Domingo, 23 de Outubro de 2005
Debora, Eu, Mariana Tiago e Éder (O carão te dá seu lugar ao Sol)Eu, Éder e Tiago, no cartaz do nosso próximo filme: "E aí, Cadê?" (depois do grande sucesso de:"Pois é, então!"Tiago mostrando o poder de suas pregas vocais (!). Alguns instantes depois, um incrível êxodo causou o fim da festa...Yuri (editor do jornal da escola, pra onde escrevo) e sua namorada.Tiago, Mariana e Eu (mostrando o poder das camponesas holandesas... embora Mariana faça a linha "hippie descontextualizada")Selma Rocha e a Presidente da Fundação de Cultura, Mara Fróes (personagens de uma história que se esbarra, mas que estão situados num Olimpo reverso que quase ninguém alcança). A Carolina Sá também tá aí (???)Josiel, da Oficina I (bonitinho, né?). O recado pras moças da foto abaixo também serve pra ele.Rosana (futura colega de elenco e dona da máquina fotográfica) e Carla da Oficina I. Ainda não as conheço bem, e tudo tem conspirado pra que isso seja uma árdua tarefa. Mas eu primo pela perseverança. Meu chefe Caio Bastos (Até onde agradecê-lo e até onde me desculpar com ele? Sempre somos todos um exercício constante de flexibilidade, crença e bom senso)Padre João e Carlos Henrique Pimentel (meu xará e figura imprevisível e indispensável de nossa passagem por essa terra)Meu amado diretor, Mário de Oliveira, junto com o pessoal da Oficina IO casal Ritchelli e Marcela, junto com Norma
Sábado, 22 de Outubro de 2005
"Cuidem-se os apaixonados, afastando dos olhos a poeira ruiva que lhes turva a vista"
Eu comecei a ler Raduan Nassar por causa dos meus amigos aqui do teatro. Há entre eles, um exercício quase constante de adoração à esse excêntrico escritor. Um cara que escreveu três livros na vida, foi aclamado pela crítica e depois desistiu de continuar a carreira... E o cara escreve bem... Ao menos o "Lavoura Arcaica", ele escreve bem. É uma escrita polêmica! Com uma história simples ao extremo, ele vai conduzindo o leitor por um emaranhado de palavras bonitas, em orações arquitetônicas, num show de metáforas poéticas, numa linguagem verborrágica que prima pelo poder da palavra muito mais do que pelo significado dela. A história do sexista André vai nos levando por um caminho de absoluta crueza humana e por pouco, não perde, por causa de tantas palavras bonitas, sua essência mais importante e interessante: o quanto nós, seres humanos, transformamos em justificativas lúdicas, tudo aquilo que nos ameaça e nos incomoda. E o André (que foi vivido no cinema por Selton Mello, no burocrático filme do Luiz Fernando Carvalho), é um espírito comandado pelo próprio sexo. Seus ímpetos luxuriosos por tudo que possa representar conforto físico é quase avassalador! Os irmãos, a irmã, as cabritas, os próprios punhos, e até o pai (se me arrisco à uma psicologia rasteira), representam os símbolos da sexualidade sufocada do rapaz. O contexto rural e isolado em que vive também ajuda nessas projeções, mas o mais fascinante a respeito do André é como ele transforma tudo isso em poesia! Mesmo quando se condena a filho do Demo, ele o faz com absoluta precisão poética! Suas experiências não se contradizem às de muitos outros rapazes interioranos que venham a permear a mente de algum outro autor, mas no caso do André, ele transforma toda a ebulição de sua juventude em verbo. Numa maneira precisa e inacreditável de descrever seus sentimentos.
Literalmente falando, o livro não é o melhor programa pra quem gosta de se surpreender com os rumos de uma história. O livro é sobre a beleza da palavra. Nada mais. Os artistas ou aqueles que escondem essa condição é que mais vão se emocionar com as páginas. Numa linha de narração enigmática, que te deixa livre pra entender como quiser os momentos narrados, Raduan passeia entre as interpretações meramente etéreas até aquelas mais consistentes, que encontram milhões de razões e motivos pra que os personagens se comportem daquela maneira. Os mais sensíveis (e eu me lembro do trecho que diz "ai daquele, mais lascivo, que tudo quer ver e sentir de modo intenso, terá as mãos cheias de gesso, ou pó de osso, de um branco frio ou quem sabe sepulcral (...) acaba por nada ver, de tanto que quer ver, acaba por nada sentir, de tanto que quer sentir..."), e os mais sensíveis são sempre os maiores fãs do livro, acabam por chapar a história e os personagens à uma condição lírica que afasta-os da verossimilhança e os condena ao simples argumento para a poesia literal. O livro de Raduan Nassar acaba não sendo sobre a vida daquelas pessoas, mas sim sobre como ele descreve a vida daquelas pessoas. Não é sobre André e Ana, mas sobre as frases belas e efeituosas ditas e descritas por eles (Ana nem fala nada, na verdade). Ouça uma citação ao livro e perceba que ela vai estar diretamente ligada às metáforas e analogias nebulosas dessa escrita e quase nunca, ligada às ações ou reações dos personagens.
