O Oscar já passou faz tempo, porém, nunca é tarde pra avaliar um pouco dos candidatos à premiação. Segue abaixo, o que o As Dobras achou dessa filmarada toda.
Dobremos!
My Week With Marilyn
Sensibilidade é mais importante que caracterização.
Eu sou um fã Dawsoncreekiniano de Michelle Willians. Sempre ficou claro que a moça era o membro mais forte daquele elenco, e foi só ela sair da série, para conseguir, mesmo tão jovem, duas indicações ao Oscar que veteranas lutam até hoje pra conseguir. No entanto, mesmo com toda essa admiração, eu temi quando a terceira indicação saiu por esse My Week With Marilyn, onde a atriz teria nas mãos uma tarefa considerada quase impossível pela crítica: representar um dos maiores ícones hollywoodianos da história. Temi porque Marilyn tinha detalhes demais sobre si mesma, difíceis de acoplar sem que parecessem falsos demais. Muitas já tentaram... Nenhuma tinha conseguido. Bom... Até aqui.
E a receita era muito simples: sensibilidade.
Michelle não tem o corpo de Marilyn (onde enchimentos precisaram fazer seu papel), nem o rosto de Marilyn, e nem é conhecida como um símbolo sexual. Sempre aparece lá, nas premiações, com aquela carinha de doente, branca e frágil como uma lesma. Parecia impossível que desse certo...
Basta uma aparição e ela já convence imediatamente. Muito disso se deve também ao roteiro impecável, a direção segura e delicada e ao elenco coadjuvante simplesmente brilhante (encabeçado pelo soberbo Kenneth Branagh, junto de Emma Watson, Judi Dench e Eddie Redmayne). Michelle está tão magnífica que eu me arrebatava a cada cena. E para os que conhecem e gostam da trajetória da atriz, cada momento de sua vida, transposto tão seriamente para a tela, é como um profundo deleite. Dá uma vontade imensa de ver a Marilyn de Michelle em outras situações de sua tão curta vida.
Tá tudo ali. O conhecimento da própria capacidade de poder, a Marilyn ícone em conflito com a Marilyn mulher, a contradição entre sua ignorância profissional e o poder de sua imagem na tela, as pílulas, Paula Strasberg, Arthur Miller, as poses, os flashes, o temperamento... É fantástico! Simplesmente fantástico!
Logo após assistir ao filme, ainda profundamente comovido, abri uma das biografias dela que contém várias fotos. Uma em particular, em que a vemos ao lado de Miller num pose em frente a ponte do Brooklyn em Nova Iorque, é a perfeita representação da criação de Michelle Willians. Fiquei um tempão olhando para aquela foto... A ligação com ela ainda maior. As sensações sobre ela, mais fortes.
Esse é um filme que esbanja emoção e competência. Michelle é uma diva.
E a academia, mal cheirosa como nunca.
Moneyball
Aaron Sorkin: o único homem que fala demais... E bem.
Não foi pelo Brad Pitt e muito menos pelo tema esportivo. A única e poderosa razão que me levou a assistir esse O Homem que mudou o jogo, foi a presença do roteirista Aaron Sorkin, que é um dos melhores - senão o melhor - criador de diálogos do mundo televisivo e cinematográfico.
E não pense que o tema voltado para baseball vai te chatear, muito pelo contrário. Por menos que entendamos o jogo, somos totalmente fisgados pelo modo sempre épico com o qual a trama é construída.
Esse é um filme de impressões emocionais... Um filme pra você apreciar interpretações e diálogos. Então, se pretende se distrair com um filme pipoca não escolha esse. Moneyball é para os cabeçudos que se divertem com a forma, muito mais que pelo conteúdo (e entenda-se conteúdo como "ação" narrativa).
E Brad está bem. Comendo o tempo todo, cheio de superstições...
Os Descendentes
Uma andorinha só não faz verão.
