Terça-feira, 29 de Novembro de 2005

Terceira Consciência

Hoje eu tive dois sonhos muito estranhos.
Não gosto muito de ficar contando sonhos. Meu amigo Tiago Maviero tem mania de contar os dele (sempre megalomaníacos e cheios de celebridades) todos os dias e pra todo mundo. Acho que isso me traumatizou. De vez em quando tenho sonhos inusitados e mesmo achando que eles merecem uma verbalização que lhes permita uma presença, eu me calo com medo de me tornar meio tiagônico.
Sonhei com minha primeira turma de teatro e com o Marcelo e a Roberta, todos comigo na fila do cinema esperando pra ver "Harry Potter e o Cálice de Fogo". E isso, é a prova de como nosso inconsciente é absorvente. Entendi o Marcelo e a Roberta no sonho: ia muito com os dois ao cinema. E o motivo do cinema na história toda é que estou lendo o sexto Harry Potter e ainda não fui ao cinema ver o quarto. Só não entendi bem o que é que a minha primeira turma de teatro estava fazendo nessa história toda. Vi alguns que eu ainda me lembro o nome, como a Cíntia, mas outros eu nem sei porque apareceram.
A partir da outra metade da noite, eu comecei a sonhar com o Etéreo Marcos. E acho que foi isso que anulou o meu dia. Não sei porque ele surgiu nos meus sonhos à essa altura. Ele e o Wellington foram os dois maiores terremotos da minha vida esse ano, mas como o Guri continua presente nas migalhas dos meus dias, imaginei que o Marcos seria por muito tempo uma lembrança triste e excitante que de vez em quando eu iria ter.
Lembrança triste... Acho que era a isso que o Henrique Pimentel se referia quando disse que eu era uma pessoa apática e melancólica. Dou sempre um jeito de transformar tudo numa lembrança triste ou nostálgica. Vivi os momentos mais incríveis da minha vida com o Etéreo Marcos, e mesmo não tendo como lamentar uma separação iminente, eu dou sempre um jeito de melancolizar o que deveria ser apenas uma história bonita e casual pra contar.
Enfim, sonhei muito com o Marcos. E de súbito, tudo voltou! Não a lamentação porque ele foi embora e não vou mais vê-lo. Mas a saudade. A saudade voltou arrebatadora! A saudade de toda a beleza e charme dele e de todo seu jeitinho tímido e engraçado que eu nunca mais vou ver. Acho que o que voltou foi isso: esse "nunca mais vou ver". Isso tem um peso muito grande. E esse sempre foi o peso que eu mais tive dificuldade de carregar. Jamais aceitei o "nunca mais" com a mesma objetividade das outras pessoas. Não sou de querer resgatar o que se foi, mas teimo sempre em manter igredientes pra outros pedaços de vida que eu vou saborear e lamentar porque tenho que engolir. Não voltar a ver pessoas ou coisas que me encantaram me deixa muito aborrecido. E por vezes, pra freiar esse ciclo natural que eu insisto em podar, passo por cima de valores pessoais.
Acho que foi isso que fiz com o Wellington. Mesmo depois de ter ouvido coisas muito desagradáveis e de termos avançado para o estágio em que qualquer conversa terminava em ofensas disfarçadas, mesmo assim, eu insisti em cordialidade e coleguismo e consegui, surpreendentemente, contornar a situação e revigorar um tratamento educado e simpático entre nós.
E ontem... no meio de uma conversa no MSN o Guri me diz: se eu for eu te aviso, estou querendo te ver mesmo. E eu congelo! Ou melhor, fervo! E numa reviravolta inesperada, eu passo de "pessoa-apaixonada-sem noção-histérica-insensata-louca" à "alguém-que-ele-gostaria-de-ver-mesmo". Foi inevitável sentir-me curiosamente vitorioso. E ao mesmo tempo, lutando com meu comportamento incauto que poderia facilmente vir novamente à tona diante dessa abertura dele. Os desejos do Wellington são frágeis e volúveis como o vento. De certa maneira, eu me felicitei pela minha vitória em ser uma boa lembrança pra ele e isso já me fez muito bem.
Acho que por essa razão o Etéreo Marcos voltou ao meus sonhos. Ainda não sei bem sob que prisma de compreensão, mas ligado definitivamente, a esse meu desejo de eternidade. Acho que ele será, sem dúvida, a pessoa que eu mais vou sentir falta de rever. Aquela que será uma fantasia trêmula pra sempre. A figura que não teve tempo de recusar as minhas paixonites idiotas e que por isso, resguarda-se na minha vida, num honrado lugar de acertabilidade. E longe de toda a inconstância da vida.
Nâo sei se isso é bom. Não sei se o Wellington ainda tem alguma página pra escrever nisso tudo. Mas sei que a realidade continua sendo o meu fardo impensado. E ao mesmo tempo, que a fantasia se tornou cancerígena. E que eu preciso me livrar da doença, pra conseguir carregar os meus próprios pesos.
Dobrado Por Henrique Haddefinir às 15:47
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Quinta-feira, 24 de Novembro de 2005

Are you ready?