"Lavoura Arcaica" (um título que gosto muito, aliás), é uma espécie de "manual de sensibilidade artística" e não vê-lo dessa maneira é considerado quase um crime por seus amantes. A cortina de lirismo do livro, que esconde um comportamento lascivo de toda uma família que vive debruçada sobre o sexo e a hipocrisia, é a única coisa levada em consideração pela maioria de seus leitores mais inflamados. O livro é um roteiro de belas imagens (captado muito bem, nesse sentido, pelo Luiz Fernando Carvalho) que dá um leque muito interessante de possibilidades que quase sempre são ingnoradas em nome da beleza (o filme infelizmente também segue essa linha). E os momentos finais, que nos presenteiam com um desfecho nada surpreendente, porém apropriado, se confundem ao extremo de todas essas nuances. O clichê da "história que se reconta" (no irmão Lula) e do castigo pelo maior pecado (com a única reação realmente forte de toda história: A do pai diante da revelação incestuosa), são usados sem pudor. E cumprem seu papel. E embora haja uma incômoda irritação adolescente nos argumentos de André (presente sobretudo no belíssimo diálogo final entre ele e o pai), ele ainda é a melhor descrição do nível de auto-conhecimento que alguém pode ter de sí mesmo. Talvez fosse arriscado dizer que "Lavoura Arcaica" é sobre liberdade. Esse é, sem dúvida, o pretexto que todos os artistas procuram nessa literatura, para desenfrear seus impulsos. Até porque, não enchergo nos desejos incestuosos de André, e nem em sua inflamação diante da rotina e supremacia paterna, nenhuma fresta de originalidade. Sua inquietação é corriqueira, com a diferença de que apesar disso, é muito bem expressada! Não. Acho que "Lavoura Arcaica" não é sobre ser livre e honesto com seus sentimentos. Não é sobre suar com os poros da paixão. Acho que o livro é sobre instinto. É sobre irracionalidade. É sobre como enfeitamos de poesia os resquícios selvagens que ainda formam a nossa estrutura. É sobre as condições que formam o caminho pra tomar determinadas atitudes e é, sobretudo, sobre falência. Uma bela e emocionante visão da falência. Mas nada mais que isso. Nada mais que um destrutivo mapa do comportamento humano. Vale a pena ler.
Quinta-feira, 13 de Outubro de 2005
Está fechada a temporada de lágrimas e aberta a temporada de sorrisos! Já peguei minha espingarda, vesti minha jaqueta e saí à caça de estados de espírito bem melhores. Não saio dessa floresta sem alguns na sacola. Paixões platônicas sempre se convertem em mágoas pra nunca mais serem limpas. As minhas agora, se converterão em força!
"Eu que já não sou assim, muito de ganhar, junto as mãos ao meu redor e faço o melhor que sou capaz, só pra viver em paz"
Em nome dos dias mais claros!!!!!!
Domingo, 9 de Outubro de 2005
Me conta como é que as coisas que sentimos juntos morreram em você, porque em mim eles não morrem de jeito nenhum...
Eu hoje estou sentindo os mais profundos sentimentos de tristeza que alguém pode sentir. Num reverso conceitual que se perde entre a depressão e a angústia. Eu hoje queria, como nunca quis, que o tempo fosse mesmo o anjo do homem (como disse Schiller) e que eu acordasse de um sono longo, etéreo, com aquela sensação nostálgica de prazer temporal, como nas vezes em que era obrigado a dormir de tarde quando criança, e acordava com o pôr do sol, numa tarde clara, e via, cheio de uma sensação indescritível de leveza, tudo que era afetado pelos ventos daqueles anos tão ternos e tão lúdicos. Eu hoje queria dormir assim e não pensar em mais nada. E não chorar mais nenhuma gota. E não lamentar mais nenhum segundo, a minha triste e equivocada existência.
