a foto animada do rosto marciano.
Roland - 1X22
Não sei o que deu na cabeça do Chris Ruppenthal de achar que seria interessante escrever um episódio sobre um doidinho que controlava os experimentos de um grupo de cientistas. O episódio é chato, pedante, não tem ação e o chato do personagem título ainda por cima é interpretado pelo Stanford de Sex and The City.
Bom, eu já tinha comentado aqui a tal foto de Olivia Wilde dando um chute no saco do Damon Lindelof (criador de LOST), em cena da série House.
Embora eu discorde totalmente que o pobre Damon levasse esse castigo (ainda mais com a disponibilidade dele em aparecer na série só pra zombarem dele ter sido fofa), reconheço que o final de LOST pode ter sido uma grande decepção para alguns. Nele, responsável por uma das coisas mais incríveis, inteligentes, emocionantes e soberanas que eu já vi na TV, eu não daria um chute no saco. Mas aproveitei o ensejo para citar alguns criadores e roteiristas de séries que eu nocautearia se pudesse.
Evan Katz
Ele aqui só representa alguns dos muitos roteiristas que fizeram milhões de cagadas em 24 horas. Tudo isso coroado por uma temporada final chata, cheia daquelas mesmas insuportáveis recorrências, com uma promessa de filme que impossibilitou qualquer ousadia dos roteiristas e com um último episódio que passou batido e ninguém comentou. Claudia Croitor, do Legendado.com, ainda acha que o final de 24 horas deu uma "aula" de como terminar uma série. Hein? É isso mesmo?
Chris Carter
Todos que me conhecem sabem o quanto me dói dizer isso, mas o final de Arquivo X, a série responsável por uma revolução no início da década de 90, foi um fiasco maior que saída de Amy Shermann Paladino de GG. A série, um ícone respeitadíssimo da cultura mundial, e pioneira em contar histórias a longo prazo, foi primordial para que a televisão mais tarde aceitasse o desafio de exibir tramas como a de LOST. Mas depois de as duas últimas temporadas apresentarem uma triste irregularidade, o episódio final não teve emoção nenhuma, revelação nenhuma, sambou em conceitos frágeis e salvou-se do ridículo total por muito pouco. Canceroso de volta era dispensável e Mulder vendo espíritos era de tacar a cabeça na parede.
David Rosenthal
Falando em Gilmore Girls, a Warner esqueceu que burrice também dá prejuízo e por causa de uma besteira, não quis renovar o contrato da criadora original Amy Shermann. Um de seus roteiristas principais, David Rosenthal, assumiu o comando. Resultado: uma última temporada sem charme, sem coerência, sem coadjuvantes, sem diálogos incríveis e sem a esperada última frase de Lorelai que a criadora afirmava já ter em mente desde o primeiro ano.
Max Muchtnik
Essa lista não tira, de modo algum, o mérito de séries que correram muito bem durante seus anos de vida. Mas sim castiga com um belo chute no saco seus criadores que arrumam de errar a mão logo no Series Finale. É o caso da ótima Will & Grace. O melhor sitcom da história da TV, cheio de ironia, transgresão, nonsense e inteligência terminou na sua oitava temporada com um episódio final que se não fosse o Unforgetable cantado por Jack e Karen, teria sido absolutamente descartável.
David Chase
Alguns podem achar essa menção uma heresia, mas acho que enquanto LOST foi acusada de apresentar um final cheio de pontas soltas que não satisfaziam a audiência e denegrida por isso, The Sopranos, a série do Sr. Chase, fez a mesmíssima coisa - dadas as devidas proporções - e todo mundo elogia o tempo todo, afinal, faz parte da "cartilha inteligente de assistir TV" elogiar a vida dos Sopranos sem reservas. E a série é sim, maravilhosa! Mas se construiu toda sua história baseada num imenso senso de realismo que tinha como base a crueza da explicitez visual, porque ser sutil logo no fim? Embora cheio de simbolismo e metáfora, a tão falada cena final fica devendo a seu público o que ele esperou quase dez anos pra ver: o destino de seu protagonista traduzido em imagem, como tudo na série, e não em "imaginação".
