O filme mais "docinho" de Woody Allen! A mesma história contada de um ponto de vista dramático e cômico.
Seria uma boa idéia, se não fosse o fato de Allen ser mais cômico no trágico e mais trágico no cômico. O próprio diretor se perde na sua intenção e no fim das contas, não sabemos mais o que ele pretende com essa proposta.
Palmas para o elenco! As Melindas são muito distintas e Allen utiliza-se bem dos signos que formam as narrativas. E que homem pra gostar de traições!!! Seu alter-ego grita em Will Farrel na película!
Outro caso de uma boa idéia que renderia muito mais caldo.
Tim Burton novamente! E dessa vez, ácido, sombrio e inebriante como a gente gosta de ver! Filme infantil? Só se for pra fazer seu filho morrer de medo das mal-criações que faz com você.
Jhonny Depp está incrível! Ouvi dizer que ele se inspirou em Michael Jackson e faz até algum sentido. Seu Wonka é engraçado, excêntrico, maléfico e infantil ao extremo! As crianças escolhidas também são perfeitas e até o maniqueísmo da história é agradável. As coreografias com os anõezinhos (não sei escrever o nome deles) são muito empolgantes.
Mas sobretudo, nada se compara a forma ríspida como Tim burton quer provocar o universo infantil americano.
Imperdível, sem dúvida!
HOTEL RUANDA
Eu xiei.... Conflito africano?? Tá bom...
Mas se você quiser assistir uma daquelas histórias reais que te esfriam a espinha, tá aí uma opção muito boa!
É uma daquelas história reais em que você se pergunta, em dado momento, se aquilo foi real mesmo!
Outra pérola da tolerância humama.
Elenco brilhante. Direção brilhante e história envolvente.
Vale a pena.
MENINA DOS OLHOS
Outro filme do meu amado Kevin Smith! Adoro esse cara! Ben Afleck é ruim! Isso todo mundo sabe! E ele é ruim mesmo... A pequena Raquel Castro salva a fita junto com Liv Tyler e a sorte é nossa!
Os diálogos, como sempre, divinos. Um mar de referências e críticas. Se for citar algumas estarei sendo injusto, mas todas feitas a "Cats" são de delirar! O shou business está ali na sua configuração mais debochada. Smith não tem vergonha de recorrências: até Matt Damon está lá. Numa participação ótima. Até Will Smith se rende e permite que Kevin tire um pouco de sarro da cara dele.
Meu filme preferido dele é "Procura-se Amy" e nada se compara ao que ele faz ali, mas "Menina dos Olhos" é honesto e tranquilo. Vale pela língua áspera de Smith e por seu texto sempre viável.
Uma graça!!
Linha de Montagem Divina
Departamento dos Trópicos / 6º andar do subsolo/ Planejamento pós-gênesis
ARQUIVOS REVIRADOS ENCONTRADOS FORA DOS LIMITES DA VIA LÁCTEA
*Ficha nº mais ou menos abaixo de -3007,12 (Ana Beatriz Alqueres)
(Reserva especial de erudição). Heterossexual. Origem recessiva. Aristocracia (enviada aos trópicos por recomendação superior). Inteligência social. Beleza nórdica. Dom artístico para representação (marcar hora com Dionísios). Metodismo. Sabedoria burocrática. Excesso de condescendência.
Regência: Sagitário
Karma: "Eu só peço a Deus, um pouco de malandragem". Reunir percepções do mundo.
Missão: Transmitir conhecimento
U.R.E. (último registro encarnatório): Escrava fujona fundadora de quilombos no Brasil colônia. Morta com um atabaque no crânio.
Nota do Fabricante: Resguardar características da U.R.E.
*Ficha nº mais ou menos abaixo de -3007,10 (Bruna Alves)
(Reserva especial de Euforia). Heterossexual. Beleza unânime. Sensualidade. Inocência. Inteligência dosada. Dom artístico para representação (marcar hora com Dionísios). Falta de atenção. Desconcentralidade flexível. Fragilidade interpessoal. Dissimulação. Apego específico.
Regência: Escorpião
Karma: "Sou um animal sentimental". Pagar o preço do instinto.
Missão: Descobrir o equilíbrio
U.R.E.: Ator gay da Itália Medieval. Morto pelo amante mais velho.
Nota do Fabricante: Reserva excessiva de euforia. Escapes: gargalhada berrante. Felicitismo.
*Ficha nº mais ou menos abaixo de -3007,9 (Débora Dias)
(Reserva especial de exclusão). Heterossexual. Singularidade (oscilações de feminilidade e humor). Personalidade inflexível. Beleza. Singeleza. Inteligência acumulativa. Dom artístico para representação (marcar hora com Dionísios).
Regência: Peixes
Karma: "Eu quero é me livrar, voar, sumir, perder, não sei querer mais..." Os relacionamentos de corpo e de alma.
Missão: Ser uma diva.
U.R.E.: Guerreira atlante devoradora de homens. Considerada infértil pelas tradições de seu povo, entrega-se à luta e escandaliza a sociedade atlântica. Morta em batalha pelo inimigo.
*Ficha nº mais ou menos abaixo de -3007,13 (Henrique Haddefinir)
(Reserva especial de melancolia). Homossexual. Beleza confusa. Apatia. Dom artístico para representação e escrita (marcar hora com Dionísios). Inteligência humana. Equívoco interperssoal. Senso de amizade. Responsabilidade limitada. Sexualidade incontrolável. Amor pela ilusão e fantasia. Relacionamentos amórficos. Sonhador + falta de determinação= frio na etapa da inspiração. Dissimulação. Tolerância. Visão coletiva.
Regência: Aquário
Karma: "De onde vem a calma daquele cara? Ele não sabe ser melhor viu...". Corrigir desvios de personalidade. Aprender a amar.
Missão: Prôpor coisas vindas de suas experiências itinerantes.
U.R.E.: Poetisa anônima conquistadora e gananciosa. Lançada do alto de uma torre pelo seu único apaixonado.
*Ficha nº mais ou menos abaixo de -3007,8 (Tiago Maviero)
(Reserva especial de sensações psico-patológicas). Homossexual. Dom artístico para representação e escrita (marcar hora com Dionísios). Egocêntrico (enviar para família humilde). Intolerância trabalhável. Personalidade inflamável. Confusão conceitual. Questionamento. Profusão inspirativa. Inclinação religiosa xiita (pedir ao chefe uma orientação espiritual). Dependência. Clareza.
