Como que num pesadelo se tornando real, Dicesar foi eliminado ontem e deixou Dourado na casa para viver o absurdo de sua vitória. É bem verdade que o roteiro imprevisível do BBB esse ano foi impressionante. Depois de uma longa seleção, o programa passa a ser protagonizado por um ex-participante que ganha a chance de tentar novamente. Como ele não é bobo nem nada, fez o santinho consciente e preferiu a diplomacia em detrimento de seu comportamento absurdo quando entrou pela primeira vez.
A homofobia relutante foi seu maior trunfo. Ciente de que teria o julgamento de Dicesar e Serginho em grande proporção, deixou seu preconceito fluir tranquilamente e então depois do resultado, a culpa e o choro, comovendo o público. Não poderia haver estratégia melhor e de fato ele merece ter chegado onde chegou, como jogador. Porém, é uma pena que a produção do programa, que Boninho (em sua postura ridícula de "multiplicador de valores"), não tenham percebido que a televisão hoje em dia é um veículo formador de opinião. Que a televisão influencia. E que era uma grande irresponsabilidade ignorar o tamanho do problema que estava sendo criado ali.
Dourado não é uma má pessoa? Tenho certeza que não. Mas ele tem preconceitos? Tem sim. Estavam todos ali. Gritando. Em sua declaração de que heterossexuais não pegam AIDS. Quando ele levantou da mesa enojado pela conversa gay à mesa. Quando Bial fez uma brincadeira sobre Dicesar e ele se amarem e ele ficou extremamente nervoso. Quando ele pediu que Dicesar fosse homem "apesar de ser veado". Enfim, por mais que as pessoas simpatizem com ele, não poderiam ter ignorado isso. Todos esses episódios eram suficientes para eliminá-lo? Sim! Porque é uma leviandade considerar apenas o carisma dele e a personalidade confusa de Dicesar como tópicos para eliminação. Implícito nesse paredão, havia uma disputa entre a liberdade sexual e o preconceito. E o preconceito venceu. Porque Marcelo Dourado vai sair dali como o supremo guerreiro que lutou contra as forças da diversidade sexual. Eu e você pensaremos assim? Não. Mas aquela parcela da população que defende a supremacia heterossexual, vai pensar sim. E é essa parcela que precisava ser atingida pela eliminação de seu representante. Não a minoria gay, que depois de tanto tempo tentando ultrapassar barreiras, é obrigada a sofrer a humilhação de ver seus defensores sendo destituídos um a um.
O pior agora é aguentar a Lia achando que está certa.
Pior final do BBB de todos os tempos. Não faço a menor questão de ver. E não verei. BBB Edição 10 para mim, acabou aqui.
Aqui no link abaixo a coluna do Maurício Stycer que também falou brilhantemente sobre o ocorrido.
http://mauriciostycer.blog.uol.com.br/arch2010-03-28_2010-04-03.html