Porém, nem tudo nas séries é decepção. Alguns criadores não derraparam na curva e nos presentearam com finais dignos de suas obras. Para eles, ao invés de um chute no saco, uma bela e agradável massagem com direito a "final feliz".
Josh Schwartz
O criador do fenômeno pop The OC, teve muitos problemas entre a segunda e a terceira temporada da série. Mas todo aquele belo senso de cultura pop e inteligência sarcástica não era à toa. O moço, o mais belo criador de séries da TV atual, revolucionou em tudo. Se Marissa já não era a mocinha mais convencional, sua morte ao final da terceira temporada era ainda mais transgressora. Acabou resultando no cancelamento da série, mas nos maravilhou com uma quarta temporada redondinha, hilária, com uma Taylor irresistível e um Series Finale de cortar o coração e elevar o espírito.
Kevin Willianson
Dawson's Creek foi outro grande fenômeno pop, mas ao contrário de The OC, era mais denso, psicológico, soturno. Suas três primeiras temporadas foram um marco na TV, mas seu criador esteve presente apenas nas duas primeiras. A quarta, quinta e sexta temporada mantiveram tudo no nível da dignidade, mas perderam a ousadia habitual de Kevin. Fazendo o caminho contrário dos criadores já citados, Kevin retornou ao comando da série apenas para escrever o episódio duplo final. E o que vimos foi um show de inteligência, sagacidade, sensibilidade e humor, que acabaram encerrando o programa com todo o respeito que ele merecia.
Shawn Ryan
Muito se falava de 24 horas e Prison Break, mas uma outra série policial cortava pela lateral com um nível de qualidade pouco reconhecido pelo grande público. The Shield, sobre um esquadrão corrupto de uma periferia nos EUA, tinha um dos protagonistas mais bem escritos da TV, histórias isoladas impressionantes e uma trama central que se estendeu sabiamente por 7 temporadas. Totalmente seguro de sua criação, o grandão Shawn Ryan entregou um episódio final que é visto até hoje como o melhor final de todos os tempos no mundo das séries.
Michael Patrick King
Ele não é o criador de Sex and the City, não é nem mesmo o responsável pela adaptação do livro para a TV, mas enquanto Darren Star leva até hoje os créditos pela criação, o magrinho Michael Patrick King é, sem dúvida, a alma das personagens televisivas baseadas na obra de Candance Bushnel. O roteirista entendeu tão bem as personagens que da metade da série pra lá, era ele que escrevia todos os inícios e finais de temporada. Conseguiu o feito de entregar uma série sem nenhum episódio ruim e um encerramento que encantou até o fã mais xiita.
Allan Ball
Se ele não começar a reavaliar True Blood, é bem capaz que ganhe um lugar na lista do castigo acima, mas por hora vamos reconhecer que Six Feet Under foi impecável e sua temporada final, impressionante. O Series Finale deixa aquele friozinho na espinha e vale a pena ser visto muitas e muitas vezes.
E vocês? Em qual responsável pelo final de suas séries favoritas vocês dariam um chute no saco?
Serviço: Montagem tosca by As Dobras
Comemorando os quase vinte anos da estréia da série mais importante da década de 90, que influenciou todas as obras de suspense e ficção científica depois dela, o blog As Dobras inaugura uma série de artigos e listas sobre o mundo do agente Fox Mulder.
Em 10 de Setembro de 1993, chegava ao ar pela Fox, uma série chamada The X Files, criada por um tal de Chris Carter e estrelada pelo até então meio-famoso David Duchovny. O projeto, sobre um departamento mitológico do FBI que cuida de casos inexplicáveis, já andava batendo na porta da emissora há muito tempo. Carter, apoiado em sua trama substancial, tentava convencer os executivos da Fox de que o programa teria notoriedade a longo prazo, já que a fórmula proposta por ele (uma história resolvida, explicada em episódios específicos durante as temporadas) despertaria o interesse do público, que ficaria ansioso para conhecer o próximo passo. Ao mesmo tempo, a série também satisfaria o público que preferia a fórmula de episódios fechados, com temas resolvidos no mesmo dia, em que um agente e uma agente (o clássico das séries policiais) aplicariam seus conhecimentos em eventos sobrenaturais ou violentos.