Regência: Sagitário
Karma: "O mal dos gênios é que pra sê-lo, elimina-se o conceito de humildade". Busca pela aceitação.
Missão: Mostrar-se ao mundo.
U.R.E.: Dançarina taberneira da França medieval. Teve a garganta cortada por uma soprano lésbica advinda da nobreza.
Nota do Fabricante: Atenção especial aos outros U.R.E.; presença marcante de atividades artísticas escusas.
*Ficha nº mais ou menos abaixo de -3007,11 (Viviane Antunes)
(Reserva especial de masculinidade). Heterossexual. Sexualidade infame. Personalidade inflamável. Dom artístico para representação e canto (marcar hora com Dionísios). Vazio interpessoal. Determinação. Fragilidade emocional. Beleza. Apego específico. Amorosidade. Estilo.
Regência: Gêmeos
Karma: "Já que não me entendes não me julgues, não me tentes". Absorver menos o meio em que está inserido.
Missão: Brotar arte do meio do vulcão.
U.R.E.: Angolano reprodutor de tribo canibal. Morto por tradição tribal após o término de sua serventia à tribo.
PARECER TÉCNICO: Danos permanentes de convivência forçada. O reviramento das fichas e o ocasional encontro indesejado desses destinos acarreta complicações vitalícias. Providenciar punição. Organizar caminhos alternativos.
NOTA ESPECÍFICA: Ano de colisão: 2003. Espaçamento iminente. Convivência específica: (em branco).
01 de Agosto de 2003. Rio das Ostras. Rio de Janeiro. Brasil. América do Sul. Terra...
E era uma vez a Oficina I...
- Pieguice à vista. Tape o nariz!
Era uma vez seis jovens em busca de arte. Era uma vez uma sede que consumia o corpo todo e que eles fizeram de tudo pra saciar. Era uma vez um sono forçado pra não parar de sonhar. Mas os olhos de um jeito ou de outro vão abrir... e agora já é hora de acordar (pieguice rimada ainda é pior).
Antes eram vinte e cinco!! Bia, Débora, Bruna, Tiago, Henrique, Vivi, Simone, Juliana, Bruno, Larissa, Isa, Anísio, Cássia, Sula, Jairo, Jefferson, Adriene, Marcelino, Daniela, Ádamo, Camila, Rosana e mais uns três que jamais apareceram na aula.
E assim, percorreran os primeiros seis meses imbuídos numa energia sólida e compartilhada que gerou uma onda de produtividade e realização que transformou esse primeiro grupo na personificação de um roteiro inventivo de um filme sobre "os escolhidos pra viveram alguma coisa especial". E entre Agosto e Dezembro de 2003, envolvidos com os vocalizes de Eli, o ballet de Nora, os improvisos de Caio e os ensinamentos fundamentais de Henrique Pimentel, os 22 alunos ativos da Oficina I, provaram o gosto saboroso da realização de um sonho.
Espera aí.... Interrompemos a nossa programação lúdica pra informar aos desavisados de plantão que esperam viver também uma "turma de contos de fadas", que desde o início, desde sempre, os avisos pra iminência dos pesadelos percorriam as periferias do Teatro Quintal. Contrariando todos os prenúncios de cautela, seguiram os destemidos em busca de mais. Sem notar o odor de orgulho que já pairava acima das árvores secas daquele quintal...
MURAL DE LEMBRANÇAS DA OFICINA I (faça também o seu!!!)
Primeira aula de improviso - Caio Bastos passa um trote e consegue, além da atenção precisa de Sula e Cássia, mais um machucado na já remendada Débora.
Exercícios "Pìmentelescos" - Seguindo do Teatro Primitivo ao Teatro Grego, os grupos vão desde o tribal até os gêneros devidamente revisitados (lembrando que como adeno, temos a primeira apresentação pública dos alunos da Oficina I, que apresentam Tennesee Willians aos baldes, Arlequins dos mais diversos (como o Arlequim rosa da Camila e o engraxado da Adriene) e Medéias ao gosto do freguês). Mário de Oliveira então diria: "Eles não sabem o que fazem".
A aula da Praia - Um vexame que só com o tempo descobriu-se cômico.
Figuras Carimbadas - As mentiras de Marcelino e Daniela registram-se como as mais loucas da história da escola! Os dois são ótimos exemplos de como atores frustrados podem se transformar em ótimos mentirosos. Ainda temos o "garanhão do esgoto´", Ádamo. E nossa eterna Isa "É preciso saber viver".
Tiaguices - Depois de um conturbado período e desencontro social, Tiago se transforma no gênio incompreendido e desemboca no bobo da corte. Suas imitações de Anísio e Isa ainda são clássicos e suas edições musicais na aula do Caio rendem psicologismos até hoje.
Namoricos Que o Tempo Esqueceu - Ritchelli (Oficina II), já ficou com Bruna e Camila. Tiago já ficou com uma amiga de Juliana (você é virgem??) Quase ficou com Daniela e encheu o saco de Débora (armários, armários...). Bruno fez Juliana terminar seu noivado! E sem falar em todos e todas as apaixonadas e apaixonados por Rodrigo Portela.
Enganos que o Tempo quer Esquecer - Uma dia um maluco quase fez alguns montarem "Romeu e Isolda". Outros malucos quase montaram "O Mistério da Feiurinha".
Dentro e Fora dos Armários - Tiago, Ádamo e Marcelino juram que são héteros. Henrique conta pra quem quiser saber, que é gay. Com o tempo, alguns armários (até não citados), caem por terra.
Avaliações - Quem se esqueceu das declarações incríveis que Henrique Pimentel fez pra cada aluno no final da oficina?
Sula - É possível que se goste tanto e tão gratuitamente de alguém? A Sula é o nosso símbolo. Uma unanimidade entre todos nós. Alguém com quem tivemos momentos lindos. Alguém de quem vamos lembrar com ternura pra sempre... e uma grande artista. Torcemos por ela agora.
Caravana Pelo Sucesso de Sula - A oficina em peso vai assistir ao espetáculo de Sula.
Tiago Maviero e Henrique Haddefinir (ainda sendo só Silva), por uma artimanha do destino estreiam em seu primeiro espetáculo.
"A àrvore da Praia"
A Figueira a olhar / O que vinha lá do mar / Cada folha que crescia era um conto pra contar / Na baía a tremular / Com a brisa lá do mar / Formosa e altaneira....
(ah... eu adorava aquela zabumba...)
