- Eu vou descobrir agora, se eu vou me arrepender pro resto da vida, como todo mundo disse que eu ia me arrepender, ou se eu vou pensar: quis fazer, fui lá e fiz.
Foram com essas palavras, e uma expressão de desconforto, que Elenita deixou o BBB ontem a noite. E enquanto eu assistia sua saída, começava a me dar conta do quanto era ruim que uma participante como ela deixasse o programa, para que pessoas como Sérgio ou Fernanda continuassem lá dentro. Não que não mereçam. Acho que ninguém entra lá impunemente, mas perfis como os deles já povoam boa parte da seleção e não fazem falta no saldo final. Já Elenita não. Ela subverteu as coisas e no âmago de sua frase final diante de Pedro Bial, reside um tópico que vale a pena ressaltar.
Tivemos poucos intelectuais no programa. Acho que a procura sempre foi pouca. O perfil principal dos participantes e os destinos deles aqui fora, sempre serviram pra dar ao reality uma cara de “expressão vulgarizada da fama”. Na minha mente agora surgem apenas Estela (bbb1), Jean Massumi (bbb3), Marcelo Arantes (bbb8) e Jean Willys (bbb5), esse último sendo o mais próximo do estereotipo do intelectual e também o que mais soube se aproveitar de suas qualidades para se manter até o fim. Marcelo Arantes foi um dos que subverteu as regras internas da casa. Os participantes vivem num clima de guerra fria, tentando calcular sempre os reflexos de suas atitudes aqui fora. Tentando encontrar artifícios para fazer com que suas antipatias naturais sejam justificadas. E Marcelo foi quem traiu essa regra pela primeira vez. Cavando discussões para que pudesse dizer abertamente as coisas que todos pensavam daquelas pessoas, mas que nunca diziam. O problema foi que ele deu um tiro no pé. Pecou por orgulho. Tinha naturalmente uma personalidade vaidosa e começou a achar que estava acima de todos. Não preservou alianças e símbolos de amizade e tornou-se um vilão da Disney. Sem coração. Sem sutileza. Sem camadas de suavidade. Algo que talvez a Elenita tivesse conseguido fazer melhor do que ele. Ela, numa proporção menor, tinha a mesma conduta de não mascarar suas antipatias e expor suas análises. Na maioria causticantes. Sua abordagem era menos teatral do que a de Marcelo. Ela não preparava suas reações. Simplesmente as tinha. E certa de que a subversão era importante para uma participante como ela, Lena não poupou atitudes de choque contra os participantes. Escolher Fernanda para a tarefa do monstro foi uma paulada em todos que absorvem de imediato a “ética da casa”. Ética que ela sabe que só existe enquanto covardia. Mas que não se deve negar que é importante levar em consideração. Algo que nem vamos vir a saber, na verdade. Infelizmente, quando sentiu-se pressionada pela reação dos outros, Lena lançou mão de sua porção dramática e encenou sua indignação em um ato de fraqueza. Escolheu o pior caminho. Mas também o único, já que jamais retornaria de sua decisão indo desculpar-se com Fernanda aos prantos, como fariam outros em nome da “ética do espectador”.
O maior inimigo dela era sua própria necessidade de reafirmação de suas qualidades intelectuais e físicas. Disfarçadas de superioridade. Lena tem aquela indiferença fingida a respeito do que os outros vão dizer. Protege sua baixa auto-estima com um escudo verbal. Mas fica o tempo todo atrás de aceitação. Provavelmente, no fundo, tinha esperanças de que ser vista pelo Brasil no BBB, traria a ela uma fatia maior dessa confortável sensação de ser aceita. Uma necessidade tão imensa, que ela luta pelo direito de aceitação dos outros. Luta por uma causa que nem é dela, porque sente-se profundamente identificada com a posição das minorias. Dos que não precisam se esforçar para serem reconhecidos. E por mais que enfeite com duelos verbais suas inseguranças, elas a esmagam e anulam toda sua credibilidade. E era assim que era vista dentro da casa. Como a intelectual esmagada pelo próprio desconforto estético. Deixando com que essas inseguranças viessem à tona mesmo quando ninguém tocava nelas. E perdendo a capacidade de lidar com esse conflito, permitia que suas ações fossem julgadas com base no recalque e no ressentimento.
Em algum momento, o espectador comprou essa versão. Validou as capengas visões analíticas de Lia. Reconheceu como apta a possibilidade de que Lena fosse uma antagonista antipática, uma jogadora agressiva, uma feia em constante negação. Quando na verdade, Lena era uma antagonista necessária, uma jogadora consciente, quente, intensa. Lena era uma espectadora dentro da própria película. Era bela e nem sabia. E vai fazer muita falta daqui por diante.