Quinta-feira, 30 de Junho de 2005
The Distance To Here
Lançado em 1999 pela Radioactive
01. The Dolphin's Cry
02. The Distance
03. Sparkle
04. Run To The Water
05. Sun
06. Voodoo Lady
07. Where Fishes Go
08. Face And Ghost
09. Feel The Quiet River Rage
10. Meltdown
11. They Stood Up For Love
12. We Walk In The Dream
13. Dance With You
Edward Kowalczyk : vocal
Chad Taylor : guitarra, backing vocal
Patrick Dahleimer : baixo, backing vocal
Chad Gracey : bateria, percussão, backing vocal
*Crítica
O som do disco segue aquela velha máxima: mais do mesmo. aquela conhecida fórmula de mistura hard-folk-pop com letras filosóficas e politizadas, que já caracteriza a trupe de Ed Kowalczyk. Só que é um pouco mais variado: rocks possantes ("Sparkle" e "The Distance", esta com um inesperado solo de cravo), belas baladas (as maravilhosas "Run To The Water", "Face And Ghost" e "Dance With You"), grooves bem sacados (em "They Stood Up In Love") além de outras muito boas como o hit "The Dolphin´s Cry" e "Where Fishes Go". A única pisada na bola foi na chatinha "Sun". E vale também ressaltar a produção do glorioso talking head Jerry Harrison.
O disco dispara como um dos mais geniais da história da música e junto com Throwing Cooper, formam os melhores momentos da bela carreira do LIVE.
Acabei de falar com a minha mãe pelo telefone. Ela lá no hospital e eu aqui no trabalho.
De todas as tristezas, eu não sei qual é a pior. A Flávia me explicou que a voz dela (distante e muito baixinha) estava daquele jeito porque ela estava dopada. Na noite anterior, havia ficado nervosa e a pressão subiu muito mais que o normal. Mas aquela voz... aquela voz desprovida de certeza. Todos esses dias eu estive oscilando entre um completo desnorteamento e uma culpa mais absoluta que as culpas de Eva. Nunca as mentiras que contei pra ela doeram tanto. Nunca as vezes em que a enganei em meu próprio benefício me fizeram tão mal... E a culpa é o que de pior pode haver no organismo e mente de uma pessoa. A culpa é como se fosse um ácido! Eu me lembro de uma vez, há muito tempo, naquele tipo de memória que a gente guarda sem saber exatamente porque, quando eu estava nos preparativos de uma festa pra uma amiga. Eu devia ter uns 12 anos. E nós íamos pintar as lembrancinhas que havíamos feito com papel. A tinta seria uma tinta velha que a minha amiga Lila tinha encontrado nas coisas do pai. Levamos um susto quando, assim que demos a primeira pincelada, a tinta corroeu o papel pouco a pouco. Como naqueles filmes de efeitos especiais em que as criaturas de outro planeta derretem depois de mortas. Como os aliens do Arquivo X... Acho que é assim que eu estou. Acho que é assim que meu cérebro está. Derretendo. E no rótulo da tinta velha do pai da Lila, devia estar escrito: CULPA.
Os filhos às vezes são criaturas pérfidas!
Eu sempre chorei quando me lembrava do dia em que eu estava indo ao Circo e queria uma grana pra gastar no caminho. Minha mãe não tinha e eu fiz cara feia. Quando estava quase saindo, ela me chamou, envergonhada, e me estendeu quatro notinhas que mal davam pra comprar uma pipoca. Eu me neguei e saí sem olhar pra trás. Ela chamou uma amiguinha minha e deu o dinheiro a ela. No final da noite, a pipoca mais gostosa que eu comi na minha vida foi comprada com aquele dinheiro... E eu nunca me esqueci disso. E nunca me desculpei com ela pela minha arrogância. Ela sempre tirou de onde não tinha, qualquer coisa que eu precisasse. E isso nunca foi o suficiente pra mim... E isso é tão estúpido! Hoje essas lembranças vão me fazer chorar muito mais. Vão me machucar. Porque eu nunca fui capaz de me redimir. Chega a ser imbecil. O velho texto do filho culpado, incapaz de reconhecer o valor dos pais enquanto eles estão bem. Eu não queria que fosse assim.