Trabalhos de Sucesso - O improviso de Henrique e Camila na aula de Nora. O trabalho com Édipo, de Débora, Sula e Bia (a origem de outros sucessos). As redações de Henrique e Tiago nas aulas de Pimentel. A primeira coreografia de Nora com o "primeiro grupo" (que quase sempre tinha Viviane, Sula, Bruna, Henrique e outros mais incluídos nele).
Trabalhos de Fracasso - O trabalho com "A Gaiola das Loucas" da "Panela Rosa". Os improvisos que tinham o dedo de Marcelino, Isa e Anísio. Quase todos os improvisos com o professor Caio. As tentativas de canto de todos os homens da turma. As coreografias com o "segundo grupo". Os "arlequins" do trabalho com Pimentel.
Bordões - "Panela Rosa" e "Panela Negra". Tudo é um processo...
O dia da Fábula - "Moça ocê tá aí, escondida no quintal, me conta do seu sonho, me deixa eu te levar. Pra onde ocê quiser, pra onde ocê pedir, te levo em meu cavalo se ocê quiser fugir..." Nasce o mito Rodrigo Portella.
E aí...
...veio TRILHOS:
Fundação Rio das Ostras de Cultura
Apresenta
TRILHOS
Escrito e dirigido por Rodrigo Portella
com a cia municipal de teatro
“O tempo é o maior tesouro de que o homem pode dispor. (...) É o nosso bem de maior grandeza. Não tem começo. Não tem fim.(...) Só a justa medida do tempo dá a justa natureza das coisas”.
Raduam Nassar
A vida de uma pequena e estranha cidade é retratada pela história de uma velha que espera o marido a vinte anos, de dois jovens que se casam numa capela abandonada, quatro amigos revivendo o passado, uma família atormentada por uma gravidez, um grupo de prostitutas que amam o mesmo homem e um mendigo que mora numa estação de trem, onde todas as histórias se cruzam.
Elenco/Personagem
Margot Távora
Alma
Bruna Alves
Morena
Viviane Antunes
Maria
Tiago Maviero
Zé
Caio Bastos
João
Carlos Henrique Pimentel
Siri
Henrique Haddefinir / (nasce o sobrenome Haddefinir)
Aramís
Débora Dias
Jandira
Bárbara Saboya
Laura
Aline Garcia / Juliana Ribeiro
Sussego
Cláudia Bispo
Joana
Cássia Gomes
Madalena
Marcelo Neves
Percoço
Ritchelli Santana
Pedro
Renata Cabral
Georgina
Eliane Soares
Lúcia
José Antônio Fernandes
Sr. Afonso
participação especial
Norma Maia
como Birusco
Equipe Técnica
Dramaturgia, direção, cenografia e iluminação
Rodrigo Portella
Assistente de direção
Mariana Barcelos
Figurino
Mário de Oliveira
Trilha sonora original
Mara Fróes e Remi Gillet
Direção de arte (instalação)
Juliana Ribeiro e Simone Assis
Operador de som e
Técnico de gravação
Mário Telles
Operador de luz
Carlos Ribeiro
Equipe de produção
Juliana Ribeiro, Simone Assis e Diana
Direção de produção
Carlos Henrique Pimentel e Norma Maia
Cenotécnico
Francisco Lima
Fotos
Jorge Ronald
Making off
Músicos
Confecção de figurinos
Cooperativa das costureiras
de Rio das Ostras
Montagem de luz
Rodrigo Portella, Carlos Ribeiro, Tiago Maviero
Bruna Alves e Marcelo Neves
Preparação vocal
Jane Celeste
Preparação corporal
Nora Kholki Carneiro
*Trecho extraído da primeira conversa de Carlos Henrique Pimentel com os alunos interessados no que inicialmente seria chamado de "Curso de Verão":
"Tivemos um problema com a Oficina III. O professor Rodrigo Portela ficou devendo algumas horas de aula com a oficina e nos propôs repôr essas aulas no período de férias, entre janeiro e março. Sabendo desde já que alguns alunos usariam esse período pra realmente tirar férias, a escola pensou então no seguinte...
*Tiago, Henrique, Juliana e Débora alguns dias antes (ensaio do auto de natal): -Acho que não tem chance pra nós... -Parece que o nome do texto é "As Três Marias". -Não tem problema, se abrir pra outras turmas eu entro nem que seja pra servir cafezinho...
...O Rodrigo vai cumprir as horas que está devendo pra escola de janeiro até março e vai fazer isso, não repondo as aulas, mas executando uma "montagem de verão". Os alunos da turma III que se interessarem podem cumprir suas faltas e alunos de outras turmas também podem fazer parte do processo. No entanto, como se trata de um período de férias, aqueles que não quiserem fazer parte da montagem, não vão ser prejudicados em suas avaliações..."
*Rodrigo Portela ao final do primeiro encontro: -Eu havia escrito um texto com personagens suficientes pra dezoito pessoas, mas nós temos muito mais que isso aqui no nosso encontro. Então mesmo detestando essa coisa de teste, a gente vai ter que passar um tempo juntos pra que eu decida quem vai fazer os personagens.
*Manuel Thomas depois de duas leituras: -Eu acho que eu fico com o Siri, a Samantha fica com a Maria e o Henrique com o Aramis...
*Henrique Pimentel em off: - Eu falei "eu quero personagem pra mim e dane-se se eu estiver tirando papel de aluno!"...
*Rodrigo Portela depois de algumas leituras: - O Pimentel vai fazer o Siri. E a Viviane vai fazer a Maria, essas são as únicas certezas que eu tenho.
*Manuel Thomas depois de perder o Siri: -Eu acho que vou fazer o Zé.
*Henrique Pimentel na penúltima leitura: -Porque o Tiago não lê o Zé? Ele tem a voz forte, não custa experimentar...
*Rodrigo Portela no final da penúltima leitura: - Acho que o Tiago vai continuar lendo o Zé, por enquanto...
*Henrique Haddefinir no portão da casa da Débora: -Quem são os personagens importantes? Alma, Maria, Joana, Morena, Aramis, Zé, Sossego, João e Siri. Já está quase certo que a Maria é da Vivi e a Morena é da Bruna. Sem falar na Sosseso que já é da Sula. Se eu ficar com o Aramis, a Cássia com a Alma e o Tiago com o Zé, já são seis dos personagens importantes com a Oficina I! Isso é muito inusitado.
*Elenco de Trilhos, muitas mudanças depois: Viviane (Maria), Bruna (Morena), Henrique Haddefinir (Aramis), Zé (Tiago), Jandira (Débora), Madalena (Cássia)...