Não vou mais escrever post's sobre esse ciclo infinito de relacionamentos equivocados. Não vou mais traçar paralelos sobre os meus psicologismos. Não quero mais encontrar razões funestas pras estatísticas que permeiam as minhas experiências de vida. Eu não quero mais analisar. Não quero mais escrever bem sobre o que sinto. Nem quero mais sentir nada. Eu só queria entrar num estado de catatonia. Interromper a aplasia que retardou as minhas possibilidades de ser feliz. Eu queria ser selvagem e não racionalizar mais! Queria ser burro. Torpe. Ingênuo... ou qualquer que seja a condição que nos afasta do compromisso com a sensatez e a emocionalidade. Eu não quero mais ser quem eu sou...
Eu queria um estado de abdução que me levasse lá pras terras longíncuas do "não espero por nada". Lá pras areias frias do "não preciso de ninguém". Dentro do núcleo amorfo do "quem não me quer não me merece". Eu queria uma passagem sem volta pra lá. Uma fuga hollywoodiana em direção a esse sonho. Uma travessia ilegal muito arriscada pela passagem ínfima que poucos conseguem atravessar. Eu dava tudo por um green card em direção a esse cume! Num veículo indeterminado que ia me transferir dessa minha terra inóspita das "pessoas que sentem tudo". Eu vou me anestesiar. E vou conseguir não sentir mais nada. Num metabolismo anormal que tornam ausentes as dores da alma, impondo hematomas selvagens com as dores do corpo.
Eu vou passear tranquilo por bosques secos. Fincar meus pés numa terra árida e asfixiante. Sentir o vento abafado no meu rosto sujo. Num bosque cheio de troncos partidos e mortos. Em plantações mal sucedidas de flores entorpecentes. As minhas mãos vão estar cheias de sementes podres. Eu vou caminhar por entre hortas de expectativas que eu plantei, e que agora vou matar.
Ninguém mais conseguiria chegar até mim. E essas minhas tardes mortificadas de tristeza não seriam mais o troféu da conquista de sujeito algum. Eu desenvolveria um aguçado sentido de auto-suficiência. Eu não precisaria mais pensar sobre mais nada. Eu entraria em choque com a natureza do "estar junto" e seria pra sempre o veículo de dissiminação do "sozinho acompanhado". Eu talvez fosse feliz...
Hoje pela primeira vez na vida eu me declarei pra alguém! Como estamos no século 21, não fiz isso por meio de cartas poéticas em letras enfeitadas. Fiz isso sem abrir a boca (sem tornar tudo real), teclando inflamadamente num veículo complicador que chamamos por aqui de "Instant Messenger". O curioso é que mesmo com a crueza da tecnologia, entre símbolos e figuras coloridas, as palavras de um apaixonado ainda soam ridículas e nada retóricas. Carentes de lacônica. Cheias de zelo, carinho e devoção... Hoje eu lancei no vento toda a larga extensão angustiada dos meus sentimentos por alguém. E recebi de volta uma lufada fria de toda larga extensão determinante e indiferente desse mesmo alguém. Um incentivo cruel ao desamor. Um conselho ácido sobre nunca gostar das pessoas. Um dado deprimido e enfiado no meu bolso de metáforas pobres e melosas sobre a vida.
Eu me disse apaixonado. E soou estranho até pra mim. O alívio na frase escrita provavelmente seria o mesmo se falada. Mas o significado concreto do que nos remete à paixão, perdeu-se no significado abstrato do que provoca a fuga dos que não compartilham desse ardor. Foi uma declaração pra ninguém. Um coração pra nenhum abrigo. Uma frase que se registra eternamente na memória de um HD compartilhado com outros tantos que pagam por ele. Eu implorei a Deus pela natureza romântica da entrega. Mas ele antes já atendia pedidos de seca.
Meu reino por mais um minuto ao lado dele.
Minha vida pra que esse minuto passado, me leve ao sono citado.
Hoje eu queria dormir pra esquecer dos meus amores perdidos e não conquistados.
Hoje eu queria fingir que não sou quem eu sou.
Hoje eu queria não ter vergonha do meu rosto triste e ressecado. Queria que todas as forças do universo trabalhassem numa força transformadora que tornassem reais todos os meus sonhos de amor mais fantásticos! Hoje tudo que eu queria era que ele gostasse de mim... Deus do Céu, como eu queria! E todas essas análises tolas caem por terra em nome disso.
Que as palavras que falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor
apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Que a minha vontade de ir embora se transforme na calma e paz que mereço
que a tensão que me corrói por dentro seja um dia recompensada
Que o medo da solidão se afaste
e o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável
que o espelho reflita meu rosto num doce sorriso que me lembro ter dado na infância
Que a minha loucura seja perdoada
pois metade de mim é amor
e a outra metade também
Oswaldo Montenegro
Domingo, 2 de Outubro de 2005