Ela vai ficar bem. Esse não deve ser um "post póstumo". Deus nos dará mais tempo. Talvez eu consiga falar com ela daquele dia. Do dinheiro da pipoca que eu rejeitei. De quando eu peguei dinheiro da sua bolsa e depois neguei até fazê-la sentir-se culpada por me acusar. De quando inventei uma amiga pra sair com um namorado. De todas as coisas idiotas que eu fiz apoiado na certeza de que sua condição de mãe perdoaria tudo! E sei lá... acho que no fundo ela nem merece ficar sabendo disso tudo. Não tenho o direito de despejar minhas culpas. Não tenho o direito de vomitar essas redimições pra melhorar desse enjôo. Eu não posso induzí-la a me fazer sentir melhor. Eu não tenho que me sentir melhor. Eu tenho que deixar essas culpas circularem pelo meu organismo. Mesmo que elas virem um câncer. A auto-flagelação sempre foi uma eficiente arte milenar. E embora eu não seja do time que amarga o fel da vida pra sempre, essas culpas eu preciso sentir por muito tempo. É o preço por todas as minhas faltas. Contando que a sensibilidade maternal reconheça-a através dos meus poros e perdoe.
O perdão é o clichê da vida que a gente não representa.
Terça-feira, 28 de Junho de 2005
The Bends
Radiohead
Where do we go from here
The words are coming out all weird
Where are you now, when I need you
Alone on an aeroplane
Fall asleep on against the window pane
My blood will thicken
I need to wash myself again to hide all the dirt and pain
Cos I'd be scared that there's nothing underneath
But who are my real friends
Have they all got the bends
Am I really sinking this low
My baby's got the bends, oh no
We don't have any real friends, no, no, no
Just lying in the bar with my drip feed on
Talking to my girlfriend, waiting for something to happen
I wish it was the sixties,
I wish I could be happy
I wish, I wish,
I wish that something would happen
Where do we go from here
The planet is a gunboat in a sea of fear
And where are you
They brought in the CIA, the tanks and the whole marines,
To blow me away,
to blow me sky high
My baby's got the bends
We don't have any real friends
Just lying in the bar with my drip feed on
Talking to my girlfriend, waiting for something to happen
I wish it was the sixties,
I wish I could be happy
I wish, I wish,
I wish that something would happen
I wanna live, breathe
I wanna be part of the human race
I wanna live, breathe
I wanna be part of the human race, race, race, race
Where do we go from here
The words are coming out all weird
Where are you now when I need you
AS DOBRAS * Radiohead
Pra onde iremos agora em diante
As palavras estão saindo todas estranhas
Onde está você agora, quando eu preciso de você
Sozinho num avião
Adormeço sobre a vidraça
Meu sangue fica mais grosso
Preciso me limpar novamente
Pra esconder toda a sujeira e dor
Pois eu ficaria assustado
Não há nada por baixo
Mas quem são meus verdadeiros amigos?
Todos eles sentem as dobras?
Estou afundando tanto assim?
Meu amor sente as dobras, oh não
Não temos nenhum amigo de verdade, não, não, não
Parado no bar, com goteiras sobre mim
Falando com minha namorada
Esperando algo acontecer
Queria que fossem os anos 60
Queria poder ser feliz
Queria, queria
Queria que algo acontecesse
Pra onde iremos agora em diante
O planeta é um canhão em um mar de medo
E onde está você
Eles trouxeram a CIA
Os tanques, toda a marinha
Pra me soprar, pra me soprar na altura do céu
Meu amor sente as dobras
Não temos nenhum amigo de verdade
Parado no bar, com goteiras sobre mim
Falando com minha namorada
Esperando algo acontecer
Queria que fossem os anos 60, queria poder ser feliz
Queria, queria, queria que algo acontecesse
Eu quero viver, respirar
Quero ser parte da raça humana
Eu quero viver, respirar
Quero ser parte da raça humana
Pra onde iremos agora em diante
As palavras estão saindo todas estranhas
Onde está você agora, que eu preciso de você
* Obs: Na realidade "The Bends" significa as dores que uma pessoa sente ao emergir da água.
Tô levando um surra pra aprender a mecher nisso aqui.