E perdidos até hoje estão esses mesmos atores, querendo entender o que aconteceu durante aqueles seis meses de montagem. O que era pra ser um curso de verão virou um espetáculo de proporções gigantescas!
REVISTA ZEN (matéria publicada entre os meses de janeiro e julho de 2004)
" - A senhora fala em conjunções astrais? Em forças advindas de manifestação artística específica?
- Mais ou menos. Eu falo de um primeiro semestre regido por Aquário e Gêmeos. Signos de comunicação voltada para a atividade artística. Um segmento de forças astrais que será muito melhor percebido por quem está envolvido em processos de conhecimento poético ou dramático.
- É o ano dos artistas?
- Não. É o momento dos artistas! E que deve ser aproveitado ao máximo. Essa conjunção é frágil e ocorreu devido a um deslocamento natural provocado pelo estremecimento do eixo terrestre. Tudo pode mudar em segundos! É como se em alguma parte do mundo, de súbito, um grupo de artistas fosse escolhido pra viver uma inspiração única. Regidos por essas forças, eles iriam desfrutar de grande libido teatral. Mas o vento pode mudar em questão de instantes.
- Você não faz isso parecer bom...
- Não é. Temo por aqueles que jamais superem a ressaca dessa embriaguez artística."
*Henrique Haddefinir durante o processo do espetáculo: - Quê que é isso que tá acontecendo? Onde o Rodrigo está querendo chegar exigindo da gente uma postura que ainda não estamos preparados pra ter...?
MURAL DE LEMBRANÇAS DO PROCESSO DE TRILHOS (faça também o seu, também):
O Resultado do Teste - Os homens apavorados de medo de pegar o Jacir (nenhuma fala). As mulheres se engalfinhando pela Sossego.
As Mudanças no Texto - Sossego já foi uma assassina serial. Já teve uma filha. Zé e Morena já tiveram um caso. Aramis já foi filho de Madalena. Joana e Maria já foram irmãs. Pedro e Sossego já foram namorados. Maria e João também. E entre todas as mudanças feitas, acho que quatro ao todo, passamos por projeções cinematográficas, textos cheios de reviravoltas brutais, trocas de personagens e terminamos num corredor, com a platéia dentro do palco, coxias alternativas e somente um banco em cena.
As Trocas de Personagens - Bárbara Saboya quase foi Birusco. Tiago já foi Pedro, Percoço e terminou com Zé. CLáudia já foi Madalena. Sossego passou por Sula, Aline e terminou com Juliana. Ritchelli entrou na última hora pra fazer Pedro. João foi de Caio, passou por Manuel e voltou pra Caio. Sr. Afonso foi de Anísio, mas terminou nas mãos de Jac. Cássia fez Alma, depois foi pra Madalena, deixando Alma pra Margot. Lúcia foi de Aline e terminou com Eliane, que também foi Alma Jovem. Percoço também passou por Manuel antes de chegar à Marcelo. Laura foi criada só pra Bárbara, assim como Georgina pra Renata, e Jandira cresceu por mérito de Débora. Morreram do texto: Jacyr, Pequena e a filha de Sossego.
O Banco - Só quem manipulou o banco, sabe como foi.
As Frases Inesquecíveis - "Inalcançável!!!!!!" / "Minha cabeça pesa feito carrara" / "A minha navalha corta..." / "Pequena,Pequena" / "Oi Benzinho!" / "Eu vou com frio" / "Tô pensando na morta da minha mãe, eu a amava tanto..." / "Nenhum" / "Eu sei muito mais do que você pensa" / "Eu não tô indo ver o trem" / "Eu sou aquela que ficou" / "Eu sou aquele que vai" / "...una foram de trem, outros de carona com um anjo qualquer..." / "Nada aqui fica. Tudo passa. Vem de lá. De lá. De lá. E passa. E vai" / "Diz ao meu noivo, que eu vou ver o mar..." / "Vai lá, levanta o espetáculo" (Cláudia Bispo em off, para Tiago, sobre a cena de Aramis e Morena que teria amornado o espetáculo).
Os exercícios - Preenchendo os espaços. Platô com intenção e sem intenção. Contato por improviso e manipulação. Níveis de manipulação. A festa.
Momentos inesquecíveis dos exercícios - Bruna gritando como louca no improviso coletivo. Pimentel dizendo que ia jogar a cadeira nela. Anísio sendo manipulado. A troca de personagens entre os atores. Os improvisos do que seriam as cenas dos personagens na ação anterior e posterior à da peça. Sula e Ritchelli tendo um ataque epilético. O platô com intenção sedutora (ponto pro Henrique). Todos fugindo de fazer os exercícios com Margot, Jac e Anísio. A cara das pessoas no dia que vimos "Réquien para um sonho". A empolgação de Rodrigo com Lars Von Trier. Tiago e Cláudia no cio no exercício da Festa. Henrique e Bruna ensaiando os beijos num cantinho apertado das coxias. O pavor com o que Rodrigo estaria preparando para o dia seguinte. As horas analisando Stanislavski. As horas analisando os personagens. Os sobrenomes do personagens (Aramis-correntes-pra baixo-terra-ferrugem-fica). A visita emocionada à Rocha Leão.
Momentos inesquecíveis no geral - A trilha. A carta de Rodrigo ao elenco dias antes da estréia. Os preparativos para a montagem do espetáculo. Norma comendo o frango gelado (que cheiro ruin...). As coxias alternativas, apertadas e aprisionadoras. A instalação pronta. O elenco testando o novo banco. As roupas que cada um levou de casa para os ensaios. A escada que fizemos de trilho. A canção de Maria Rita. O choro com o presente de Glauco no dia da estréia. As provas de figurino. A despedida de Sula.
Enganos inesquecíveis - Caio e Rodrigo entram em divergência de opiniões. Caio sai. Rodrigo se desespera sem João. Caio Volta. Os ferroramas que ninguém usou. Aline engravida e sai na última hora. A luz que faltou no meio de uma apresentação. O poema que Rodrigo queria tanto que Aramis declamasse e que jamais ecoou.
Portelices - "Aproveita isso" / "Direto ou indireto? Vetor pra baixo ou pra cima? Reto ou sinuoso?" / "Sente o impulso" / "Isso é teatro!"