Aì estão algumas imagens da Série OZ, que o SBT finalmente vai terminar de exibir em sua grade. A última temporada, que marca o fim desse complexo panorama da realidade humana, também vai encerrar uma das histórias de amor mais inusitadas que a tv mundial já propagou. A história entre Tobias e Keller. Quem acompanha a série desde o início sabe que incrivelmente, essa história de ódio e desejo que marcou o encontro dos dois, acabou se transformando no carro chefe da série, que se voltou num fenômeno improvável de torcida pelo entendimento dos dois. Inexplicavelmente, Meloni e Lee (intérpretes dos personagens) construíram uma rede de adoração pelo envolvimento que seus personagens tiveram e lançaram uma onda de especulação e libido em volta até mesmo de suas vidas pessoais. A verdade com que viviam a relação de seus personagens se transportou pra vida real e levantou dúvidas entre o espaço representativo de ator-personagem que poucas vezes admite-se num mundo tão informado como o de hoje. Sem dúvida, OZ foi um grande trabalho sobre o instinto humano e as coisas da mente que o circundam, mas foi também uma surpreendente conclusão do quanto os sentimentos periféricos que podemos chamar de amor, se fundem entre tantos outras manifestações irracionais, e se adaptam as circunstâncias e se firmam independente delas, numa certeza afetiva, simbolizada pelas figuras do Tobias e do Keller, tocando o espectador da série (sempre preparado pro pior) e gerando uma onda de torcida que poucas vezes foi vista na tv mundial. Vale a pena assistir.




Dobrado Por Henrique Haddefinir às 17:31
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Quarta-feira, 23 de Novembro de 2005

Condensação

Hoje eu me sentei aqui tendo certeza que eu precisava escrever alguma coisa!!
Tanta coisa aconteceu nos últimos tempos e eu estou sempre brigando com a obrigação louca que eu criei de deixar escritos pra posteridade e com a minha preguiça ansiosa que só pode ser consequência de alguma verminose galopante (credo!).
De qualquer jeito, escrever eu sei que preciso. Passei os últimos meses vivendo experiências únicas que não podem passar em branco. E o mais bacana, é que quase todas elas foram fruto da arte. Ainda não sei até onde artísticamente eu me refiro. Ando num processo de auto-conhecimento incômodo que me tem feito repensar muita coisa. E isso me assusta. Mas o teatro se fez presente à sua maneira e eu prefiro acreditar que forças maiores que eu e as minhas neuras, continuam sendo responsável por essa permanência dele na minha vida.
Trabalhei muito no Festival aqui da cidade. E isso teve uma importância muito grande no que eu acredito ser uma evolução profissional. E vou levar disso sucessos e advertências que não vai dar pra esquecer. Infelizmente, é um processo longo de impressões triviais que não dá pra expressar em sua totalidade, mas tudo foi muito engrandecedor e aos poucos, acho que minha vida vai por sí só, expressando isso.
Fui pro meu primeiro Festival lá em Varginha! E saí do Rio pela primeira vez também. Não pude ficar muito, mas ganhamos muitos prêmios e eu fiquei muito entusiasmado! A agenda do "É folclore sim sinhô" foi mais longe do que nós esperávamos e acabei de voltar de outro Festival, o de Guaçuí, que especificamente falando, guardou mais surpresas e acontecimentos que podem ser melhor colocados na sua função de "assunto de festival".
As fotos aí são de Varginha e também de Guaçuí. Nas duas, é o pessoal de Guaçuí que predomina (ainda não tenho fotos com a nossa galera), o que é até bom, porque todas as nossas tentativas de mostrar o quanto gostamos deles, serão poucas pro tamanho da encrenca que a gente causou.


