Sábado, 20 de Maio de 2006

Conversa de Egos Batidos




Dizia a apostila que se tratava de uma dádiva...
Dionísios, o Deus do teatro que nascia na Grécia, banhava determinados indivíduos com uma habilidade suprema e geniosa: a interpretação. Que tomava de assalto a vaidade e sensibilidade de seus portadores, transformando aqueles seres em entidades de manifestação artística que elevavam ao extremo suas capacidades dadivosas num egoísta e ao mesmo tempo solidário exercício de distribuição.
E deitados em lençóis de sodomia, os primeiros cidadãos iluminados com a luz de Dionísios atravessaram as primeiras eras da humanidade trazendo para os dias de hoje um principal conceito desses tempos distantes: a dádiva. A idéia de que há uma seleção especial advinda de algum espaço cósmico que seleciona os artistas do planeta.
E é tão engraçado... Até porque, banhados ou não dessa luz, os seres nascidos de Dionísios despistam as mazelas da realidade com certo lirismo licenciado por sua condição natural. Aos 5 são crianças precoces que desfrutam de um futuro propagado como certo em seu sucesso. Aos 15 são adolescentes que acreditam que seu talento é orgânico e que só precisam ser descobertos por alguém. E é apenas depois dos 25 que ocorre uma bifurcação dessas tendências e uma parcela descobre-se insegura de suas condições áureas enquanto outra parcela, descobre-se firme em seu galgar de talento suposto.
Reunidos num mesmo conteúdo, “os iluminados” pela divindade Dionísica reúnem-se entre outros banhados com outros tipos de habilidades consideradas sobrenaturais. Sentindo-se irmãos de médiuns, paranormais, sensitivos, espíritas e tudo mais que envolva o desconhecido, os “atores” revestem-se de uma necessidade cada vez maior de incorporar as minorias. E entram num processo acumulativo, visto que apenas os atores parecem receber alguma espécie de licença que os habilita a exercer também, por vezes com soberania indiscutível, o papel de cantores, poetas, dançarinos e escritores.
O reflexo é desbravador.
Divididos novamente (a segmentação também parece ser um estranho hábito desses seres), os atores colocam-se, de acordo com as vertentes que acumularam pra sí, de um lado ou de outro dos estados de espírito: show-men’s são construídos pelo elo cômico de Dionísios e little-poets, construídos pelo elo dramático. E nunca! Nunca há verdadeiros atores que careçam dessa “energia” dentro de seus sistemas artísticos.
Com essa luz Dionísica renovável, os seres interpretambulantes que povoam o planeta Terra seguem numa trilha de exibicionismo e vaidade.
Assim como a dádiva foi reconhecida pelas páginas da apostila, os manuais divinos também reconhecem a força etérea que domina os desígnos artísticos. Não há dúvida quanto a isso. Não há dúvida quanto ao poder exclusivado aos seres que se dedicassem a viver outras vidas em nome da diversão de outrem.
Um poder nato e incontrolável.
Incapaz de recolher-se.
Temperamental e turvo. Talvez tanto, que chegue a ponto de ignorar-se em sua essência. Confundindo-se entre o prazer subjetivo de existir-se em sí mesmo e a obrigação natural de passar-se adiante em nome do prazer de outros. Enaltecendo suas capacidades de compreensão panorâmica e sua tendência em enfeitar com beleza o resultado disso e esquecendo de seu papel coletivo, e que justifica a existência de tamanho privilégio.
Dionísios existe...
Dizia não só a apostila.
E têm súditos... Como na organização angelical que circula o trono de Deus. Divididos como arcanjos, serafins e querubins. Espalhados pelo plano terrestre exercendo, ou devendo exercer, seu papel de proteção e interferência sutil. Cada um com sua habilidade especial. Privados de livre-arbítrio. Cheios da consciência perturbadora do quanto são essenciais. Ignorando por obrigação uma natureza tendenciosa... Silenciosamente configurando reflexões eloqüentes. Envaidecidos por deterem um estado fracionário da figura divina. Cada um servindo aos planos de Deus...
Destruindo propósitos e construindo Lúcifer.

Em tempo:
Dionísios não ilumina a todos. Mas polui todos aqueles que ilumina.

No capítulo anterior...
O Pseudo-patinho feio resolve lutar pela oportunidade de viver seu amor e pra isso joga na gaveta seus princípios adquiridos. O Rei consegue a compreensão do Pseudo-Patinho Feio e cede às pressões da Rainha, conseguindo assim adiar a revelação de sua homossexualidade aos príncipes. O Pseudo-Patinho Feio entra numa onda pzisista novamente e repassa toda sua incompetência social a limpo. Reconhece os sucessos conseguidos junto à família pato, junto a alguns dos amigos pássaros, mas evidenciando o fracasso junto à própria criatividade, senso-crítico e junto ao karma a ser pago nas mãos do grande Pavão.