CRONOGRAMA DE ENSAIOS DE “TRILHOS” (um dos)
de 05 a 08 de junho
05/06
Sábado
19h
22h
Siri, Joana, Laura, João e Georgina
06/06
Domingo
15h
17h
Família
06/06
Domingo
16h
18h
Aramis e Morena
06/06
Domingo
16h
20h
Siri, Joana, Laura, João e Georgina
07/06
Segunda
14h
16h
Aramis e Morena
07/06
Segunda
16h
18h
Sussego, Pedro, Zé e Percoço
07/06
Segunda
18h
22h
Todos
08/06
Terça
14h
16h
Alma
08/06
Terça
18h
22h
Todos
*Para o bom rendimento dos ensaios é fundamental que o elenco chegue 20 minutos antes para trocar de roupa e fazer o aquecimento da sua voz, do seu corpo e do seu estado de criação.
** Atrasos não terão tolerância
***É fundamental que o texto esteja muito bem memorizado para que não interfira na memorização da marca.
O ESPETÁCULO
*Crítica extraída embora jamais publicada.
Por Afonso Humberto
"Mande notícias do mundo de lá...diz quem fica". Se houvesse alguma facilidade dos veículos artísticos desse país em conseguir direitos autorais de seus próprios colegas, certamente o diretor Rodrigo Portela poderia usar esse trecho de um canção de Milton Nascimento em seu mais novo espetáculo, "Trilhos".
Tudo começa ainda na entrada do teatro. Ausente do que seria o universo cultural interiorano, o crítico que vos fala adentra a discreta construção do Teatro Popular de Rio das Ostras e se depara, ainda no hall, com o que seria um pedacinho de Rosário, cidade fictícia criada pelo diretor para contar sua história. A história de uma mulher, que há anos espera a volta do marido que partira no trem que nessa cidade, passa apenas uma vez no ano. Junto com ela, uma vez que toda a ação se concentra na estação do trem, estão as vidas de outros três núcleos de personagens. Todos eles, sofrem direta ou indiretamente com a passagem anual desse trem.
A premissa é intrigante. Sobretudo devido à maneira segura com qual o autor domina os parâmetros de sua história. Os personagens daquela história são e sentem tudo à sua volta. Nota-se, desde o primeiro minuto, que há uma compreensão absoluta daqueles atores para com o que estão vivendo e que o universo construído para a montagem, está encrostado em cada impulso.
Rosário é um duto de fumaça. Não tem, de modo algum, aquele ar aconchegante de cidade pequena. É quente. Quase abafada. Amórfica e perdida. Apesar dos figurinos sugerirem alguma datação, não há menções de tempo e espaço e nem a maneira como os atores falam (numa linguagem própria que substitui coisas como "eu estou aqui" por "eu vou aqui") dá pistas de onde estaria Rosário. É uma cidade fantasma, onde as pessoas nunca chegam. Sò vão. Há no texto, infinitas maneiras de demonstrar ao espectador que quase todos os personagens odeiam aquele lugar. Que o tal trem anual é o símbolo da esperança pra quem deseja sair daquela terra inóspita. O primeiro núcleo apresentado, mostra uma jovem que deseja sair pra ver o mar, em constraste com seu tradicionalista noivo, que quer ficar e casar. O outro, mostra uma família que é assombrada pela gravidez de uma das meninas pequenas. O seguinte mostra um jovem atormentado que quer ir embora pra tentar se livrar do sentimento de asfixia que a cidade lhe provoca. E o último, mostra um grupo de prostitutas todas apaixonadas pelo mesmo homem, que deseja ir embora pra ganhar o mundo. E o mais curioso, é que mesmo os personagens que desejam ficar, não tem um retrato tão apaziguador de Rosário, que em dado momento, se torna o grande vilão dessa história. Sendo o maior abrigo e também o principal castrador.
As histórias vão se entrelaçando e o clima de tensão cresce claramente. O espectador vai sendo levado junto com os personagens ao climax do espetáculo, que culmina com a chegada do trem (uma das cenas mais bonitas, inclusive). E é aí que descobre-se a grande premissa da peça: Quem fica? Quem vai?
A platéia dividida em arquibancadas no palco, fica cara a cara com os atores, que encenam no corredor disposto entre as filas. Há uma disposição de coxias que aprisiona os atores dentro delas durante todo o espetáculo. E em cena, somente um banco como cenário. E é aí que começam os charmes da produção de Rodrigo Portela. As marcas, claramente criadas a partir de exercícios de improvisação que geram belíssimas imagens, são quase em sua maioria apoiadas naquele banco de igreja. Faz-se de tudo com o banco!! Ele circula de um lado pro outro. Vira tudo! Os atores passam por baixo, por cima, jogam-no no chão, sobem nele e por diversas vezes, ele é a grande atração das cenas. É simplesmente fascinante o modo como os atores e a direção encontraram maneiras tão curiosas de relação com essa única peça cênica.
A iluminação é outro show! Sabe-se com clareza que Rodrigo Portela já é um grande nome em iluminação e em Trilhos isso fica gritante. Os signos sonoros dados aos personagens (sons que sempre entram quando um personagem apareçe), são fixados também pela luz. Cada vez que um personagem imita o andar em um trilho, uma luz especial pra isso é acionada. Cada personagem tem sua paleta de iluminação e nos momentos culminantes, a iluminação é essencial na ambientação das cenas. Outro ponto muito importante, é a chegada do trem. Depois de tamanha espectativa criada, o espectador fica à caça do que será esse fim. A platéia, virada uma de frente pra outra, com os atores encenando no corredor entre as arquibancadas, se torna o trem! Os atores viram-se de frente pra platéia e olham a chegada do trem num mesmo movimento sincronizado da esquerda pra direita e da direita pra esquerda. Cara a cara com o espectador, que em dado momento, chega a olhar pra trás pra ver se alguma coisa está chegando mesmo. Brilhante!!
