Viver no meio artístico, independente das proporções, nos traz muitas vantagens. Compartilhamos sensibilidades, idéias, coisas são criadas e assim nascem as grandes mudanças interiores. Mas também tem a parte ruim, que é o egocentrismo, a vaidade, a competitividade e dependendo do nicho, a hipocrisia. Os artistas às vezes mudam o mundo ou pelo menos a nossa percepção dele. Mas outras vezes, eles apenas vomitam essa intenção, vestidos de esquerdismo tacanha e ignorando os próprios desvios. Um ciclo de contradições e atos de vandalismo social que só serve pra tornar a direita mais sedutora. Pois bem, o filme Os Edukadores que acabei de assistir, é um bom exemplo disso.
Existem obras que são o escudo de defesa de muitos discursos artísticos contemporâneos. Para ilustrar argumentos são usadas músicas engajadas de cantores cabeludos, livros históricos sobre épocas ditatoriais ou filmes sobre uma juventude perdida e pedante. Já que a tribo dos “artistas” se veste e se monta com o que a moda revolucionária dita (e sim, pintar o cabelo de vermelho ou alargar as orelhas como os índios são itens da moda atual. Afinal de contas a moda não é o só o que se vende em passarelas, mas sim o que vemos nas ruas), nada mais natural do que incutir nessa indumentária um pouco de som e imagem. Aos 20 anos é mais bacana ser do contra. Inacreditavelmente, os jovens que buscam desesperadamente essa sensação de superioridade, natural daqueles que acham que rejeitam a “corrente burguesa”, não percebem que hoje em dia, o discurso esquerdista é a própria corrente burguesa. Os jovens, ricos ou pobres, cada um na sua praia, compram ipods pra ouvir canções de protesto. Vão com seus carros assistir a filmes de protesto. Defendem teses de protesto que assimilaram sem filtrações. Absorvem idéias sem julgo. E esse filme soma argumentos a essa condição.
Os Edukadores é um filme alemão sobre três jovens com dentes estragados que fazem parte do movimento revolucionário esquerdista da cidade em que vivem. Não satisfeitos apenas com passeatas e panfletos, eles invadem mansões, trocam as coisas de lugar e deixam uma mensagem: Vocês têm grana demais. Embora um deles tenha o pé na contravenção e vez ou outra roube um reloginho, a intenção é causar medo e insegurança na classe rica vigente. Pois bem, 10 minutos de filme e você já percebe que o maniqueísmo do roteiro beira a superficialidade de um filme da Xuxa. Pobres são bons. Ricos são maus. E ponto final. Pra que sutilezas? Afinal de contas, a primeira platéia artística que o filme pegar pela frente vai eleger o longa como o “messias do pensamento revolucionário”. E não se engane em achar que estou de má vontade, não. É exatamente assim! O roteiro chega a níveis absurdos de julgamento. Uma das protagonistas trabalha num restaurante. De uma só vez, vemos os clientes ricos maltratando-a, o patrão rico maltratando-a e depois ela, ultrajada, riscando o carro dos malfeitores no estacionamento. O patrão rico, aliás, a demite porque ela está fumando na cozinha com o cozinheiro. Fumando na cozinha! Mas mesmo assim ele está errado. Afinal, ele é rico. Chegamos então ao ponto do longa em que ao acaso, eles ficam diante da mansão de um ricaço que por causa de um acidente, levou essa mesma moça do restaurante à bancarrota. Ela e um dos rapazes, que o melhor amigo de seu namorado, invadem a mansão. Ela acaba esquecendo o celular por lá, e quando eles retornam dão de cara com o dono da casa. Chega o momento de ruptura. Eles se vêem sem saída e raptam (!) o homem.