Teaser
Ele está sentado na mesa de trabalho falando com a prima Ursa ao telefone. Devia ter ligado pra ela há tempos, mas está vivendo momentos de psicologia turva e achou melhor ser egoísta, pra variar. Até fala isso pra ela. Ouve o mesmo discurso em retribuição e sente-se menos culpado. Sente pena dela. E sente pena de sentir-se assim. Ela sofreu outro de seus abandonos traumáticos e apesar de querer confortá-la, essas conversas com ela sempre são reflexivas. Ele pensa... E ver-se no contínuo fluxo de fracassos amorosos dela, o preocupa.
Ouvia-a e olhava a Lua pela janela da sala. A Lua... Outro signo forçosamente simbólico que o Pseudo-Patinho Feio toma pra sí de uns tempos pra cá. Ele adora símbolos, alías. São eles que ornamentam os episódios imaginários desse roteiro doentio que ele elegeu.
E derepente um lapso de clareza combina com aqueles raios simbólicos da Lua, e uma palavra adentra o recinto de suas sinapses: FRAUDE.
Vê-se nu. Despido totalmente das suas características adornescas e com um esforço visceral de boa-vontade, tenta não deixar que mais esse detalhe seja uma linha desse roteiro fake que ele inventou.
Cai.
Despede-se da prima Ursa e desliga o telefone.
Vai ligar pro Rei e tentar não fingir.
Entra numa existência nivelada a partir desse momento. Vira-se no avesso da proposta.
O Pseudo-Patinho Feio descobre o big bang.
E ele explode ferindo todo o rosto dele.

Episódio de hoje: “Toda utopia é louca”
­­-Você é gente.
- Eu sou pato.
- Você é gente.
- Não, eu sou pato!!
- Não, você é gente. E eu não vou discutir isso com você.
- Se eu fosse gente eu não estaria aqui...
- Porque não??
- Esquece.
- Olha, eu até acho engraçado essa coisa de a crise existencial ter dado um curto circuito na sua cabeça e tal... mas você devia ter escolhido um outro catalisador pra formar esse novo ser.
- Pato é bom.
- Não gosto de pato.
- É uma galinha de raça.
- É insípido, voa mal, a carne é ruim e o ovo é metido a besta.
- Como é que você fala assim da minha gente?
- Você não é um pato.
- Isso é negação, sabia? Somos todos patos!
- Ontem você admitia ser uma espécie nova de ave que misturava os patos com os humanos. Hoje voltou com isso de pato de raiz. O quê aconteceu?
- Nada.
- Cadê o Rei?
- Tentando administrar seu reino.
- Pensei que estava lidando bem com isso...
- E estou.
- Te achei irônico.
- Não quero falar sobre isso hoje...
- Você não quer falar?
- Não!! Por que?? Tá insinuando que eu falo demais, é?
- Você fala um pouco...
- Pois é! Hoje eu estou pensando em votos de silêncio.
- Outra maneira de chamar a atenção?
- Como assim? Porque que tudo que eu faço ou digo tem que ser uma maneira de enfeitar a vida ou chamar a atenção?? Não posso ser que nem todo mundo que simplesmente vive?
- Não.
- Não??
- Você é um artista.
- Não sou.
- Não tínhamos combinado?
- O quê?
- Que você ia parar com esse complexo de inferioridade proposital.
- Proposital?
- Isso mesmo.
- De propósito??
- O mesmo que “por querer”.
- Tínhamos combinado isso??
- Combinamos que você ia parar de viver em utopia.
- Não sei mais se posso... Espera aí! Meus complexos são utopias?
- Da maneira que você os vive, sim.
- Eu... eu....
- Não estamos em “Ducker’s Creek”.

- Patos não tem diários.
- Porquê não??
- Ora, é óbvio!!
- Eu sou um pato especial.
- Até sendo pato você vai arrumar um jeito de ser especial...
- Eu sei onde você tá querendo chegar...
- Você inventou essa loucura de ser pato pra acabar com essa inclinação pra transformar sua vida em cinema dramático e não percebe que isso é ainda mais cinematográfico.
- Sou um pato metafísico.
- É um homem doente, só isso.


Nota: Facilitando o trabalho de desvendar metáforas o blogger vem esclarecer que nos últimos dias esteve vivendo um conflito criativo, um novo degrau de sua preocupante escala de inferiorização e um outro de combate à melancolia.
Gustavo e eu continuamos apaixonados e ameaçados de uma separação provocada pelo passado esmagador dele. Obtivemos a benção da minha mãe que agora nos recebe de braços abertos. Continuamos tendo problemas quanto aos que me cercam e têm dificuldades de aceitar a natureza confusa dessa relação.
O amo. Com uma certeza berrante! Tenho tido problemas em lidar com a minha vaidade esburacada. Tenho tido problemas em me fazer entender e em vislumbrar entendimento. E tenho me sentido só... No entanto, tentando evitar o clichê que é sentir-se só na voz de um artista, calei minha voz ao que sustente essa teoria, assim como venho tentando calar todas as vozes que ridicularizem o ridículo do que vivo atualmente.
Venho buscando mais conhecimento.
Faltam-me perspectiva criativa e segurança. Tenho ressentimentos em excesso. Venho tentando calar essas vozes também.
Ando cansado de ser eu mesmo. E às vezes achando que ser eu mesmo é melhor do que eu pensava. Ando quase chegando a conclusão de que os estigmas é que começaram a me cair mal. De qualquer maneira, viver meu amor pelo Gustavo é prioridade agora. A ação do tempo vai me reconfigurar e depois disso eu penso no que fazer.

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 22:23
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Terça-feira, 9 de Maio de 2006

Interlúdio

Estou devendo um post sobre os últimos acontecimentos... Mas acontece que os últimos acontecimentos são tão extensivos...

Em breve.
Dobrado Por Henrique Haddefinir às 19:31
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