Talvez a grande deficiência de Trilhos seja mesmo a interpretação. Num espetáculo onde o diretor como encenador está presente como poucas vezes se vê no teatro. Talvez nem tanto no teatro contemporâneo, que entra numa costante contradição entre o papel do ator numa montagem como distanciamento do encenador e ao mesmo tempo, tem como marca à ferro a figura gritante do encenador como diretor. Rodrigo Portela é um grande encenador e num espetáculo como Trilhos, formado por atores em formação e alguns nem mesmo atores, a figura dele é a maior arma pro sucesso do espetáculo e o maior obstáculo pro sucesso dos atores. A mesma brilhante iluminação, trilha e concepção que impulsiona o espetáculo, também vende-o como um produto visual perfeito. Os atores são engolidos por isso, mas perdoados pelos olhos emocionados do espectador. Margot Távora, como Alma, a velhinha que espera, é encantadora. Divide, junto com o Birusco, de Norma Maia, a função de olhar lúdico em Rosário. E protagonizam um belo final. A menina que ver ver o mar, chamada Morena e vivida afoitamente por Bruna Alves, convence muito bem. Tem a ingenuidade, beleza e fervor exigidas pela personagem. No entanto, seu principal parceiro de cena, Henrique Haddefinir, vive um contido e apático Aramis. Não sabe-se até que ponto essa foi a proposta da direção, embora seja visível a forma como o jovem ator luta pra encontrar a alma de seu personagem, provando a incompreensão do mesmo pra com ele. Como um espírito que não se entende bem com seu corpo. Mesmo assim, os dois protagonizam belos momentos, como o casamento de mentirinha na igrejinha e a brincadeira de prostituta que arranca bons risos da platéia. Há muita poesia entre os dois e isso fica claro. Outro núcleo muito jovem protagoniza momentos fortes: Aline Garcia, Ritchelli Santana, Marcelo Neves e Tiago Maviero, interpretam o reencontro dos amigos Sossego, Pedro, Percoço e Zé, que culmina no estupro da moça. Aline parece velha demais pra viver Sossego. Marcelo Neves encarna bem a cretinice de seu personagem, mas fica over nos momentos engraçados. Ritchelli vive com dignidade a ternura de Pedro, mas sem dúvida, a surpresa está com Tiago Maviero, que tem em Zé o verdadeiro protagonista da história. Apesar de ser um dos mais jovens do elenco, tem boa postura, voz forte e oscila entre o instinto animal do papel e ao mesmo tempo, com uma esperança na vida que supera sua incômoda imagem hostil. Parece ter entendido muito bem o personagem e o que o diretor queria com ele. Tem nas mãos as rédeas dos momentos mais cruciais da história e domina tudo isso com muita segurança. Grande achado! O núcleo da família também tem bom desempenho. Viviane Antunes vive uma impressionante Maria. Cheia de charme e força. Débora Dias, que vive sua maquiavélica irmã, é um anjinho endemoniado. Naturalista às alturas. Dois acertos. Eliane Soares vive uma correta Lúcia. E José Antônio, muito inexperiente, se permite e consegue não atrapalhar. Talvez Cássia Gomes seja um dos grandes equívocos do elenco. Ela sofre dos mesmos problemas de comunicação com o papel que sofre Henrique Haddefinir. Mas tem uma boa cena quando bate na filha. O núcleo das prostitutas é todo formado por atores mais velhos e experientes. Com excessão de João, vivido por um fraco Caio Bastos. E exatamente por essa experiência, é que o núcleo destoa do resto do elenco que se mantém adequado com a bestialidade que é a mão do encenador no espetáculo. Henrique Pimentel, Cláudia Bispo, Renata Cabral e Bárbara Saboya lutam como titãs pra garantir a força de suas interpretações. Chega-se a pensar até mesmo se elas acharam que toda prostituta tem que ser meio "navalha na carne" ou se foi essa a orientação dada à elas. Cláudia Bispo chega a extremos nessa proposta! Sua Joana se perde o tempo todo entre Nelson Rodrigues e Plínio Marcos e apesar de intensa, peca por falta de humanidade. Henrique Pimentel também parece ter problemas com referências e seu Siri sofre com o encosto de Madame Satã e Cintura Fina. Renata Cabral quer ser Nelson Rodrigues, mas termina mesmo sendo Chico Buarque. E levando lambadas de todos os lados, está Bárbara Saboya, que tem uma proposta gigantesca com sua Laura, mas parece insegura do tom que deveria seguir: duelar como os titãs ou ignorar totalmente a batalha, como faz Caio Bastos com seu João. A cena da morte de Joana tem interpretações de ruído desagradável, e apesar de tudo não afugentar o gosto do espectador, o núcleo baderneiro (como chama o diretor) desequilibra as estruturas líricas e agradáveis da peça.
Enfim, um belíssimo espetáculo. Impossível não se emocionar com as partidas dos personagens, as decepções, com o grito desesperado do noivo que perde sua amada e com o silêncio na estação, depois que tudo termina. Até mesmo a canção de Maria Bethânia na hora dos agradecimentos, toca o espectador, que ainda não viu a surpresa final, que é a instalação depois de toda a ação da peça. Sem dúvida, ao descer a rampa do teatro, ficamos tocados com o cantinho de Zé, vazio. Com Aramis dentro do quarto de Morena, desolado. Com Siri supostamente morto e com Madalena fazendo as mesmas orações que a perdida filha Maria. O espetáculo não só levanta questionamentos, como também emociona! Foi inevitável não notar as lágrimas que vários presentes derramavam depois da sessão.
O futuro do espetáculo, sabe-se, não é garantido. É uma peça de formatura e com um elenco grande e heterogêneo demais. Mas também sabe-se que a magia presente naquela Rosário que é a vida de cada um, jamais será esquecida sobretudo, por quem viveu e respirou os ares dela.
"A plataforma dessa estação é a vida desse meu lugar... é a vida"
*Claúdia Bispo numa conversa depois do fim da temporada: - Trilhos jamais se reapresentará. Trilhos morreu!
*Henrique Haddefinir num mea culpa: - Uma das minhas maiores frustações em não ter feito o Aramis que o Rodrigo queria, é porque ele e Morena eram muito importantes pra ele. O Rodrigo sempre foi duas pessoas! Como quase todo mundo, aliás. Só acho que no caso dele, essa ambiguidade fica mais evidente por conta de todo o egocentrismo que ele criou em volta de sí mesmo. A Morena é o Rodrigo artista! Que quer ir embora da cidadezinha e buscar seu sonho. E que não tem medos, preconceitos, amarras. É o Rodrigo que transpassa regras! É o Rodrigo sexual! Já o Aramis é o Rodrigo tradição. Tradição essa, que sua Morena não conseguiu sufocar. E que por vezes, freia as liberdades que ele pensa ter conquistado. O Aramis é o Rodrigo que casa. Que cede às convenções. Que sufoca seus desejos... Uma pena, definitivamente uma pena que eu não tenha sido o Aramis que ele queria. Foi como se eu tivesse aniquilado uma parte dele e deixado incompleto, o retrato lírico das suas existências.
*Viviane Antunes falando sobre suas impressões: - Tinha dias que eu saía me sentindo uma bosta!! Um cocô de atriz.
*Débora Dias: - Eu também.
*Tiago Maviero: - Pára de onda que vocês duas eram super elogiadas!
*Henrique Haddefinir: - Pára de onda os três!! Vocês eram sempre os mais elogiados!