Foi uma estadia por demais estridente! Eu poderia ficar horas só falando sobre como foi bacana estar ali. Envolvido com aquela galera tão bacana e gentil... mas no fim das contas, foi o show de nosso diretor Mario de Oliveira que ganhou a vez. Eu poderia simplesmente ignorá-lo. Seria até mais delicado. Acho que o rompante dele não tinha o tamanho correspondente ao que ele queria criticar, mas definitivamente, foi uma das situações mais constrangedoras da minha vida! Tá... é bem verdade que estávamos diante de um corpo de júri complicado. Já é complicado lidar com préjulgamentos que são construídos a partir da referência de cada um, quanto mais quando você está numa posição em que a crítica precisa ser ornamentada com certo tom presunçoso, ou você foge da regra mitológica que compõe quase tudo presente nos ares do teatro mundial. E o júri lá era meio assim mesmo. Quase todo júri é! Mas no fim das contas, em matéria de presunção, o Mário não tem concorrentes à altura e derramou sua escola de vida nos caras como se isso fosse o suficiente pra isentá-lo de estar cometendo qualquer erro. E lá ficamos nós... querendo nos enfiar em algum buraco. Passando o resto das horas seguintes, tentando provar que não compartilháva-mos daquela altivez grosseira do nosso diretor e que ouvir críticas era algo que sabíamos e que estávamos dispostos a fazer.

Enfim.... por fim, as coisas ficam esquisitas.

O pior de tudo é que ele apontou o dedo pra cara do jurado mais gato que eu já vi na vida e com quem eu estava trocando consideráveis olhares! Tudo bem... outra coisa que eu também aprendi nesse Festival, é que focos demais dão resultados de menos. Terminei minha estadia lá aos beijos e mordidas com um enrustido depravado e voltei pra casa me sentindo mal por não ter conquistado quem eu queria realmente conquistar. Mas agora tenho histórias de Festival pra contar... e isso é outro ponto que eu ganho em favor da minha própria estrada.

Entre essas viagens com a peça, também rolou uma importante ida minha ao Rio. Pude ficar por lá durante um tempo bacana. Pude rever meus amigos com cuidado e reforçar os laços que são tão importantes pra mim. Pude rever o "..." (não posso dizer o nome dele, tenho espiões) que está sempre com a corda no pescoço. Pude rever o André (sonho de consumo que ama aquele namorado dele mais que tudo e que só enxerga um pênis ereto quando me vê) e pude conhecer o Milton, que é sempre uma conversa istigante e agora também, um sexo muito bem feito.

Passei alguns dias totalmente voltado para a satisfação do meu corpo. Esse foco, obviamente está ligado ao fato do Guri estar quase o tempo todo na minha cabeça. Fui em busca de prazer sem culpa e sem expectativa. E fui muito bem sucedido nisso. Voltei pra casa pra terminar minha escola de teatro e pra fechar esse ciclo de trabalho que tanto me fez crescer. Acho que comecei a entrar naquele estágio de calmaria e preciso ficar de olho no que vier pela frente. Não posso ainda dizer que estou curado do Wellington, ou certo do que farei quando a escola terminar, ou mesmo que estou confortável com quem tenho sido pra mim mesmo (o Matteus é uma perda que me inflama todos os dias). Mas eu acho que as feridas que abri e as gaiolas que formei estão sendo generosas com os reflexos que têm transmitido... Sei lá...

Preciso começar a pensar em como será esse fim de ano. Em como vou proteger meu coração de mim. Ser mais autêntico com o que esse época do ano me provoca. De certa forma, tudo tem sido novo e empolgante. E isso cria ainda mais brechas pros erros que eu sempre cometo. Todavia, ainda sou aquele que se permite errar mais que qualquer outro que eu tenha conhecido

See you soon

"Não há fronteiras para onde alguém pode ir. Há, no entanto, dentro de todos nós, um alarme contra as correntes mais fortes. Nunca temi afogar-me" Fernanda Young

Dobrado Por Henrique Haddefinir às 14:12
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Quarta-feira, 16 de Novembro de 2005

Em Suspenso

Hoje eu queria escrever um pouco... mas tô com tanto sono.
Acabei de chegar da viagem ao Rio e tive que trabalhar. Agora à noite, tenho uma apresentação do Folclore num hotel e amanhã, parto em viagem ao Espírito Santo. Vou pra outro Festival, mas acho que também vou aproveitar pra conhecer o Lucci.
Essa viagem pro Rio tem muitos pontos que mereciam ser comentados e talvez eu o faça depois da viagem.
Até lá...
Dobrado Por Henrique Haddefinir às 17:22
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Sábado, 5 de Novembro de 2005