A partir daí os absurdos e contradições vão se derramando em cascatas. Obviamente que levar junto consigo o ricaço dono da mansão é uma tentativa do roteiro de aproximar aqueles dois universos conflituosos e assim trabalhar as sutilezas. Bom, seria se o filme não fosse esse. Aqui, o importante é mostrar como aqueles três baluartes da causa revolucionária vão jogar na nossa cara a podridão do sistema. E dá-lhe diálogos esquerdistas. Não há um só momento em que o ricaço ganhe uma fala que possa dar vazão à realidade de que o mundo não é só preto e branco e que não existem apenas falhas nesse sistema. Ele concorda com tudo. Só não concorda com as ameaças a sua vida. Claro, aí também seria demais. Em um momento que devia ser de defesa, ele chega ao absurdo de justificar sua riqueza dizendo que “é natural os homens quererem sempre ter mais que o próximo”. É mole? Chega a dar nervoso que em nenhum momento ele cale a boca do rapaz dizendo : ”hei, meu filho... não seja hipócrita... antes de criticar o capitalismo, jogue fora todos esses cd’s de rock, pare de clarear os cabelos e beber o champagne que roubou da minha casa... e vai tratar esses dentes!”. O ricaço sem alma é um pateta! Aos poucos, ele vai se aproximando dos três jovens. Contando como ele se reconhece neles. Mas não se engane, espectador. Esse roteiro não quer mostrar como um cara rico se enobrece da causa socialista. Ele quer mostrar um cara rico, sem escrúpulos, dissimulado. E quando você acha que o final da história pode ter salvação, vem o super ricaço sem alma e ataca novamente, revelando para a parte cega o triângulo amoroso que se desenha desde o início. Os três se desajustam e resolvem devolver o homem ao seu lar sem machucá-lo e nem extorqui-lo. Não há um só motivo para que o homem ainda pense em punir os três jovens. Afinal de contas ele se comportou o tempo todo adequadamente. Foi alimentado. Aquecido. Até fumou uma macoinha com eles. Mas não, o ricaço sem alma é sem alma mesmo e no último momento, numa tentativa patética de causar um clímax, aparece como delator dos três jovens. A câmera passeia pelo apartamento vazio deles enquanto a polícia revista tudo, e colado na parede está um bilhete: algumas pessoas nunca mudam. A câmera corta para o rosto do ricaço sem alma no carro. Que pérola da compreensão humana! O filme cumpriu seu papel. Saímos todos do cinema com essa visão rasteira da sociedade.
Mas será que não poderíamos tentar analisar um pouco quem são esses três jovens tão sedentos de um mundo anticapitalista?
Os dois amigos têm um furgão meio 007 com câmeras, escutas e computadores de mão. Como é que compraram tudo isso? Qual indústria capitalista estão alimentando? Os três são maconheiros, bebem o tempo todo, e fumam cigarros comuns feito chaminés. Em dado momento do filme um deles entra numa loja de sapatos e pergunta pra uma vendedora “você sabe quem fabrica esses sapatos?”, e joga na cara dela que é uma indústria que trabalha com escravidão e servidão de menores de idade. Agora me pergunto... Consumir cigarros enlouquecidamente não é uma maneira de alimentar a indústria tabagista, que mata milhões no mundo inteiro e já foi denunciada inúmeras vezes por sua maneira peculiar de testar seus produtos? E o que dizer da maconha? Abra sua mente. O discurso em favor da erva é uma coisa linda de se ver. Mas o tráfico se sustenta é com a venda. E eles precisam comprar pra consumir. Quem me garante que o pé de maconha de onde saiu a folha usada naquele cigarrinho que eles fumam, não foi plantado por um colombiano de 16 anos? E a maconha é só a base. Regados a muito álcool eles fazem milhões de imprecações de ódio ao capital. Mas consomem todo o champagne que encontram pela frente. Uma lindeza!
A direção do filme só é interessante se ignorarmos todas essas contradições. Se quiser fazer um filme sobre jovens idealistas e for dar razão pra eles, preste muita atenção! Não deixe que esses jovens ajam como hipócritas. Não crie um roteiro engajado que no final se torna apenas um filme sobre “uma menina entre dois rapazes”. Não cuspa no capitalismo e ao mesmo tempo use canções americanas pra enfeitar essas cuspidas. Não queira fazer um filme de “visão idealista” e ao mesmo tempo crie um clímax hollywoodiano que inclui reviravoltas sem sentido, sentimentalismos, um Jeff Buckley cantando Hallelujah e seus três protagonistas que deviam ser filhotes de Che, terminando o filme num iate vestidos como astros de cinema. É de doer.