*Sucessão de traumas: - Teve o dia que ele me disse que eu tinha a voz sonífera! E a maldita mania que ele tinha de me pedir masculinidade!! "Henrique, mais homem, mais homem!!". Ele falava como se tivesse toda propriedade do mundo. Me dava vontade de pedir pra ele me conseguir alguém que realmente soubesse do que estava falando. E o dia em que ele me corrigiu porque eu tinha dito "racionalizar" e ele achava que o certo pra falar de raciocínio era "racionar"? Que ódio! Eu devia ter esfregado o Aurélio na cara dele!!!
*O mito se destrói: - Gente, se ele não fosse excêntrico, hipócrita, estranho, sexista, presunçoso e onipotente, ele não poderia estar na galeria dos diretores que se prezam, né? - E aquele senso estranho de liberdade? Quer dizer, ele pregava o livre vocabulário, mas estávamos sempre presos ao alfabeto dele!! - O cara é foda!! Fale o que quiser dele como pessoa, mas ele é um gênio. - O mal dos gênios é que pra sê-lo um aspecto importante da vida precisa ser anulado: a humildade. - O que aconteceu, foi que esquecemos que ele é passível de erro! - Aqui em Rio das Ostras, todo boato é antes de tudo, uma verdade. E tudo que se pensa de alguém, é baseado tão somente neles. Tudo que sabemos do Rodrigo poucas vezes veio da boca dele. E só o que veio da boca dele, deveria nos interessar.
*Oficina I, agora já sendo Oficina IV: - Trilhos foi a melhor e a pior coisa das nossas vidas.
Trenzinho do Caipira
Composição: Heitor Villa-Lobos e Ferreira Gullar
Lá vai o trem com o menino
Lá vai a vida a rodar Lá vai ciranda e destino Cidade e noite a girar Lá vai o trem sem destino Pro dia novo encontrar Correndo vai pela terra Vai pela serra, vai pelo mar Cantando pela serra ao luar Correndo entre as estrelas a voar Luar, no ar, no ar, no ar
À parte:
Tropeços da Oficina que valeram à pena pela caminhada
"Na Flecha Errada..."
Escrito por Henrique Haddefinir (nunca um projeto foi tanto e ao mesmo tempo, coisa nenhuma... a versão finalizada dele (criado essencialmente para entrar no Festival de Esquetes de Cabo Frio) está pronta pra uma montagem até hoje. Esse texto foi nosso primeiro passo. Antes essencial e agora, esquecido. O símbolo do início de alguma coisa. Mesmo que essa coisa também jamais tenha sido).
"Édipo Rei"
Adaptado inicialmente pelo grupo formado por Sula, Débora e Bia, depois readaptado por Henrique Haddefinir e por fim, reestruturado por Marcelo Tosta (o trabalho que foi mais além... começou como um exercício na aula de Henrique Pimentel e se tornou a esquete que deu os primeiros prêmios a alguns da nossa oficina. Foi também esse trabalho que proporcionou às meninas (Débora, Bia, Juju, Vivi), um encontro com outro tipo de linguagem e que também foi responsável por grandes tempestades entre nós. Um lindo trabalho. De feias periferias.
No segundo semestre de 2004, além de confusas aulas, dois alunos da Oficina tiveram a chance de entrar em outro espetáculo: "É Folclore Sim Sinhô".
Simone Assis e Henrique Haddefinir ganham a oportunidade de trabalhar com o lendário Mario de Oliveira. O Folclore é um capítulo à parte, que será tristemente negligenciado aqui. Toda a mágica dessa produção, ficará resguardada pra uma nova declaração.
Segundo semestre de 2004
O caos se instaurou diante do que era a escola de teatro. Não havia espaço pras aulas, não havia alunos dispostos a assisti-las mesmo que houvesse. Os alunos rejeitados no elenco de Trilhos e que também não foram abrigados no elenco do mosaicano "É Folclore Sim Sinhô" se perderam pelo caminho e jamais retornaram.
E no segundo semestre de 2004, a Oficina I só era Bia, Bruna, Debora, Henrique, Tiago, Vivi, Juliana e Simone (Bia e Simone não entraram em Trilhos mais resistiram e Juliana só entrou na última hora). Mesmo assim, Simone e Juliana também foram vencidas pelas circunstâncias ou pelas próprias escolhas e...
...2005 foi o último ano do resto de nossas vidas (credo, a pieguice reina por aqui...)
Menção Honrosa
Simone Assis - Cavaleira andante da nossa Oficina. Presente até o último momento. Impossível esquecer de seu tipo Almodóvar. Merecia ter chegado conosco até o fim, mas de uma forma especial, é Oficina 1 pra sempre.
Juliana Ribeiro - a "Lua". Figuraça. Seriam necessárias milhões de menções honrosas à ela. Só pelas tantas vezes em que ela nos fez rir. Jamais será esquecida.
2005 e as Oficinas IV e V
"Mudaram as estações e nada mudou... mas eu sei que alguma coisa aconteceu, está tudo assim tão diferente..." Renato Russo
Nosso segundo semestre foi o mais produtivo. Não dá pra saber porque começamos a nos dedicar tanto nesse último semestre, mas o fato é que aos troncos e barrancos, cumprimos nosso dever algum tempo antes de encerrar-mos nossa história na Oficina V e na Escola de Teatro de Rio das Ostras.
Capítulo Távia Cristina Bastos de Oliveira
Função: Aulas de Expressão Vocal
Fato: Aulas algazarrentas de ressonâncias, variações de inflexão (!!!) e muito siiiiiiii, fuuuuuuuu, xiiiiiiiii, pa....
Lembranças: Bia de cara na parede imitando Pina Bauche. Viviane cuspindo na cara da professora depois de mais uma aula de discussões. A professora ensinando grito. Débora e Bruna conversando o tempo todo enquanto ela falava. Simone incapaz de falar qualquer outro sotaque que não fosse o nordestino. Henrique se recusando a fazer sotaque mineiro porque o ex namorado era de Minas.
Fruto: Uma truqueira mas famosa leitura de "Os Noivos" com Tiago e Henrique.
Capítulo Fábio Fortes - Os Reis do Truque.
Função: Aulas de Estudo em Interpretação.
Fato: Constrangedoras reuniões silenciosas de contorcionismo partindo da coluna. Ringues de discussão que atravessavam as paredes da escola. Uma fenomenal fofoca que envolveu até os poderosos do sistema.