América - Territórios Confusamente Explorados


Ontem acabou a novela... Lá estava a família toda reunida diante da TV. Naquele efeito de catarse inacreditável, vibrando com os desfechos das personagens da trama das oito (que agora é nove) e fazendo aqueles comentários de sempre, como "ela tinha que ter morrido"... "Cadê o filho dela?"... "Nada ver ele ficar sozinho"... "só em novela mesmo"...
Acabou a novela e nada do beijo gay!
Hoje eu abri os sites de notícias e todos estavam lá, indignados com o corte da tal cena do beijo que chegou até mesmo a ser gravada. Eu sempre fui noveleiro mesmo e não posso negar que assisti a novela com afinco. Com meu vídeo quebrado, a imagem péssima, mas gravando em todos os dias em que não estava em casa. Podia até usar a desculpa de que era por causa do gay da história, mas no fim das contas, eu assistia era por causa do hábito mesmo. Do prazer. Ando muito menos fiel, devo confessar. Passei a assistir mais as novelas de meus autores prediletos. Manoel Carlos, Lombardi, Falabella, Glória Perez... Certamente não verei muita coisa de "Belíssima" e de "Alma Gêmea", eu não vi nenhum capítulo.
Mas novela é um troço doido mesmo... Entre nós, "estudantes-de-teatro-que-sempre-zombam-o-tablado", novela é coisa de ator que não sabe o que é arte! Temos todos um desejo vaidoso e secreto de estampar as capas dos discos que sonorizam as tramas, mas morremos jurando que aquilo lá é coisa de "estudante do tablado"! Mesmo assim, a novela ainda atinge uma linha de interferência na vida das pessoas que é incrível! O último capítulo de "América" ontem, levou a audiência ao céu e ultrapassou barreiras!
Primeiro, foi a primeira vez que vi um último capítulo durar mais de duas horas! E apesar dos problemas que a novela enfrentou, ela teve seus sucessos declarados e eu gastaria linhas e linhas se fosse falar de tods os eles. Até o fracasso em "América", foi sucesso. Desde o bronzeado exagerado de Sol no início, até o "funkismo" confundido da personagem de Mariana Ximenes.
Sem dúvida, Jatobá, Haydêe, Irene, Raíssa, Lurdinha, Creusa e Neuta foram bons exemplos do quanto o universo da novela invadiu o cotidiano brasileiro. A tal ponto que provoca o remanejamento de sinopses e faz com que Sol termina com Ed, ao invés de Tião. Muito mérito da apaixonante carinha de Caco Ciocler, mas também porque a tal química realmente existe no imaginário popular.
Até figuras fortes como Camila Morgado e Matteus Nachtergaele, que tinham papéis pequenos em sua origem principal, tiveram o reconhecimento esperado. Matteus encontrou o tom, como todos já esperávamos que fosse acontecer e Camila, brincou como pôde de vilã!
Já Murilo Benício, Deborah Secco e Gabriela Duarte, reinaram naquele limbo entre erros e acertos. Murilo deu jeito de encontrar uma voz, mas seu xará Murilo Rosa se deu melhor nisso e com a ajuda de Eliane Giardini, cresceu consideralmente com seu personagem. Nesse mesmo limbo, ficaram outros personagens, como os de Humberto Martins, Edson Celulari, Cissa Guimares e Thiago Lacerda.
Eu gostava muito da Islene de Paula Burlamaqui! E da Vera da Totia Meireles. E acho que elas conseguiram bem dominar seus personagens. E tornarem-se notórias.
O núcleo de Vila Isabel, Miami e Boiadeiros cumpriu seu papel como deveria. Talvez haja um destaque pra Lúcia Veríssimo, Neusa Borges (com uma Diva insuportável), pras sobrinhas de Neuta e é claro, pra Nívea Maria, que surpreende com sua capacidade de viver tipos tão diferentes!