Por fim, nada se salva a não ser o charme do ricaço sem alma. O filme é feio. Tem aquele cheiro de acessório esquerdista. Como aquelas camisas com a cara do Guevara que o próprio filme critica. É cheio de discursos vazios. Chapa a natureza humana que é tão complexa por si só. Faz julgamentos cruéis. Perde a chance de mostrar que nem sempre quem tem mais vale menos ou quem tem menos vale mais. Afinal de contas, a pobreza não justifica o terrorismo. E a invasão, o seqüestro e a tortura emocional não passam, no fim das contas, de um ato atroz de terrorismo. Todos sabem que a desigualdade social é dura e fere os olhos, mas eu não vou fazer um filme que ensina aos jovens que eles têm que odiar os ricos, acima de qualquer coisa, que têm que exigir deles que dêem tudo que têm aos pobres. E que se não fizerem isso merecem ser invadidos e aterrorizados. Isso não é cidadania. É loucura. E que me desculpem os idealistas e os artistas sedentos de modelos de rebeldia, mas esse tipo de mensagem xiita eu não vou festejar.
AMO o BBB. Mas é em dias como esse que o amor cresce ainda mais. Não tinha visto a eliminação da Joseane. Eis que no finalzinho desse vídeo, ela pergunta toda pretensiosa pro Bial qual a BBB preferida dele. A resposta é um deleite.
Enfim, terminei a Sétima Temporada de 24 Horas depois de todo mundo. Mas terminei. E por enquanto o saldo ainda é confuso.
A série tem uma grande qualidade: tenta sempre refletir um comportamento político e lidar com referências e preconceitos. Esse ano, o importante era falar sobre tortura.
Jack Bauer deixou que a tortura se tornasse o seu maior talento. Durante seis temporadas foi só o que ele fez. Quando a imprensa começou a encher o saco falando isso, os roteiristas decidiram finalmente abordar a questão. E dá-lhe esforço pra tentar driblar a obrigação de manter a natureza violenta da série e ao mesmo tempo ser politicamente correto.
A solução foi criar uma agente que abominasse a prática pra trabalhar com Bauer. A idéia é inteligente porque depois de uma hora ao lado dele, ela percebe que existem casos e casos e que não dá pra ser unilateral nessa questão.
As repetições continuam lá e são insuportáveis às vezes. Se essa oitava temporada não for mesmo a última, a série pode chegar a um final muito indigno.
O box da temporada tem até um extra interessante a respeito dessa dificuldade de manter a qualidade dos episódios. Os roteiristas falam claramente sobre tudo que vêm sofrendo com o andamento do programa. E deixam claro que o desgaste é o único responsável por tanto desnível entre os episódios. A metade da temporada foi impressionante. O final, desesperado.
Eu destaco a decisão previsível mas não menos interessante de incluir nesse confuso final, uma cena bem emblemática em que Jack tem diálogos de arrependimento com um líder muçulmano pacífico. Outro grande trunfo da série é esse: aproveitar sua dimensão para disseminar a tolerância.
Como a lei da probabilidade sempre funciona contra mim, Dourado e Joseane estão dentro do BBB10.
A idéia me irrita. Gente que já passou por lá não devia ter o direito de voltar. Me parece poluir e borrar o conceito todo. Parece amador. Coisa de SBT. Ainda por cima quando os dois que entram são dois monstrinhos como eles.
Um, carrega no braço a suástica como se fosse um grande símbolo de coragem. Se apoia em discursos prontos sobre os inúmeros significados da coisa e se esquece que todos se perderam no que ela definitivamente representa. E ele tem uma aparência péssima. Suja. Escrota.
A outra, se comportou como uma mulherzinha de baixo orçamento no BBB3. Era uma 171 de categoria. Roubou no Miss Brasil e sacaneou o motoqueiro mais fofo do país, o bonitinho do Dilson.
As trombetas continuam soando por toda a parte. As tragédias se espalham por toda parte e vão deixando um rastro de sangue nesse início de 2010.
O que aconteceu essa semana no Haiti confirma um mês de Janeiro repleto de más notícias. Já tivemos inundações, desabamentos, êxodos inexplicáveis de animais e terremotos. Deus nos livre das tsunamis, desastres aéreos e furacões... porque é só o que falta.