Quando esse injustificavelmente elogiado filme terminou, eu pensava sobre tudo, menos sobre seu protagonista. Achava bonitinho rever o Mathew Lillard, achava que a filha mais veja tinha muito futuro, e que o Sid era um dos melhores alívios cômicos da atualidade. Mas a presença de George Clonney mesmo não é nada mais nada menos que correta.
O filme é bom, singelo, pueril, mas tem toda aquela atmosfera irritante de ter sido construído em volta de um astro e não de uma história. É como se o próprio Clooney tivesse marcado cada passagem importante e tivesse conduzido cada ângulo de câmera a favor de seu esforço em demonstrar sutileza.
Claro que é comum ver filmes em volta de um único personagem, mas toda a sensação de marketing dramaturgico piora quando a academia atribui tantas qualidades a um filme que é apenas correto. Nada mais que isso. Ele não vai te emocionar e nem te chatear. Ele é mediano, em tudo que de mais irrelevante tem essa palavra.
Histórias Cruzadas
O melhor filme de "SuperCine" da história.
Esse filme poderia passar semana que vem no SuperCine, da Globo.Tem toda aquela receitinha básica da atração. História "meio real", ou ponto de vista histórico, ou biografia ou suspense policial. The Help só não se encaixa na última, embora o que vemos na tela seja um retumbante caso de polícia.
A trama aborda a velha e boa relação entre bem e mal, na figura das patroas e empregadas numa américa racista. Porém, o filme se preocupa em não ser maniqueísta e nos presenteia com nuances absolutamente irresistíveis. Temos todos aqueles artifícios clássicos de um roteiro desse tipo, com empregadas vingando-se das patroas tiranas e patroas brancas do bem demonstrando absoluto senso de igualdade. Tudo feito sem alarde e com sensibilidade e humor.
O filme é simplesmente comovente. Daqueles que vai fazer você rir um monte e depois chorar de soluçar. São duas horas de prazer absoluto. Um filme honesto, despretensioso e que merecia muito mais atenção da academia.
A Dama de Ferro
Nem só de Meryl vive um longa.
Eu não precisaria de mais nada pra explicar esse filme a não ser a frase: Salve Meryl, e joga o resto no lixo.
O filme é absolutamente confuso. A tentativa de humanizar Margaret se estabaca num roteiro idiota que esquece nem tudo precisa ser justificado. A edição é terrível, o ritmo é enfadonho e lá pela metade você já está pedindo pelo amor de Deus pra isso acabar logo.
No fim das contas, essa merdêra toda é fedorenta demais pra Meryl salvar sozinha. Ela é ótima, mas eu não lhe daria o prêmio. Muito de um personagem está condicionado à narrativa. Eu não estaria sendo condizente com o que comentei sobre Os Descendentes se aprovasse a vitória dela dentro de um longa tão frágil.
O Artista
Viva a nostalgia de meia tigela!
Uma coisa a de ser admitida a respeito desse que foi o grande vencedor do Oscar 2012: não haveria outra maneira de se contar esse história. Falar de cinema mudo, de um ator de cinema mudo rendido pela modernidade, sem que a linguagem fosse aquela, seria uma tremenda burrice. Com um roteiro como aquele, essa narrativa apoiada na linguagem do cinema antigo era a maneira mais eficiente de conquistar a crítica.
Dito e feito.
Hollywood parecia possuída de ansiedade por premiar essa boa ideia, porém que não tem nada de soberba. O filme tem várias qualidades e até me surpreendeu o fato de não ser chato, mas é superestimado e não representa frescor e sim uma tola valorização reacionária de uma era que precisava mesmo ficar pra trás.
Dos enganos, o maior deles é a premiação de melhor ator. Jean Dujardin ao ganhar o prêmio, parecia ter trago consigo todos os maneirismos exagerados e propositalmente canastrões de seu personagem. Apesar de toda beleza ocasional de sua criação, ela sobrepôs sua existência cinematográfica e por causa disso, perdeu toda força.