Christiane Torloni também me agradou muito. Junto com a filha e o marido, formaram um coerente ciclo de enganos e equívocos que não saiu do trilho e foi claramente pensado desde o seu início. Uma qualidade de Glória Perez que eu prezo muito. Suas histórias são pensadas em sua totalidade e isso cria uma expectativa muito forte pro que vem no futuro. Qualidade que Sílvio de Abreu e Antonio Calmom, por exemplo, não têm. O que cria uma incoerência na trama que torna inverossímil o destino dos personagens.
"América" também se sobrepôs às questão que queria abordar. Os rodeios passaram batidos da questão pró e contra. Os deficientes tiveram seu lugar na trama, mas não chamaram a atenção como esperava-se. Os ilegais tiveram seu bom tratamento. Mas eu tenho dúvidas quanto ao resultado do que Sol passou em sua trajetória. A questão espiritual teria sido o brilho da trama se visto com uma lupa. Glória foi muito feliz ao traçar uma linha de narrativa que colocava Tião, Sol e Ed no destino um do outro. Dando a idéia muito instigante de que por pouco os destinos não se trocaram pelo caminho. Tudo muito bem arquitetado: o pai de Tião manda o boi e o papel do boi nisso só é descoberto no fim de tudo. O boi derrrubaria o peão e assim, o homem com os diamantes poderia encontrar o filho do homem que viu morrer na mina. Sol e Tião se encontram. Eles precisavam ter um filho pra quebrar o carma. Isso não acontece. Sol engravida de outro. Daí, o destino aje e expulsa Sol dos States, trazendo-a de volta pro lugar onde seu filho nasce pelas mãos do homem que deveria ser o pai. O carma ainda não se quebra. Os dois resistiram à ele e por isso, sofrerão sacrifícios pra expurgar os mesmos. Tião monta o bandido pra ajudá-la e quase morre e ela, atravessa o mar ilegalmente e quase morre. Sacrifícios feitos, carma quebrado! E os casais se desfazem e se refazem como não se espera ver num produto tão conservador como as novelas brasileiras.
Conservador ao ponto de impedir o beijo gay entre Júnior e Zeca. Pessoalmente acho que Júnior podia ter sido menos vacilante. Bruno estava bem ao que propuseram à ele, mas o adiamento de suas admissões tornou o personagem pedante. Sua participação na novela valeu por suas duas últimas cenas com a mãe, em que pela primeira vez num horário nobre, vemos as questões gays sendo colocadas sem metáforas ou analogias. E ele disse a frase indispensável: "Nasci assim. Não existe opção!".
O beijo seria bom. Mas o saldo mesmo assim foi positivo.
Glória Perez é uma autora sensata. Cometeu erros grotescos, como a gravidez absurda de Rose (que engravidou e pariu antes de Sol, que engravidou muito antes dela), como as desculpas de Sol pra não ficar com Ed, como a desatenção com a personagem de Gabriela Duarte e Guilherme Karan, como o não desmascaramento de Creusa em Boiadeiros, como o esquecimento a respeito da personagem de Bruna Marquezine, como a ausência sentida da Elis, vivida tão carinhosamente por Silvia Buarque e por aí vai... Mas todos os autores erram e acertam (nunca vou esquecer o o final terrível e insensato da Íris em "Laços de Família"), mas o mais importante é que o resultado faz sentido.
Não resisti a fazer uma crítica pessoal à novela por causa de tudo que ela representou no nosso cenário e que eu só percebi depois de ter visto mais da metade do Brasil acompanhando a trama (dita fracassada) até às onze da noite!
Não sei se caminhamos pra um crescimento ou não do prestígio que esses produtos podem vir a ter. Sem o beijo, vê-se que passos ainda são dados pra trás. Mas com "a Lua me Disse" de Miguel Falabella, vemos que alguns passos podem ser dados pra frente.
É dar as coisas suas devidas proporções.
Até porque, sempre vai haver um "primeiro capítulo".
Dobrado Por Henrique Haddefinir às 16:42
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Quinta-feira, 3 de Novembro de 2005