Fruto: * Fábio Fortes sobre o nosso trabalho final: - A Oficina V fez um trabalho magnífico sobre Grotowski e Stanislavski. O Tiago dirigiu um estudo de ações físicas maravilhoso com o grupo dele e o Henrique realizou um trabalho de teoria sobre ações mecânicas que deveria ser publicado! E ainda dirigiu um trabalho prático com um texto ótimo e super emocionado com as meninas do grupo dele. Uma coisa linda!
* A verdade sobre o nosso trabalho final: Tiago, Bia e Débora realmente trabalharam numa pesquisa de ações físicas, mas deixaram o trablaho teórico se perder no caminho. Henrique fez uma pesquisa faltando dois dias pra entregar o trabalho e encontrou um texto de um cara que dizia tudo aquilo que queria dizer. Adicionou mais umas coisas, fez um recorte e entregou assim mesmo. O texto da cena realmente era dele, mas a direção foi feita pelo Tiago no único encontro entre Vivi e Bruna, no mesmo dia da entrega das cenas. Truque total!!!!
Texto de Henrique Haddefinir para a aula do Fábio
"Inversos"
Pessoa 1:Não há nada que eu não fosse capaz de sentir se eu alterno a visão da minha íris com a suavidade das mais belas manhãs de primavera e verão. Não há nada que eu não fosse capaz de fazer para transformar essas visões em telas e pinturas que ornamentam a sordidez das minhas madrugadas.
Pessoa 2:Faz alguma coisa!!! Faz alguma coisa!! Estica os braços na direção desse emaranhado de cabelos ruivos! Entorte a cabeça! A minha freqüência já está alterada mesmo...
Pessoa 1:Não há nada que eu não fosse capaz de fazer pra sentir o acalento das pontas dos dedos nodosos das suas mãos frias e ásperas... Não há nada que eu não fosse capaz de fazer pra te confundir com a minha fúria.
Pessoa 2: Espera os dados girarem e mostrarem um número. Espera os ponteiros chegarem um no oposto do outro. Espera a luz do Sol descender e evidenciar as estrelas. Espera o umidecer dos olhos pra formação das lágrimas. Espera as batidas pra saber o lado do coração...
Pessoa 1:Eu posso subir em árvores por você. Ajoelhar por você. Ir lá fora congelar por você. Atravessar oceanos por você. Eu posso te favorecer no que você quiser. Sacudir inteira na brisa por você. Mas tem uma coisa que eu nunca poderia fazer por você. Eu não posso acreditar por você. Eu não posso acreditar em mim, por você.
Pessoa 2: Faz alguma coisa... Faz alguma coisa... É horrível ouvir o ruído abafado das alegrias alheias.
Pessoa 1:Esse não foi você.
Pessoa 2:O quê?
Pessoa 1:Essa frase não é sua.
Pessoa 2:Fernanda Young
Pessoa 1:Não vale.
Pessoa 2:Cabe tão bem. É como se fosse minha.
Pessoa 1Você não pode parar de sempre estragar tudo?
Pessoa 2:E você pensa que engana quem?
Pessoa 1:Como assim?
Pessoa 2:Também é horrível ficar respondendo perguntas com outras.
Pessoa 1:EU comecei com elas.
Pessoa 2:O trecho anterior também não é seu. É uma música. Eu conheço.
Pessoa 1:A criatividade nunca foi nosso forte...
Pessoa 2:Nós podemos chorar. Ficar quietas por um instante... e chorar. Apenas.
Pessoa 1:Ou rir.
Pessoa 2:Rir não é bom. Dói a barriga.
Pessoa 1:Podemos chorar de rir.
Pessoa 2:Rir de tanto chorar... Eu prefiro.
Pessoa 1:Então espera aí... eu vou procurar nas gavetas só um instante.
Pessoa 2:Procurar o quê?
Pessoa 1:Os motivos.
Pessoa 2:Eles não estão lá. Eu fui buscar alguns ontem... estão velhos, cheiram muito mal.
Pessoa 1:As gavetas estão cheias. Há de ter algum que possamos usar.
Pessoa 2:Usamos todos os que podíamos na visita do pessoal, semana passada.
Pessoa 1:Acho que guardei algum de reserva na gavetinha da cômoda...
Pessoa 2:Eu usei ontem... quando você saiu.
Pessoa 1:Vamos procurar no tapete. Alguém pode ter deixado cair algum...
Pessoa 2:Não acredito muito nisso.
Pessoa 1:Podemos sair pra comprar?
Pessoa 2:Detesto esses industrializados... Prefiro fazê-los em casa.
Pessoa 1:Não temos mais ingredientes...
Pessoa 2:Há de se ter algumas alegrias mofadas escondidas no fundo da nossa dispensa. Talvez alguma anedota...
Pessoa 1:Anedotas não servem. Os risos não sobrevivem tempo suficiente pra gente copiar.
Pessoa 2:Então o quê vamos fazer?
Pessoa 1:Rir de tanto chorar.
Pessoa 2:Era o que eu queria desde o início.
Pessoa 1:Eu sei.
Pessoa 2:E há alguma coisa nas gavetas que nos ajude nisso?
Pessoa 1:Elas estão abarrotadas!
Pessoa 2:Você tem mexido lá?
Pessoa 1:Você não?
Pessoa 2:Às vezes eu guardo alguns motivos nas de baixo. As de cima eu não alcanço.
Pessoa 1:Será que a sua cabeça suporta o pensar?
Pessoa 2:Me fala sobre as suas noites de insônia...
Pessoa 1: Não há nada que me faça sorrir mais do que o choro histérico de uma morte anunciada. Mais do que o timbre cortante de um pequeno esfomeado. Não há nada que me faça sorrir tanto, quanto as dores provocadas pelo peso surdo do metal pesado sobre o osso. Do que o estalo agudo de placas partindo. Do que unhas rasgando o quadro negro. Do que o barulho viscoso de entranhas torcidas. Do que os passos de um estranho com uma faca.
Pessoa 2: Faz alguma coisa!! Espera pra ouvir o zumbido das cigarras do lado de fora da janela. Espera pra entender o baque seco dos crânios chocando-se. O vento espera pelo desarrumar das plantas. Espere você pelo conforto das folhas secas. Espera pra rir os motivos do teu dissabor. Espera pra chorar os seus sorrisos condenados. Vamos! Faz alguma coisa! Abra as suas gavetas..
Capítulo Rodrigo Portela
Função: Aulas de História e Literatura Dramática.
Fato: As melhores aulas das nossas vidas, junto com as dadas por Henrique Pimentel.