Me comprometi a escrever nesse negócio e agora vou ter que cumprir.Não vou poder me estender como eu sempre gostei de fazer. Eu estou num cyber que cobra quatro reais a hora e meu orçamento não está dos melhores nesse final de mês. Aliás, nada está muito bem nesse final de mês...O derrame da minha mãe foi a pior coisa que podia acontecer na minha vida e mesmo agora, em que ela melhorou em seu estado mais crítico, a minha cabeça mergulhou num oceano infinito de constatações e medos. Uma completa oscilação entre ficar, me responsabilizar, fugir, me redimir, gritar... Só precisamos de um minuto na vida pra perceber que tudo muda. Eu gostaria de deter nas mãos a ampulheta que quando vira, deixa escapar alguns grãos de areia que reverberam na nossa capacidade de lutar contra o tempo. O Mario Quintana dizia que o tempo é a insônia da eternidade e nunca isso foi tão apropriado! Insônia é o que permeia minha cabeça mesmo nas horas do dia. Insônia em seu significado mais arrastado... insistente... Aquela sensação de que as horas não passam. Embassam a vista. Revertem os focos. Impossível lutar contra ela quando o sono caracteriza a vontade de voltar a sonhar. Acho que foi isso. Eu acordei. Percebi que o dia não era tão lindo e brilhante. Eram todos traços abstratos de uma pintura bem quista. Eu queria de volta a inconsciência... E não é estranho que esse seja o estado contra o qual a minha mãe tanto luta naquele hospital?
"
But the truth is stranger than fiction..."
Acabei de criar esse blog e estou aqui diante dessa tela pensando o que é que eu vou colocar nele...Eu não sou muito ligado nessas coisas de internet. Nem tenho computador na verdade. Os termos da nova sociedade on line ainda me parecem todos muito distantes da minha realidade. Não que eu seja um velho! Reacionário! Pelo contrário. Tenho muitas ressalvas a fazer sobre essa gente que brada aos quatro ventos que o que é melhor é o que está mofado com o lodo dos prefixos abaixo dos mil e novecentos. Mas é que as coisas chegaram mais tarde pra mim.Eu ainda escrevo cartas! Ainda colo os selos com colinha de colégio e vou religiosamente ao correio postá-las. Sei o nome da mocinha que me atende e volta e meia ela tenta me empurrar os aerogramas de aniversário e de datas comemorativas.Eu ainda tenho uma máquina de escrever! Tudo bem que ela não funciona bem. Mas se não houvesse esse computador aqui do meu trabalho, possivelmente ela seria a solução para as correspondências da minha vida. Pra tudo que eu precisasse expressar com palavras. Uma vez que meus dedos não são muito bons com elas. Ainda tenho diários! Nada daquela coisa com cadeadinho e chavinha. Sim... admito, tenho alguns daqueles da época de adolescência que eu volta e meia enchia com versinhos de amor e recortes de revista. Um dia a revista "Carícia" já foi a minha bíblia! E aí vocês (leitores voyeristas de um diário exibicionista), se perguntam: quem é esse garoto que lia "Carícia"? Pois é, mais um aspecto sobre mim que talvez seja necessário esclarecer. Eu sou "sexualmente ambivalente"! (adoro essa frase que o Josh Charles diz no "Três Formas de Amar"). Isso ou gay. Gay também é uma palavra que serve bem pra me definir. (Depois de ter lido "As Pessoas dos Livros" da Fernanda Young, eu ando com um certo conflito com as palavras e seus significados). E por favor, não que eu esteja dizendo que os garotos que liam a revista "Carícia" fossem todos gays. Não é isso!!! Mas é que eu já perdi há muito tempo o compromisso com a omissão.Disseram pra mim que um blog era uma boa maneira de falar sobre mim sem precisar escrever num diário. Óbvio que imediatamente eu fiquei pensando sobre quem seria o tipo de pessoa que escreveria num blog tudo que se passa em sua cabeça e sua vida. Me lembrei de todas as vezes em que eu olhei desconfiado para um blog adolescente que trazia todas as viagens de férias da garota e suas amigas e de todas as confissões chocantes do pseudo-escritor que vê nisso uma chance de exibir seu talento... Talvez seja esse o meu caso. Até onde eu estaria indo ao encontro do "esperado padrão comportamental contemporâneo", se eu fizesse um blog? Percebi que eu estava sendo infantil. Por que não assumir que eu queria mesmo experimentar esse negócio? Talvez eu me descubra um grande escritor de blogs e sacie assim a minha insaciável vaidade que insiste em querer provar que eu estou nesse mundo pra muito mais que uma vida imperfeita de rotinas e angústias.Ainda nem sei se vai funcionar.Acho que no fim das contas, tudo é uma tentativa de vomitar sentimentos. Todo mundo tem tanto pra falar e tão poucos pra ouvir. Vamos ver no que vai dar.Eu ando triste por essas horas. Mais tristezas pra as que eu já tenho de estimação. Talvez não seja o melhor momento pra começar. E talvez sim...