Depois de alguma insistência, a Fox cedeu e encomendou um piloto. Carter deu a seu personagem principal o nome de Fox Mulder em reconhecimento à emissora. O piloto foi escrito por ele usando como base uma série de documentos apócrifos sobre abduções alienígenas e já apresentava a raiz da trama que se seguiria nove temporadas adiante: Mulder teve uma irmã abduzida por alienígenas na infância e sua vida desenvolveu-se em torno do objetivo de encontra-la. O FBI, de saco cheio de seu nariz intrometido, contrata a agente Scully, uma cientista crônica que pretende invalidar o trabalho do novo parceiro. O resultado? O piloto conquista a atenção do canal, que encomenda a primeira temporada inteira.
Duchovny, responsável por viver o agente Mulder, tinha feito alguns filmes sem importância e era mais conhecido por sua participação na série Twin Peaks. No entanto, também era a aposta do canal para despertar a atenção da mídia. Ao seu lado, vivendo Scully, o estúdio queria uma mulher bonita e forte, mas Carter insistia em faze-los contratar uma tal de Gillian Anderson que era jovem demais pro papel e ainda por cima estava um pouco acima do peso. O estúdio queria uma tensão sexual imediata, mas Carter mantinha sua posição de não provocar essa tensão. Com a ajuda de seus produtores, mentiu sobre a idade de Gillian e convenceu os executivos a deixa-la fazer o piloto. Quando a temporada foi aprovada, Carter teve que travar inúmeras batalhas para manter Gillian no emprego e isso acabou sendo preponderante na relação profissional dos dois. Sem isso, a série não teria chegado na nona temporada, fatalmente.
De fato, quando a série estreiou em 93 ninguém na Fox dava muito atenção à ela. Com a promessa de baixos orçamentos, Carter não incomodava e pelo menos a grade da próxima temporada de estréias estaria fechada. O que ninguém esperava que fosse acontecer, é que justamente por causa dos baixos orçamentos, o criador tinha que se apoiar em bons roteiros e na metade dessa temporada inicial, Arquivo X começou a aparecer na lista de recomendações das principais publicações do gênero. Críticas positivas começaram a surgir e o universo nerd, sedento por boas produções de ficção científica, imediatamente se apaixonaram pela série. A propaganda boca-a-boca crescia e a série ia conquistando todo tipo de espectador, já que nunca falava de um só assunto e podia satisfazer a todos. Quem não curtia aliens podia curtir os episódios sobre aparições espirituais, quem não curtia fantasmas podia gostar dos episódios que falavam de monstros e aberrações. Enfim, tinha pra todos os gostos. E a dinâmica de fé e ciência no qual se apoiavam os roteiros era irresistível. Enquanto Mulder vinha com teorias fantásticas, Scully usava a ciência para invalidá-las, mas na maioria das vezes, sua ciência acabava confirmando as teorias dele.
Ao final da primeira temporada, Arquivo X já era um sucesso e sua costura mitológica já era assunto na web ao redor do mundo. A segunda temporada, no entanto, não foi confirmada imediatamente e uma avalanche de pedidos chegou até a Fox. Com isso, Carter conseguiu o respeito necessário para exigir melhorias na maratona seguinte e a segunda temporada veio com os eventos que acabaram por tornar o programa um marco na história da TV mundial.
Ele acabou de se internar numa clínica de viciados em sexo e pelo jeito o resultado não foi muito positivo. David Duchovny anda de cuecas pra facilitar o negócio.
O melhor é que essa notícia pegou de jeito as nerds enloquecidas que viam Arquivo X torcendo pra Mulder ficar sem camisa. Quer coisa mais fetichista do que descobrir que aquele seu astro preferido é viciado em sexo?
E por sinal, a cueca é tudo, mas cadê a mala?