Sobre Nada

Eu pretendo uma entresafra (é junto?) longa e infértil.
Já faz algum tempo que eu não tenho inspiração pra falar sobre as coisas que andam acontecendo comigo desde que "eu" parti. Desde que o Wellington foi responsável pelo estremecimento de minhas crenças otimistas no amor da humanidade.
Resignei-me e inverti pra dentro o meu olhar.
O ponto final dessa relação veio iminente como sempre foi. Em algum momento dela, eu pensei mesmo que esse fim seria finito. Que não haveria fim. Ou que o fim seria o fim da habitualidade do fim. Pleonasmos desesperados em busca de um roteiro original. E acho que todas as bombas de lágrimas que eu lancei foram de indignação. Esse fim veio. Como aquela parte realista de mim, saberia que vinha. Mas um mundo novo se abriu... E eu tenho me visto coberto de lodo.
Os tempos têm sido confusos... Se eu fosse fazer um apanhado de todas as coisas, esse post não caberia em nenhuma das configurações existentes nesse nosso sistema on line de divulgação da própria vida. O Welligton foi o fim de um período turvo. Mas um novo nevoeiro se anuncia por trás das colinas.
Ontem eu conheci um cara com quem conversava pela internet. Ele veio lá de longe pra me conhecer. Um coroa. Devia ter seus 48 anos. Lidava com artes e era membro daquela religião oriental que tem um nome esquisito. Fazia arranjos de flores e tinha uma visão Zen de tudo. Eu já sabia que não iríamos passar de uma transa furtiva em algum lugar (que foi o que aconteceu), mas de uma hora pra outra, lá estava eu, falando com o cara sobre as minhas teorias absolutistas sobre o comportamento humano diante das relações. Fiquei mais de uma hora divagando eloquentemente com o pobre do coroa sobre a dificuldade de se encontrar alguém sem idealismos que se enquadre nos seus ideais. E quando eu olhava pra dentro de mim mesmo, quase que em busca de reconhecimento, eu via alguém que não consegue parar de sonhar e de manchar com lama a pureza de seus sonhos.
Faz tempo que eu não vejo o Matteus... Outro que manchei com a lama dos meus desvios. E ele era o veículo que me transportava pros sonhos mais vindouros. Atolei-o nas minhas iniquidades. E talvez seja por isso que eu tenho a sensação de que todos se vão na direção evolutiva de algum lugar. E embora eu tenha evoluído, os meus degraus são escorregadios. Aí estou assim... Ligando pro Matteus. Desesperado pra encontrá-lo e pra me redimir dos meus feitos. Sentindo-me ameaçado pela certeza de que ele me viu com esse olhar invertido com o qual só eu tenho o direito de me ver.
Preciso parar.
Acho que tem sido um período grosseiro de mudanças tardias. O meu trabalho se divide entre momentos de glória absoluta e ameaça constante. Eu ainda não consigo ter respeito e honestidade diante das minhas amplitudes sociais. Eu fico entristecido pelo meus pequenos sucessos e ultimamente essa melancolia, que pra minha surpresa começou a ser percebida totalmente pelos outros, tornou-se um obstáculo subjetivo e incômodo.
A escola de teatro está terminando e eu não sei pra onde ela me levou. Comecei com dúvidas quanto a ser ator, e agora estou com mais dúvidas ainda. E acho que nessa selva de vaidades e presunções, eu sou uma potência mínima que não tem energia bélica pra se jogar no meio dessas disputas de egos inflados.
O Mário de Oliveira disse que eu tenho uma "falsa humildade". Pensei sobre isso e acho que até certo ponto ele tem razão. Não que eu seja um falso, mas aceito que a minha humildade pra com os outros e pra com as coisas é uma proteção. Acho que pra mim, mais importante que achar que ganhei é ter certeza que os outros compreendem a minha vitória. E acho que a humildade se caracteriza muito nisso também. A humildade abre portas pra possibilidade de erro. E amacia o impacto deles. Quase sempre, a prepotência desperta asco em quem encherga os erros dos prepotentes... Mas eu não ambiciono a personificação da bondade. Eu já pensei em saídas pra apatia. Mas eu não vislumbro o equilíbrio entre os extremos da personalidade.
Até escrever tem sido difícil. Meus supostos talentos vão se desintegrando aos poucos e eu reajo à crítica me identificando com ela. E tenho horror de me sentir bom em alguma coisa que na verdade, todos me acham ridículo. Careço da segurança da auto-suficiência. Sou um ator amorfo, um escritor inseguro, e um inteligente culpado. Até meus textos do Cotonete começaram a balançar no meu conceito de otimidade.
Eu reclamo de barriga cheia. E não preciso de muito esforço pra enchergar as oportunidades de auto-avaliação que eu desperdiço com pessimismo. De algum jeito, a minha visão lúdica do mundo me faz enchergar com nuvens, um céu claro. A fantasia que por sí só já caracteriza alienação das coisas práticas, também traz um sentimento de praticidade que obscurece a vontade de se permitir à continuação do sonho.
Preciso brecar minhas analogias sobre sonho e realidade.
Preciso começar a falar sobre nada. Não espero que os outros entendam que não são lamúrias reclamativas. Eu sei que tudo não passa de externação de percepções. Esse caminho de auto-conhecimento pelo qual a vida está me levando, têm sido muito importante e eu nunca o percebi tão completamente como agora. Mas todo processo de descoberta tem um resultado final que nem sempre corresponde ao que estamos preparados pra saber.
Eu me entendo olhando pra trás.
Me disseco agora.
E temo por mim ali adiante.
Dobrado Por Henrique Haddefinir às 17:40
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